Nos últimos dois anos, os padrões de consumo sofreram grandes alterações com o impacto da pandemia, fazendo crescer algumas categorias de produtos que estavam estagnadas, aumentando o preço médio de venda e acelerando a tendência para as compras online, mas as perspetivas para o final do ano mostram que será recuperada alguma “normalidade” e que no total de 2022 os números vão manter-se estáveis face a 2021.
Os números são da GfK Portugal e foram revelados esta semana na conferência “Unboxing Tech Market”, onde a consultora partilhou as tendências de 2021, com as mudanças nos hábitos dos consumidores e nas compras de equipamentos, assim como as expectativas para 2022.
Em entrevista ao SAPO TEK, Rui Reis, Business Manager para as áreas de telecomunicações, eletrónica de consumo e tecnologia da GfK Portugal explicou que, depois de dois anos de pandemia, é claro que a necessidade de trabalhar e estudar em casa continua a influenciar a aposta em tecnologia e telecomunicações, mas também em eletrónica de consumo.
O crescimento de vendas não é homogéneo em todas as categorias e a eletrónica de consumo e fotografia continuou em queda, assim como a área de TV, mas crescem em valor no caso dos equipamentos de som e TV. Nos televisores a GfK Portugal reporta uma quebra de 19% no número de unidades vendidas em 2021 mas o preço médio subiu mais de 20%. Rui Reis aponta vários fatores para esta subida, entre o crescimento do tamanho do ecrã e a evolução da tecnologia, mas também a redução de stocks relacionada com a crise de componentes.
O valor médio de venda nos televisores chegou aos 451 euros, depois de em 2020 ter atingido os 302 euros, o valor mais baixo dos últimos 3 anos. As dimensões acima das 60 e 70 polegadas estão em crescimento acelerado e Rui Reis afirma que a alta qualidade e a inovação fazem parte das exigências dos consumidores, que os levam a atualizar os equipamentos.
E o ciclo de renovação está a desacelerar? “Sim e não. Os consumidores estão mais dispostos a fazer upgrades em vez de esperarem pelo termo da vida útil […] existe uma propensão para a compra de equipamentos de maior qualidade e com tecnologia mais recente”, indica Rui Reis, lembrando que as características high tech potenciam o preço mais alto.
O desafio é também com os próximos anos. Em 2022 tudo indica que a tendência será de estabilização, mas há ainda incerteza em relação a fatores como a evolução da guerra e da crise dos semicondutores. Mas em 2023 a expectativa é negativa, com quebras nas vendas devido à satisfação da procura e ao facto das novas tecnologias estarem a atingir o pico de vida, somando-se a isso o facto de não existirem grandes eventos desportivos que habitualmente ajudam a impulsionar as compras.
Preço médio de smartphones premium dispara para mais de 1.101 euros
As características inovadoras contribuíram também para o crescimento do preço dos smartphones em Portugal, não só entre os topo de gama mas também nas gamas médias. Rui Reis admite que também nesta área os portugueses estão mais exigentes na tecnologia.
O mercado de telecomunicações e informática foi o que registou em 2021 maior impacto com a necessidade de estudar e trabalhar em casa, o que levou um aumento do investimento nos equipamentos e preocupação com a qualidade. A subida de preços dos smartphones é um dos exemplos de uma aposta dos consumidores nas características premium, mas não é o único, e há outros fatores a contribuir para esta situação.
Rui Reis afirma que o preço médio dos topo de gama aumentaram cerca 50 euros em 2021. “Os smartphones com preço superior a 800 euros passaram de um preço médio de 1.044 euros em 2019 para 1.066 euros em 2020 e 1.101 euros em 2021”, explica, referindo que o 5G, o reconhecimento facial, a câmara tripla ou o carregamento rápido e memória RAM de 8 GB estão entre as funcionalidades valorizadas.
O aumento de preços também aconteceu na gama média, que passou a um preço médio de 323 euros.
Dentro das Telecom estão também a categoria de wearables e acessórios, que continuam a crescer, impulsionados por uma maior preocupação com a saúde e bem estar.
Na informática de consumo os dados da IDC já tinham confirmado um ano excecional, com a GfK a indicar um crescimento de 7% do valor de venda para um total de 678 milhões de euros. Os dados mostram que o Work@Home trouxe um impacto positivo em tecnologias de informação, com crescimento em todas as categorias de acessórios e complementares, desde webcams a headsets, ratos, teclados e monitores.
Contexto de incerteza pode marcar o resto do ano
O clima de consumo na Europa abrandou significativamente no final de 2021, penalizado pelas restrições que foram impostas pelo surgimento da pandemia de COVID-19, mas também pelos gastos acrescidos com os custos de energia. A recuperação que era esperada este ano ficou aquém das expectativas por causa da guerra na Ucrânia e isso teve um impacto ainda maior. Este é um cenário complexo que também potenciou o crescimento das vendas online.
Rui Reis explica que estes dados também fazem com que as previsões apontem para que 2022 seja um ano “flat”, e que se a situação dos semicondutores se resolver como esperado e o fim do conflito na Ucrânia seja rápido, no segundo semestre o contexto possa voltar à normalidade de antes da pandemia.
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