Apagão de eletricidade em abril teve origem numa sequência de falhas na produção renovável

Os peritos da ENTSO-E já partilharam o relatório sobre as causas que deram origem ao apagão de eletricidade na Península Ibérica no final de abril. Tudo começou nas falhas da produção renovável, quando diversas centrais solares e eólicas se desligaram subitamente da rede.

No dia 28 de abril deu-se um apagão na rede elétrica, afetando Portugal e Espanha, causando um caos nos serviços de emergência quando as redes de telecomunicações começaram a perder o sinal. Este evento, que deixou os países às escuras e sem precedentes, tem estado a ser investigado para procurar a origem do problema. 

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A Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transporte de Eletricidade (ENTSOE) apresentou o seu primeiro relatório preliminar sobre o caso e uma das conclusões é que a rede elétrica precisa de tomar medidas para garantir um melhor controlo da tensão da rede e evitar que se repitam episódios semelhantes. Mas então o que originou o apagão? Segundo os investigadores, o apagão teve origem nas falhas da produção renovável, quando diversas centrais solares e eólicas se desligaram subitamente da rede. Ou seja, o apagão teve origem numa sequência de desligamentos súbitos da produção de energia renovável. Isso fez com que se perdesse o sincronismo com a rede continental europeia. 

O relatório final será entregue no primeiro trimestre de 2026, com as devidas recomendações, políticas e técnicas, que devem ser cumpridas pelos operadores europeus de eletricidade. 

A principal dificuldade dos técnicos é que este foi um caso isolado, nunca aconteceu nenhum episódio semelhante, nem na Europa, nem num mundo, apontou Damian Cortinas, presidente do conselho de administração da ENTSOE, citado pelo Expresso. Segundo refere, este efeito de sobretensão em cascata, que levou ao apagão total, é algo que nunca tinha sido registado na Europa. Até à data, a justificação dada nos relatórios apresentados pela Red Eléctrica, o Governo espanhol e empresas do sector apontavam para problemas de variação de tensão e frequência nas redes. As falhas no controlo de tensão passam assim a ser confirmadas pelos especialistas. 

Apesar do problema ter sido registado na região sul espanhola, num problema que fez cair toda a rede elétrica do país, Portugal foi levado de arrasto, pois à hora dos acontecimentos estava a importar eletricidade de Espanha. Ou seja, segundo o relatório da ENTSOE, Portugal não teve violações dos níveis de tensões, pois “esta sobretensão é independente de haver ou não produção de energia de origem renovável”, diz um dos peritos. 

Nesse dia, Espanha estava a registar na região um grande excedente de produção de energias renováveis, na ordem dos 10.000 megawatts, estando a exportar a eletricidade para Portugal, França e Marrocos, países que também sentiram a quebra na eletricidade. Esse excesso na produção foi a responsável pela sobretensão na rede, levando-a a desligar-se. Em Portugal, a tensão nunca chegou ao seu limite (420 kilovolts), ao contrário de Espanha, que em diversos momentos esse valor foi superado, causando instabilidade na rede. Em Espanha o limite máximo da tensão da rede é de 435 kV, mas houve momentos em que chegou aos 444 kV. 

O relatório final vai servir de base para a execução das recomendações técnicas e políticas a aplicar. A Anacom também apresentou um relatório sobre os efeitos do apagão nas telecomunicações, recomendando uma “evolução do sistema de avisos à população” e a “diversificação das rotas de encaminhamento das chamadas 112”. 

“Durante o apagão, o acesso ao número de emergência 112 foi fortemente condicionado nas redes fixas, mas manteve-se em funcionamento nas situações em que pelo menos uma rede móvel estava disponível”, tendo sido assim assegurado o encaminhamento de chamadas até ao Ponto de Atendimento de Segurança Pública (PASP), segundo o regulador das telecomunicações.

Sabe-se que a E-Redes vai investir perto de 1,6 mil milhões de euros na modernização da rede elétrica portuguesa, entre 2026 e 2030, incluindo medidas de reforço da estabilidade e resiliência do sistema.