Diz reinventar-se todos os dias e ser “um dos players globais mais relevantes na geração automática de software através de inteligência artificial generativa”, com o seu Genio, orgulhosamente made in Portugal. É desta forma que a Quidgest se apresenta no dia em que assinala o seu 35.º aniversário.
Nasceu a 10 de maio de 1988, pela mão de Cristina Marinhas, João Paulo Carvalho e Jorge Guerreiro e, desde a sua génese, assumiu como grande diferenciador do seu negócio a modelação na geração automática de software aplicada às áreas de consultoria e desenvolvimento de sistemas de informação de gestão.
Hoje, os três fundadores dão lugar a uma equipa com mais de 120 colaboradores que juntam 11 nacionalidades e múltiplos talentos que se desenvolvem diariamente num espírito de startup, mas com a solidez e a experiência de uma empresa com 35 anos de história.
E seria impossível falar da Quidgest sem falar do Genio. A plataforma, que começou a ser desenvolvida em 1990, pretendeu destacar-se no mercado ao oferecer uma experiência digital nova no desenvolvimento de software de gestão através de modelos (em vez de código) e inteligência artificial, quando estes conceitos ainda não eram mainstream.
Foi da abstração do código e foco na modelação que a Quidgest encontrou a solução para ser “à prova do futuro”, garantiu João Paulo Carvalho. E é por isso que depois de 35 anos a empresa não está só mais experiente: “continua inovadora e disruptiva”, referiu em entrevista ao SAPO TEK.
Atualmente, numa altura em que a IA generativa ganhou o palco na arena mediática, a Quidgest “está muito bem posicionada” e a plataforma Genio não podia estar melhor preparada para o passo seguinte: a criação por inteligência artificial de todo o código de qualquer sistema de informação complexo.
Na verdade, “tudo passa pela IA generativa”, afirmou João Paulo Carvalho, que antecipa a aceleração da transformação digital em curso, em todos os domínios do conhecimento, mas que diz que os mais pessimistas podem estar descansados quanto a um desemprego generalizado causado pela tecnologia.
SAPO TEK: Como é ser uma tecnológica com 35 anos? O que mantêm desde a vossa criação e o que tiveram de mudar?
João Paulo Carvalho: É motivo de orgulho. Sobretudo porque, para além de sermos uma tecnológica com 35 anos, estamos cada vez mais competitivos à escala global. No desenvolvimento de software, a idade pesa muito, porque os ciclos tecnológicos duram cinco a sete anos. Ao fim deste tempo, as tecnologias ficam obsoletas. Mas, abstraindo do código e focando-se na modelação, a Quidgest encontrou a solução para ser “à prova do futuro”. Não somos apenas mais experientes, continuamos inovadores e disruptivos.
Nascemos sob o signo da Inteligência Artificial e mantivemos ao longo de todos estes anos essa matriz. A IA em desenvolvimento de software depende de padrões, de modelos e de motores de inferência, os quais permitem gerar soluções complexas de software de forma totalmente automática, de uma só vez, em poucos minutos e sem erros. Estes foram os denominadores comuns ao longo dos 35 anos. O que temos regularmente de mudar é o conjunto de tecnologias sobre as quais desenvolvemos as nossas soluções. É uma mudança trabalhosa, mas imprescindível para nos mantermos, não só atuais e muito competitivos, como na liderança tecnológica.
SAPO TEK: Destes anos todos de existência qual considera ter sido o período mais desafiante de ultrapassar? E que momento/momentos destacariam pela positiva?
João Paulo Carvalho: Desafiante, o ano de 2014, o único ano em 35, no qual a Quidgest teve prejuízos, pelo colapso dos países para os quais mais exportávamos, fruto da descida inesperada e radical do preço do petróleo. Mais recentemente, os anos da pandemia, que travaram a nossa expansão internacional e dificultaram a inovação colaborativa em equipa.
Pela positiva, os períodos de sucessivos anos a crescer a taxas de 30% ao ano. Todos os momentos de mudança da base tecnológica do Genio. Todos os projetos que superaram os números anteriores, em complexidade, em número de utilizadores, em valor, em impacto na sociedade. As certificações e o reconhecimento pelos pares e pela comunicação social. O trabalho de coinovação desenvolvido com os nossos clientes e parceiros.
