A pandemia de COVID-19 está a causar um profundo impacto na sociedade e as relações amorosas não são uma exceção à regra. Com as medidas de isolamento social implementadas por governos em todo o mundo, a esfera do amor e da sexualidade humana passa ainda mais para o mundo virtual.
O isolamento levou a um "boom" da utilização de aplicações de encontros. Por exemplo, o Tinder, que recentemente decidiu “abrir” as fronteiras virtuais para que utilizadores de todo o mundo pudessem mais facilmente falar uns com os outros, registou no início de abril um número recorde de 3 mil milhões de “swipes”.
A Match, a empresa-mãe do Tinder e de aplicações como a Hinge, revelou recentemente que os utilizadores nos países mais afetados pela pandemia se tornaram mais ativos do que antes e que a duração das conversas virtuais aumentou de 10% para 30%. À imprensa internacional, uma porta-voz do Tinder deu também a conhecer que, no final de março, o número de mensagens enviadas nos Estados Unidos teve um aumento entre 10 e 15% em comparação com fevereiro. Em países como a Itália ou a Espanha, o crescimento situou-se nos 25%.
O sexting tornou-se ainda mais frequente, assim como as conversas e o envio de fotografias mais “risqué” nas redes sociais. Um recente relatório da Khoros divulgado pela imprensa internacional dá conta de um aumento de 384% da utilização de termos como “nudes” ou “dick pics” em combinação com “coronavírus” no Twitter. O BuzzFeed News reporta também um crescimento do número de nudes partilhadas em subreddits como r/GoneWild.
As redes sociais mais orientadas para a partilha de conteúdos NSFW (Not Safe For Work) tornaram-se populares em tempos de isolamento. Por exemplo, os mais recentes dados do Google Trends revelam que o número de pesquisas relativas à plataforma OnlyFans duplicou desde o início de março.
À medida que o nível de desemprego aumenta nos Estados Unidos, cresce também o número de pessoas que encontram na OnlyFans ou no Patreon uma forma de se sustentar através da venda de conteúdo explícito. O Huffington Post revela que, no início de abril, a OnlyFans registou um aumento de 75% no número de criadores de conteúdo, com cerca de 170.000 novos membros diários. Já o Patreon registou 50.000 novos criadores em março.
Como explicar a tendência?
De acordo com a Dr. Helen Fisher, Investigadora do Kinsey Institute, em entrevista à Forbes, o isolamento social vivido por muitos pode levar a um aumento de comportamentos mais sexualmente explícitos nas redes sociais como uma espécie de “escape” da vida real.
A investigadora indica que a tendência pode ser explicada por vários fatores. O crescente nível de stress provocado pela quarentena faz disparar a produção de testosterona, tanto em homens como mulheres, o que leva a uma maior produção de noradrenalina e adrenalina. O resultado é um aumento do desejo sexual na maioria das pessoas.
A “segurança” do mundo digital, no sentido em que não permite o contacto físico entre os utilizadores, leva a que muitos optem por partir para as redes sociais, plataformas digitais ou aplicações de encontros para se expressarem sexualmente. Além disso, agora há também muito mais tempo disponível para fazê-lo.
A investigadora elucida ainda que a atual tendência de expressão sexual online acaba por dar às pessoas uma certa sensação de liberdade. “Elas não podem ir além da simples expressão de sentimentos. Não são obrigadas a se «comprometer» e ter de ir a encontros ou a ter relações sexuais”, afirma Dr. Helen Fisher.
No entanto, há uma tendência paralela ao aumento da expressão sexual online, pois há quem queira arriscar “furar” a quarentena para se encontrar com possíveis pretendentes, forçando outros a ter comportamentos de risco.
Nem tudo é tão romântico quanto parece
Para lá do autêntico "boom" das aplicações de encontros e da partilha de nudes, aumentam também o número de utilizadores a tentar convencer outros de que sair em plena pandemia para um encontro mais “escaldante” é algo perfeitamente normal.
A artista visual Samantha Rothenberg tem alertado no seu instagram para a crescente e perigosa tendência. A artista tem uma coleção de ilustrações baseadas em conversas reais em aplicações de encontros chamada Screenshot Stories, onde retrata as vivências enviadas por vários utilizadores.
Ao website Mashable, Samantha Rothenberg revelou que desde que a pandemia se intensificou, tem recebido inúmeras submissões de pessoas que têm passado por autênticas histórias de horror por se recusarem, por exemplo, a encontrar-se com alguém. Muitas das submissões que Samantha Rothenberg recebe chegam de jovens mulheres que são confrontadas por homens, chegando até a viver situações de assédio virtual.
É verdade que o Tinder, a Bumble e a Hinge têm vindo a alertar os utilizadores para os comportamentos que devem ter em conta em tempos de quarentena, mas os avisos parecem não estar a surtir muito efeito. Recentemente, a artista criou uma petição online para alertar as empresas por trás das aplicações de encontros para a questão. Ao todo, a petição que quer que as aplicações “apertem o cerco” a quem está à procura de escapadelas românticas fora do isolamento, já conta com cerca de 1.800 assinaturas.
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