O streaming de conteúdos digitais parece ser uma fórmula mais que testada no que diz respeito a séries de televisão e filmes, que o digam a Netflix, Amazon e HBO, por exemplo. Mas aquilo que seria apenas um conceito a replicar para a indústria do gaming, continua a haver entraves para a propagação dos serviços. A Sony está no negócio há quase uma dezena de anos com o PlayStation Now, mas agora que as ligações estão mais rápidas (ainda mais com o 5G) surgem outros players como a Microsoft (XCloud), a NVidia (GeForce Now) e a Google (Stadia). Mas o problema parece mesmo estar no modelo de negócio a aplicar, para todos receberem uma fatia desse bolo.

Ao contrário de filmes e séries, em que o sinal é feito numa direção e os consumidores são necessariamente passivos, os videojogos pressupõem interação, logo duas vias de sinal. A longevidade de uma série e filme não é a mesma que as longas horas que certos jogos oferecem, e por isso, muitos referem que é extremamente complicado quantificar os ganhos de um videojogo. E por isso os serviços ainda estão à procura das melhores recompensas para os criadores de conteúdo.

Esse parece ser a principal razão pelo qual o Google Stadia e o GeForce Now estão a ter grandes dificuldades no seu arranque. A Sony tem um catálogo próprio vasto e uma plataforma bem oleada para atrair terceiros. E a Microsoft, que ainda está a testar o seu serviço, mas conta também com um bom catálogo próprio, além de cerca de 15 estúdios já a produzir novos títulos. O Stadia depende dos jogos que as editoras lá colocarem, pelo menos até que os seus primeiros jogos exclusivos ganhem forma dos seus novos estúdios internos.

Depois de um primeiro trimestre muito calmo, a Google revelou recentemente uma versão gratuita do serviço, em alternativa ao pacote de lançamento de 130 dólares, que inclui o comando exclusivo. No entanto, este serviço gratuito terá menos funcionalidades notadas relativo à paga, nomeadamente o acesso a jogos gratuitos mensalmente. Na verdade, o Google Stadia apesar de oferecer um serviço de streaming é mais uma loja digital, em que os jogos são adquiridos de forma independente, com a vantagem de se poder jogar em qualquer plataforma, incluindo smartphones Android, cuja lista de compatibilidade foi aumentada na semana passada. Apesar da limitação, a Google mantém os planos para lançar mais 120 jogos durante este ano, incluindo alguns “pesos-pesados” como o DOOM Eternal e o Cyberpunk 2077.

Uma das principais ausências no catálogo diz respeito aos jogos indie, títulos que ajudaram a expandir os catálogos das três fabricantes de consolas, para além do Steam, Epic Store e GOG. Jogos que dada a natureza da sua grande qualidade a preços inferiores vendem milhões de unidades. Até agora, dos 28 jogos disponíveis, apenas 4 são de produtoras independentes. E a explicação está mesmo no valor que a Google paga aos estúdios, como avança um produtor ao Business Insider.

“Fomos abordados pela equipa do Stadia, que por norma oferecem algum tipo de incentivo para participar no seu catálogo. Mas esse incentivo foi praticamente não-existente”, refere o produtor. Outro testemunho referiu que a oferta era tão baixa que nem sequer fez parte da conversa. E dando como exemplo o bem-sucedido Untitled Goose Game, a Nintendo chegou-se à frente para o ter na Switch primeiro, só depois foi lançado em outras consolas. No caso da Google, as produtoras não receberam boas propostas para disponibilizar os seus jogos, de forma exclusiva ou simplesmente constar no catálogo.

O dinheiro é apenas parte da equação, refere o produtor, visto que a exposição em lojas como o Steam ou na Switch "vale ouro". E como montra, o Stadia acaba de ser lançado e não tem qualquer histórico e massa crítica que atraia os estúdios. Sem ser por dinheiro, a Google não tem argumentos para atrair grandes lançamentos, tal como se vê noutras plataformas. E há ainda um sentimento comum que paira no ar que é a Google, a qualquer momento, poder desistir do serviço e fechar o Stadia, referem as testemunhas do BI.

Curiosamente, são as grandes editoras que têm suportado o Stadia, como a Electronic Arts, a Bethesda, a Ubisoft, a Rockstar Games e a 2K Games, colocando na loja os seus principais jogos AAA. Falta saber quando o catálogo do serviço crescerá, pois desde novembro não foram adicionados praticamente nenhuns títulos, além de funcionalidades prometidas que ainda não estão a funcionar. Da mesma forma que falta o Stadia chegar aos diversos mercados, incluindo Portugal.