A Federação Portuguesa das Associações da Cripto Economia emitiu um comunicado onde lamenta a transmissão pela TVI da reportagem “Junior, o milionário improvável e onde alerta os investidores para os riscos de investimentos associados a produtos financeiros com elevadas taxas de remuneração, alegadamente garantidas, “especialmente aqueles que são intermediados por organizações pouco transparentes e pouco corroboráveis”.

A FACE explica que se manifesta por causa do “impacto negativo que [a reportagem] tem causado na sociedade portuguesa e na indústria dos criptoativos, ao fazer passar um negócio dúbio como representativo desta comunidade empresarial”.

A peça conta a história do português Renato Júnior, que com um investimento inicial de 100 euros “teve a sorte e, naturalmente, a sabedoria para sobreviver às oscilações deste mercado e para hoje viver faustosamente às custas da bitcoin”, como é indicado logo na abertura.

Refere-se que o homem, a partir deste investimento inicial, criou um negócio de milhões e gere uma mineradora de bitcoins, “avaliada em mais de um bilião de dólares americanos” e uma empresa de investimentos, a Digital Bank Labs, ou DBL Group Investments, LLC, comparada aqui a um banco tradicional, e que terá já atraído milhares de investidores.

Explica-se ainda que a mineradora criada por Renato Junior transformou-se numa das maiores do mundo: pode minerar 50 bitcoins por dia e gerar lucros de 17 a 18 mil euros por segundo em transações, graças a um software desenvolvido internamente com “um mecanismo de controlo muito apurado do ponto de vista tecnológico”.

A FACE acusa a TVI de não ter verificado os factos que apresentou com rigor. Sublinha que na sequência da reportagem, as associações que representa identificaram uma procura elevada pelos serviços da DBL, uma tendência que, alega, também se consegue identificar nas redes sociais. Por isso, diz que a reportagem acabou por “promover um negócio que exige uma investigação profunda”, enquanto escolheu referir “apenas superficialmente os riscos deste tipo de investimentos”. Esses riscos são referidos logo na primeira parte da reportagem, onde se explica que seis em cada sete investimentos nesta área podem falhar, mas também se diz que qualquer um pode ter acesso ao dinheiro digital.

A entidade que junta várias associações do universo cripto em Portugal alinha um conjunto de pontos, para contestar os dados apresentados sobre a empresa e o fundador, sobre o qual refere que não conhece as medidas já implementadas em Portugal nesta área dos criptoativos.

A FACE não conseguiu encontrar registo da DBL Group Investments em nenhuma jurisdição, para além de estranhar o facto de uma empresa global só ter um site com domínio português (.pt).

Nota que a mineração de 50 bitcoins por dia, algo feito às custas de muita capacidade de computação, é improvável e dá um exemplo. A mineração de 50 bitcoins por dia representaria 5.5% do total de bitcoins mineradas diariamente em todo o mundo, um número que nem a maior empresa global do sector, a Riot Platforms, listada no Nasdaq, conseguiu ainda alcançar. No seu melhor mês, em janeiro passado, a Riot conseguiu minerar 740 bitcoins num mês (quase 24 por dia). “Será que a DBL, uma ilustre desconhecida no meio, sem registo verificável, minera o dobro? Será que a DBL vale mesmo biliões?”, pergunta a FACE.

A Federação também questiona as taxas de rentabilidade dos produtos financeiros da DBL e as garantias associadas. No site da empresa listam-se oito produtos de investimento, que prometem taxas entre os 10% e os 40% ao ano, para investimentos a partir de 1.000 dólares. A reportagem da TVI completa as contas indicando que um investimento de 100 mil euros, dá um retorno médio mensal de 3.300 euros.

A empresa garante que estes investimentos estão protegidos por um seguro de proteção de capital que a FACE questiona, chamando a atenção para o testemunho de “um suposto investidor na DLB que foi entrevistado pela TVI, de nome Phil Jenkins, a relembrar os espectadores que “nada é garantido nesta vida, sobretudo no que toca a investir”.

A Federação refere ainda que os riscos deste tipo de investimentos, e de apresentá-los como seguros, foram explicados à estação de televisão por Fred Antunes, presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas, também interveniente na reportagem, e foram praticamente ignorados na edição final da peça.

Na sequência disso, a FACE vinca a “demarcação de qualquer associação com as atividades da DBL, com o CEO, ou com alguma prática ilegal que tenha sido promovida na reportagem”.

O comunicado termina com o reforço do alerta, sublinhando que as “associações da cripto economia em Portugal alertam para a promoção de quaisquer produtos financeiros com rentabilidades garantidas, em particular quando estes têm valores muito acima dos que são praticados no mercado e que aparentam serem obtidos de forma pouco clara”.

A FACE, que representa o Instituto New Economy, a ABPB e a ALL2BC, deixa ainda a expectativa de que “as autoridades competentes investiguem este caso”.