A edição de 2020 do Web Summit, que decorre num formato totalmente digital entre os dias 2 e 4 de dezembro, está quase a começar. Em entrevista à Lusa, Paddy Cosgrave, cofundador e presidente executivo da conferência deu a conhecer os desafios de passar a maior conferência de tecnologia do mundo totalmente para o online.
Questionado sobre os custos da edição de 2020, Paddy Cosgrave referiu rondar "pouco mais de 20 milhões de euros", sublinhando que "o verdadeiro custo é o tempo e o esforço e o número de engenheiros interna e externamente que levaram nove meses a construir a plataforma" online. Ao todo, estiveram envolvidas "250 pessoas"no processo, disse, apontando que "grande parte das filmagens foi feita em Portugal e o evento terá um sabor português".
Relativamente ao pagamento de 11 milhões de euros (oito milhões pelo Governo e três milhões de euros pela câmara de Lisboa) por uma edição que é online, Paddy Cosgrave disse tratar-se de um assunto político. "Não me quero envolver. Acho que é muito importante numa democracia que os partidos políticos levantem estas questões em determinados momentos”. "Mas não quero criticar nenhum dos lados ou envolver-me de alguma forma", trata-se de "um assunto interno", afirmou.
O impacto da mudança da conferência para o mundo digital é também outra das questões que está sobre a mesa. "Dentro de 12 meses verá que estamos abaixo, cerca de 30 milhões" de euros, "acho que havia um risco que o Web Summit" não acontecesse, foi o que aconteceu com os eventos do setor em toda a Europa, "tem sido absolutamente devastador", referiu.
"Obviamente, este é o pior ano da nossa história e teria sido mais fácil cancelar o evento", confessou, salientando, contudo, que "a coisa certa" a fazer pela marca e pela "relação de longo termo, de 10 anos, foi tentar e fazer" a cimeira, "mesmo que fosse mesmo muito difícil".
Sobre as expectativas para este ano, Paddy Cosgrave manifestou-se otimista. "Temos já pré-agendadas mais de um milhão de reuniões" e "espero que o número de reuniões que as empresas portuguesas tenham seja maior que nunca", disse.
Para o próximo ano, o Web Summit terá uma edição híbrida - 'online' e física. "Acho que é uma ótima solução a curto prazo devido à falta de espaço. Não conseguimos tornar o Web Summit maior nos últimos dois anos, estamos à espera que o recinto dobre de tamanho", prosseguiu o cofundador.
"Por isso, teremos um evento híbrido no próximo ano com 70.000 a vir a Lisboa" e expectativa "de muito mais 'online'", salientou. Para Paddy Cosgrave, o próximo grande desafio será trazer "100.000 pessoas a Lisboa", o que será "fantástico", mas que só acontecerá "em 2022 ou 2023".
O papel dos jornalistas e dos estudantes em destaque
Para Paddy Cosgrave, a pandemia de COVID-19 tem sido uma oportunidade para os media tradicionais reforçarem "o importante papel que desempenham", sublinhando que na edição deste ano estão inscritos mais de 2.500 jornalistas.
"Criámos um novo evento chamado Fourth Estate que é para jornalistas, editores, publishers discutirem especificamente as mudanças no setor", explicou Paddy Cosgrave. "Pela primeira vez temos editores e chefes de tantas publicações globais diferentes que irão falar e reunir-se uns com os outros" e "iremos dar continuidade a este evento em 2021, em Lisboa".
Para Paddy Cosgrave, o tema dos media vai ser uma tendência, em especial numa “década incrivelmente desafiante”. “Cada vez mais há antigas plataformas de media que estão a começar a prosperar novamente" e a encontrar novas formas" de serem pagos pelo "verdadeiro jornalismo", indicou.
O responsável acredita que há uma grande parte do público que “está a regressar aos media tracionais, porque estamos num momento em que há muita desinformação". Assim, temas como "Pode a liberdade de imprensa sobreviver", "A pirâmide de notícias invertida ainda funciona", "Tornar global: os desafios das notícias internacionais" ou o "Combate das 'fake news' em 2020" são alguns dos temas em análise no evento.
Numa edição onde são esperados 100 mil participantes, 50 mil bilhetes foram alocados para estudantes de universidades, faculdades e institutos em Portugal através do programa Inspire, indicou Paddy Cosgrave.
No passado, "o máximo que tivemos foram cerca de quatro mil" bilhetes e mesmo estes participantes (estudantes) "não conseguiram participar adequadamente na Web Summit", prosseguiu. Mas agora, com a edição deste ano, "pela primeira vez, estes estudantes serão capazes de interagir com todos", salientou.
Muitos deles são estudantes de ciências de computação, apontou Paddy Cosgrave, afirmando esperar que alguns sejam "inspirados a começar as suas próprias empresas em Portugal" e que outros encontrem "trabalho numa ótima startup portuguesa".
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