O momento económico é difícil para os operadores, que têm cada vez mais custos para entrar no negócio e em novas áreas, e uma forma de ultrapassar as dificuldades de investimento pode ser a partilha de redes de nova geração no fixo e no móvel.

A ideia é transversal a vários painéis do 20º Congresso das Comunicações da APDC, embora naturalmente não seja partilhada por todos os players e encontre mesmo opositores fortes em algumas áreas, nomeadamente nas redes móveis e no cabo, mas também em alguns operadores de rede fixa.

No painel dedicado ao tema da Regulação a possibilidade de abertura das redes móveis para partilha de acesso voltou a ser levantada, assim como a partilha de acesso à rede de cabo, especificamente da Zon, mas a ideia acabou por ser contestada por Francisco Silva, director de regulação e concorrência da Zon, que lembrou que até agora ninguém solicitou o acesso ao cabo.

"Não é fácil abrir o cabo" afirmou, explicando que poderá até haver uma solução técnica, mas que será cara, e depois é preciso haver modelo de negócio para pagar este investimento. "É um tema interessante para discutir, mas na prática pouco capaz de levar à prática", sublinhou.

Em sentido contrário, Filipa Carvalho, directora jurídica e de regulação da Optimus, destacou a aposta que a Sonaecom já fez na partilha de redes na nova geração, na fibra, onde está a trabalhar com outros operadores. Esta responsável defende ainda que "é fundamental a partilha e que esta deve ser estendida ao LTE […] deve constar nas licenças do LTE", lembrando que o custo de estar no mercado é cada vez maior.

Sem se pronunciar sobre a partilha de redes no LTE, Cristina Perez, directora de assuntos legais e de regulação e secretária da Sociedade da Vodafone Portugal, lembrou ao painel que nos últimos dois anos a empresa se bateu pela criação de uma rede única partilhada na nova geração, ou de redes únicas partilhadas complementares. Mas como não teve sucesso, o foco da regulação deve ser agora na concorrência dos serviços.

Nesta área Cristina Perez defende que temos de ser "corajosos, ambiciosos e criativos", parafraseando o discurso do secretário de Estado Paulo Campos, e lança o desafio de que os modelos de regulação a implementar não estejam confinados ao que existe mas que permitam maior controle de acesso e operação, oferecendo mais competitividade, citando os exemplos do acesso virtual usados na Áustria e Holanda. Em alternativa pode optar-se pela separação clara das entidades retalhista e grossista, com accionistas diferentes, assegurando desta forma uma maneira mais transparente de chegar ao mercado.

Mesmo sem se querer pronunciar claramente num ou noutro sentido, Ferrari Careto, administrador da Anacom, lembra porém aos operadores que já hoje é possível a partilha das redes, porque a lei não impede, mas que é preciso cuidado ao implementar essa partilha de forma regulatória porque pode criar problemas adicionais.

As virtuosidades de partilha de redes voltaram a ser referidas no painel de redes de futuro por António Beato Teixeira, presidente da Alcatel-Lucent Portugal, que acredita que há um grande potencial nas redes de nova geração mas que este só se poderá concretizar se houver cooperação entre os operadores, que permitirá que se desenvolvam serviços mais apelativos.

Partilha de infra-estruturas de fibra volta ao debate

A partilha de infra-estruturas nas redes de nova geração voltou a estar em debate no painel mais popular do Congresso da APDC, sem grandes novidades nas posições defendidas pelos principais actores do mercado.



Zeinal Bava animou a audiência quando reagiu ao tópico dizendo que o tema da partilha de infra-estruturas na fibra óptica "é um comboio que já partiu da estação faz muito tempo". Acrescentou ainda que, no que se refere a esta tecnologia, a PT investiu já na cablagem de um milhão de casas e prepara até final do ano a infra-estruturação com fibra de mais 600 mil casas. Esta é uma rede que "não está à venda nem disponível para partilhar com ninguém", defendeu.



Vodafone, Optimus e Oni também reiteraram as suas posições, considerando que o mercado já demonstrou não ter capacidade para tornar viável mais do que uma rede fixa de comunicações, como sublinhou António Coimbra, da Vodafone.



Xavier Martin, CEO da Oni, não defendeu que não é possível assegurar mais do que uma rede de fibra óptica no país, mas sublinhou que todo o investimento concentrado na rede é investimento que não poderá ser feito nos conteúdos e na dinamização das infra-estruturas.