Todos os dias mais de 1,1 mil milhões de pessoas acedem ao Facebook, onde carregam mais de 300 milhões de fotos por dia e fazem mais de 290 mil atualizações de estado por minuto. No YouTube são vistos mais de 6 mil milhões de horas de vídeos todos os meses e mais de 300 horas de imagens são carregadas por minuto na plataforma. Estes são só alguns números dos muitos dados que são gerados diariamente por uma sociedade cada vez mais digital, onde os analistas concordam que terá sido criada mais informação nos últimos dois anos do que em toda a história da humanidade. E o ritmo está a intensificar-se.

Até final deste ano o tráfico Internet (IP) deverá ultrapassar 1 zettabyte, segundo números partilhados pela Cisco, e a IDC admite que até 2020 o volume do universo digital se aproxime dos 44 zetabyttes, uma previsão que já tem alguns anos e que pode muito bem estar desatualizada.

A este enorme volume de informação convencionou-se chamar Big Data, e o tema tem dominado a atenção das empresas de tecnologia, preocupadas em oferecer às empresas e organizações as melhores ferramentas para gerirem estes dados e transformá-los em negócio e conhecimento, ao mesmo tempo que os utilizadores e as autoridades se preocupam em impor limites à má utilização dessa informação. Ou melhor dizendo, em evitar o cenário antecipado pelo romance Big Brother de George Orwell, onde todos os movimentos dos cidadãos eram observados e escrutinados.

E o “grande irmão” pode ser o Governo, a sua seguradora, as finanças ou o vizinho do lado.

A gestão do Big Data é uma das grandes tendências das TI para 2016 e por isso, no âmbito do trabalho de avaliação dos temas que vão marcar o ano falámos com Rui Gaspar, Diretor de Base de Dados, Tecnologia e Analytics da SAP Portugal, que tem uma visão positiva sobre a forma como a gestão de dados vai ter impacto na vida das pessoas e das empresas.

“De forma crescente, vamos exigir que os dados que disponibilizamos sirvam para sermos melhor servidos”, explica ao TeK, adiantando que “Estamos num ponto em que os computadores já não servem somente de suporte ao funcionamento dos mais diversos processos; eles fazem parte da operativa desses processos e estes não podem existir sem eles. Neste contexto, cada vez mais, todos esperamos que aquilo que uma empresa, organização ou estado sabe sobre nós, seja utilizado nas interações que têm connosco, não só para facilitar o acesso, como também para personalizar o que nos é oferecido ou solicitado”. Por isso as organizações que incorporam o digital no seu funcionamento têm a vantagem de conseguirem exceder as nossas expetativas e tornarem-se, assim, nas nossas favoritas, seja dum posto de vista económico, seja social. 

Mesmo assim, Rui Gaspar não afasta a ideia de que a informação também pode ser usada com más intenções, no tal conceito Orwelliano do Big Brother. Mas garante que não é um problema novo, trazido pelo digital. “Na realidade, esta questão é a evolução natural da regulação que se coloca há muito tempo para a segurança física e, posteriormente, para a segurança nas comunicações”, lembra. Com proteção adicional, já que “enquanto o software incorpora características que garantem a segurança do seu funcionamento e oferecem possibilidades de segurança dos dados, a utilização devida também depende, em primeira instância, da auto regulação e, depois, do cumprimento de normas de ética e legais. “

A tendência aponta para que os próprios utilizadores sejam cada vez mais exigentes, controlando a utilização dos dados e validando se são bem utilizados. “À medida que a utilização de dados e tecnologia é incorporada no funcionamento do mundo social, o sentido de responsabilidade tem tendência a crescer e os vários tipos de utilizadores partilharão informação na medida em que obtenham dela benefícios, numa relação vantajosa para ambas as partes”, admite Rui Gaspar.

A recolha de dados massivos, padronizados e não personalizados, tem também um lado positivo e muitas descobertas médicas e científicas já utilizaram esta informação para descobrir formas de combater doenças, ou simplificar o acesso às cidades, por exemplo, com base em padrões de deslocação. “O Big Data é verdadeiramente útil quando entrega informação, ações e atividades, que oferecem a cada pessoa ou organização o conhecimento da atividade de grandes grupos. Por exemplo, não é só a questão de monitorizar os dados biométricos de uma pessoa continuamente, mas cruzá-los com o histórico de pessoas com semelhantes condições de idade, bem-estar, etc., com a localização e o tempo que faz no momento e, ainda, com eventuais situações de saúde que se verifiquem”, defende o executivo da SAP Portugal.

O “interruptor” pode estar na mão de cada um de nós, validando a quem fornecemos os dados, e que informação queremos partilhar, mas também das autoridades que têm de estabelecer medidas de controlo e validar a sua aplicação.

Mesmo assim será difícil que alguma coisa escape do controle mais rigoroso. Nem que sejam as câmaras de videovigilância com imagens privadas partilhadas publicamente. E não parece haver volta a dar: nada vai impedir que mais e mais informação pessoal se dissemine todos os dias. Quer queira quer não queira, porque viver fora desta rede é realmente muito difícil.

Fátima Caçador