A mudança do formato dos conteúdos e dos canais, imposta pela afirmação de novas tecnologias e de plataformas como o streaming ou o Video on Demand (VoD), foram o ponto alto do painel New Media, Sports and Entertainment, no terceiro dia do Portugal Digital Summit, num debate que juntou TVI, SIC, SAPO e HBO Portugal.

Veja a transmissão em direto do Portugal Digital Summit com o SAPO

“Este é um ano muito difícil e desafiante para todos”, sublinhou Nuno Santos. Perante as circunstâncias da pandemia, a relevância da TV é imensa, mas os meios para produzir são agora menores, dado à redução de 95% das receitas da publicidade. O responsável revelou que, quando chegou à TVI, tinha em mente toda uma estratégia de relançamento do canal que se teve de alterar completamente. “Foi preciso reinventar tudo”.

“Poupar no acessório e investir no essencial” passou a ser o mote perante a incerteza e, nas palavras de Cristina Vaz Tomé, é preciso “muito foco e resistência para sobreviver”. Mas para a Administradora da SIC e Impresa Publishing uma coisa é certa: a TV é um “porto de abrigo” para as pessoas, seja para a informação ou para entretenimento, e nesta fase de adversidade, o espetador não pode ser penalizado.

Se, por um lado, o panorama atual não é o mais favorável aos canais de TV, as plataformas de streaming como a HBO conseguiram crescer e estima-se que mais de 800 mil portugueses tenham aderido a canais de subscrição.

De acordo com Patrícia Reis, as circunstâncias da pandemia acabaram por ter uma repercussão positiva para a HBO, quer no número de subscritores, quer no volume de conteúdos consumidos. Para a plataforma, o ano já tinha começado bem e, mesmo nos meses mais críticos, “o resultado foi positivo”, indicou a responsável.

Embora a tendência tenha vindo a desacelerar um pouco mais, a Vice-presidente de Marketing enfatizou que a plataforma vai continuar a investir na comunicação digital de forma a fortalecer a sua presença no país e a chegar a uma base de consumidores ainda maior.

A sobrevivência passa pela "criação de conteúdo relevante"

O meio televisivo tem os seus dias contados? Para Nuno Santos, a sobrevivência da TV passa pela criação de conteúdos relevantes. No caso da TVI, o responsável indicou que o que está a ser feito é “olhar para a frente”, tendo sempre em mente o registo de captação dos públicos e receitas, e perceber como é possível chegar a todos os ecrãs, ao mesmo tempo que se cria mais valor.

Já a SIC apostou recentemente a criação do OPTO, um novo serviço de subscrição próprio que “resulta da estratégia de diversificação da marca”, explicou Cristina Vaz Tomé. “[O OPTO] é um OTT com conteúdos específicos (…) para ir buscar os públicos que já não olham para a TV clássica”.

A nova aposta resulta também da internacionalização, para captar, por exemplo, pessoas da diáspora portuguesa que já só falam inglês. Mas não é tudo: Cristina Vaz Tomé revelou que em novembro, a SIC vai lançar também uma plataforma de eSports, com “conteúdos de qualidade com gamers e youtubers” nacionais.

Já Patrícia Reis, afirmou que, para as plataformas de streaming como a HBO, a inovação faz-se em várias vertentes, mas principalmente pela diversidade de conteúdos presentes no catálogo disponibilizado, servindo também como uma forma de diferenciação da concorrência.

“As novas funcionalidades são também importantes”, enfatiza a responsável, pois permitem, por exemplo, “que os consumidores possam aceder aos conteúdos onde quer que estejam”, sendo um aspeto em que a empresa pretende “inovar de forma constante”.

Para já, ao contrário da Netflix, a HBO Portugal ainda não tem uma previsão de quando é que vai começar a realizar conteúdos localmente, mas Patrícia Reis indicou que tem sido feito um “investimento significativo no conteúdo português” para dar mais voz aos criadores nacionais.

Embora não se possa manifestar em relação à nova taxa proposta para as plataformas de streaming, a Vice-presidente de Marketing assegura que a empresa está a acompanhar o tema, aguardando por futuros desenvolvimentos. “Cumpriremos aquilo que terá de ser cumprido”.

O impacto dos players internacionais 

As práticas e o domínio dos players internacionais levou o grupo Impresa a pedir uma maior intervenção da Entidade Reguladora da Comunicação, para que sejam criadas regras que permitam respeitar a concorrência. Cristina Vaz Tomé admitiu que a situação é difícil, porque neste âmbito é também necessária uma “ação concertada a nível da Europa”. “Mas é importante estarmos sensibilizados, a nível local, para esta situação”:

Os apoios do Estado aos media estiveram também sobre a mesa de debate e, para Nuno Santos, esta é uma questão que precisa de ser clarificada. “O eventual apoio do Estado a este setor não significa nenhuma capitulação dos órgãos de comunicação social, nem significa que os poderes políticos estejam a comprá-los”.

“O setor é demasiado importante para que os poderes políticos não olhem para ele neste momento em que estamos”, afirmou o responsável, acrescentando que a questão se relaciona também com a própria regulação dos players internacionais, algo que é “tão difícil como parar o vento com as mãos”.

O Diretor-Geral da TVI indica também que é necessário ter em conta os pequenos grupos regionais que estão a ser particularmente afetados. Em linha com Nuno Santos, Filipa Martins relembrou a iniciativa lançada para dar apoio a estes meios.

“O projeto está em curso e em breve teremos novidades”, revelou a responsável. “O SAPO tem um conceito muito claro de que faz sentido fazer parcerias” tendo em vista a colaboração, porque a regulação é uma questão que ainda vai demorar.

SAPO: A adaptação do "nativo digital" ao novo contexto

Fora do mercado da publicidade televisiva, o da digital não apresentou uma retração tão significativa e Filipa Martins deu a conhecer a forma como o SAPO, um “nativo digital” com 25 anos de experiência, se adaptou às novas circunstâncias.

“Temos uma perceção do mercado que nos permitiu fazer uma adaptação em cerca de 2 dias”, afirmou a Diretora-Geral do SAPO. A adaptação traduziu-se no lançamento de uma série de produtos e serviços orientados para o consumidor e que permitissem chegar também a uma nova audiência: desde um espaço de informação dedicado à COVID-19 a rubricas de entretenimento, passando ainda pelo SAPO Voucher.

“Dar tudo por tudo para que não falte nada” ao consumidor é o objetivo que se mantém e Filipa Martins sublinhou que a perspetiva para o futuro é de ir acompanhando o crescimento do digital, um “bolo” onde 60 a 70% dos players são internacionais, algo que também pressiona os meios nacionais e lhes causa dificuldades.

“Somos um projeto de cariz tecnológico e temos a sorte de termos mantido in house uma equipa com muito know how técnico. Temos este «músculo» e capacidade de fazer: isto num setor que evolui todos os anos", explicou a Diretora-Geral, aludindo à evolução da plataforma e fazendo também referência à forma como o Altice Labs tem complementado o crescimento. "Acabamos por ter um acesso de luxo à tecnologia".

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