TEK: Quais os maiores desafios estratégicos que uma tecnológica enfrenta na atualidade?
João Paulo Carvalho: Os maiores desafios estratégicos que uma tecnológica enfrenta na atualidade são desenvolver uma equipa coesa em torno de uma vantagem competitiva sustentável, como o Genio, que garanta a liderança tecnológica nos mercados onde atua. Também é necessário ser eficaz nas vendas das suas soluções, produtizando-as, assim como conquistar a confiança e a cooperação construtiva dos seus clientes.
SAPO TEK: Apresentam-se como uma empresa à frente do seu tempo, que por exemplo começou a usar a modelação ou a inteligência artificial na criação de soluções de software numa altura em que estes conceitos ainda não eram mainstream. Em que medida sentem que isso foi vantajoso para o vosso negócio?
João Paulo Carvalho: Tem sido vantajoso para a Quidgest mas, sobretudo, para os nossos clientes. Permite-lhes ter, na Quidgest, uma one-stop-shop, isto é um local onde existe ou pode ser desenvolvida qualquer solução de software de gestão. Permite reduzir drasticamente (para 1/8) o tempo de entrega, isto é, o período que medeia entre a ideia e a entrada em operação. Permite oferecer atualizações muito mais frequentes. Permite ter as soluções assentes sempre sobre o mais moderno stack tecnológico.
SAPO TEK: Como olham para a AI generativa e para o boom que se tem registado em redor da mesma, no geral? Que pontos positivos pode trazer e, por outro lado, quais os principais desafios?
João Paulo Carvalho: Como a confirmação do percurso que iniciámos há 35 anos. Nessa altura, vivia-se também um boom na IA. Aliás, já era o segundo boom, após um primeiro nos anos 1950. E, como a IA sofre sempre de um exagero nas expetativas, ambos acabaram com enormes desilusões e desinvestimentos, os chamados “invernos da IA”. A Quidgest decidiu que não valia a pena desinvestir e continuou sempre no caminho da IA, da modelação, dos padrões, da inferência e da geração automática de grandes sistemas de informação, com centenas de milhar de páginas de código.
Na última década, a IA voltou a estar na moda, através do Machine Learning (ML). Mas o ML não era muito pertinente para a geração de software. Já a IA generativa (GenAI) com o Chat-GPT tem um impacto brutal. Pouco se fala nisso, mas a IA generativa constitui uma rutura em relação ao ML, em vários domínios. A GenAI do GPT dá respostas mais longas e não apenas as respostas dicotómicas (sim/não) ou com poucas opções do ML, além de abarcar todos os domínios do conhecimento.
As lacunas que um GPT ainda não preencheu são as áreas em que a Quidgest construiu uma base sólida de conhecimento: saber colocar as questões certas (o Genio é um excelente prompt engineer); produzir centenas de milhar de páginas de código e não apenas um número limitado de tokens; não alucinar e criar código 100% correto; gerar toda a solução numa só iteração.
SAPO TEK: O futuro da “programação” passa pela AI generativa?
João Paulo Carvalho: Tudo passa pela IA generativa. O futuro da “programação”, isto é, da criação de software, passa por um modelo composto em que, aos processos exploratórios e enciclopédicos do GPT, se acrescenta a arquitetura funcional, a precisão, a escala e a rastreabilidade da modelação e da geração automática do Genio.
SAPO TEK: O que podemos antever mais para a frente, além disso?
João Paulo Carvalho: Podemos antever a aceleração da transformação digital em curso, em todos os domínios do conhecimento. A progressiva substituição dos atuais profissionais ainda não pela IA generativa mas pelas pessoas que a dominam. A automação de mais e mais tarefas criativas. A democratização do conhecimento. A possibilidade de requalificação de muito mais pessoas como criadores profissionais de software.
Os mais pessimistas podem estar descansados. Certamente não vamos ter, mais para a frente, um desemprego generalizado causado pela IA generativa. Haverá mudança de profissões e de tarefas mas, enquanto não soubermos tudo, haverá sempre trabalho na procura de conhecimento e, enquanto não formos eternos, haverá sempre trabalho nas ciências da saúde. E o mesmo acontece para objetivos nunca completamente alcançáveis como a proximidade social, o lazer, a justiça ou a eliminação da pegada ecológica.
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