Em sentido divergente do actual panorama económico, o mercado das TI parece continuar de boa saúde e o emprego não é excepção. Engenheiros informáticos, programadores de aplicações móveis ou administradores de sistemas são algumas das carreiras onde vale a pena apostar.

O sector das Tecnologias de Informação tem sido apontado como um dos mais poupados pela crise económica, resistindo estoicamente e revelando capacidade para continuar a absorver novos trabalhadores. E o mercado português não parece ser excepção.

As dificuldades que o país atravessa não estão a ter um grande impacto na área das TI, "que continua a crescer em Portugal, claramente em contra ciclo com a economia nacional", afirmou o porta-voz da Randstad Technologies, uma das maiores empresas de recrutamento e recursos humanos especializados na área a actuar em Portugal, contactada pelo TeK.

A empresa especializada do grupo Randstad, a trabalhar principalmente com empresas de grande e média dimensão, tanto neste sector como nos das telecomunicações e banca, confirma que "a taxa de desemprego [nesta área] é substancialmente inferior a outras áreas do mercado português".

Um aumento de 10 por cento na procura de profissionais qualificados no mercado nacional das TI, até 2010, é o que prevê a IDC, num estudo elaborado a pedido de outra tecnológica, a TechData, e divulgado no início deste ano.

Quer saber onde investir? Engenheiros informáticos para programação de alto nível, consultores funcionais de ERP, engenheiros informáticos para desenvolvimento de aplicações mobile são alguns dos profissionais mais procurados no nosso país, revela a Randstad Technologies, sem avançar números.

Na lista de empregos com maior procura estão ainda os administradores e operadores de sistemas, engenheiros e técnicos de telecomunicações, helpdesk e field support.

A procura não se resume a licenciados ou colaboradores com formação superior, formação no ensino técnico profissional também constitui "claramente uma aposta vencedora em termos de futura empregabilidade", esclarecem os especialistas. Esta opção de carreira implica, no entanto, um esforço permanente de evolução e aquisição de conhecimentos, porque as solicitações na área das TI evoluem de forma vertiginosa, acrescentam.

A tecnológica portuguesa Construlink, por exemplo, divulgou recentemente que abre, em média, três vagas por mês para recém-licenciados, dos quais 90 por cento acabam por integrar os quadros da empresa. O ano passado, a empresa aumentou em 66 por cento o número de trabalhadores, face a 2009, passando de 44 para 73 colaboradores, adiantou.

Se sonha com uma carreira internacional, fica a saber que no estrangeiro a tendência se repete. Um estudo publicado em Janeiro pela consultora de recursos humanos CareerCast classificava a engenharia de software como o melhor emprego para 2011.

A análise é relativa a um dos mercados internacionais de referência, os EUA, e avaliou também factores como o salário, a existência de um bom ambiente de trabalho e segurança e saúde no exercício das funções. No Top 10 das melhores profissões para se ter este ano aparecem ainda os analistas de sistemas informáticos.

Há ou não falta de profissionais qualificados para as TI em Portugal?

Em Portugal, a escassez de profissionais qualificados tem sido apontada como um obstáculo ao desenvolvimento das empresas nacionais, mas o presidente da ANETIE - Associação Nacional das Empresas das Tecnologias de Informação e Electrónica, Armindo Monteiro, diz que o problema não é da formação.

Numa entrevista ao TeK, em Junho, a propósito das funções assumidas na associação, o responsável afirmou que "as universidades portuguesas formam engenheiros e gestores com grandes competências (…). Acontece, porém, que o nosso mercado de trabalho nem sempre consegue fixar os quadros mais qualificados".

Muitos jovens são atraídos por melhores condições no estrangeiro, disse Armindo Monteiro, defendendo que "para fixar quadros altamente qualificados, é necessário que as empresas portuguesas ganhem escala suficiente para garantirem melhores salários, boas condições de I&D e expectativas de progressão profissional. Por outro lado, no tecido empresarial português tem de prevalecer a "cultura do mérito" - o que ainda não acontece plenamente, mesmo no sector das TICE."

O mês passado, Pedro França da Direcção Nacional da ANETIE confirmou que continuam a não existir profissionais em número suficiente, afirmando que "em função da globalização dos negócios há um número crescente de licenciados TIC que vai fazer a sua formação pós-licenciatura ao estrangeiro e não volta ao nosso país. É evidente que também temos vários casos de empresas TIC nacionais que recorrem a contratações de profissionais estrangeiros, mas a este nível o gap é-nos claramente desfavorável".

Questionado sobre soluções, apontou a "adaptação das licenciaturas às necessidades do país" e a importância de "incutir nos jovens e nos seus familiares a indispensabilidade da Matemática, do Português e do Inglês", para que estes não "fujam" a certas licenciaturas, como as ligadas à área tecnológica, para evitar a Matemática.

O ensino técnico-profissional foi destacado como "uma (re)aposta do país que muito poderá beneficiar as TIC", advertindo, no entanto, para a necessidade de combater "o estigma dos profissionais de 1ª (licenciados) e profissionais de 2ª (técnico- profissionais).