Os habitantes do Corvo e das Flores enviaram hoje uma carta aberta aos fornecedores de Internet a pedir alternativas ao serviço atualmente prestado nestas duas ilhas do arquipélago dos Açores onde, segundo os utilizadores, a ligação se faz, normalmente, a 100 Kbps.

Esta é a terceira iniciativa levada a cabo pelo movimento informal de utilizadores, que já em 2006 e 2011 tinham posto em marcha petições por um melhor acesso à rede. Em ambos os casos foram reunidas cerca de 500 assinaturas, que foram entregues na Assembleia Regional, mas o panorama manteve-se inalterado.

O serviço continua porém a ser assegurado apenas pela PT, por cerca de 35 euros mensais - somando os valores cobrados pelo acesso à Internet (20 euros) e pela linha telefónica indispensável à ligação (15 euros), explicou ao TeK, Nelson Fraga, um porta-voz do grupo.

Os moradores pedem que, à semelhança do que acontece com as restantes sete ilhas dos Açores, também estas duas passem a estar ligadas ao anel submarino de fibra ótica, algo que lhes vem sendo "prometido sem cumprimento há década e meia", lê-se no documento.

"Faz quase um ano que foi solenemente assinado o contrato para a empreitada dessa extensão da fibra ótica a estas ilhas ocidentais açorianas... mas não há quaisquer sinais da obra ser iniciada", realçam, acrescentando que "as moradias das ilhas do Corvo e das Flores têm ligação à Internet de baixíssima velocidade".

"O único serviço existente de acesso à Internet é aquele prestado pela Portugal Telecom (através da Sapo e por ligação de satélite pela PT) mas que não tem a mínima relação com aquilo que é contratualizado pelas/os corvinas/os e florentinas/os: pacote Sapo 4 Megas".

Os moradores decidiram assim apelar, em cartas enviadas à PT, Optimus , Vodafone e Zon, pela disponibilização de uma nova oferta comercial nas ilhas. "Até à extensão do cabo de fibra ótica poderá esse serviço ser apenas possível através de ligação por satélite e posterior distribuição local do acesso à Internet", admitem, mas será "praticamente garantido que quem forneça ligação à Internet a velocidades consideradas normais em qualquer sítio do nosso país (o referido mínimo de 4 Megas), vá angariar e fidelizar sem dificuldade dois milhares de clientes", contrapõem.

Em conversa com o TeK, Nelson Fraga, admitiu porém que duvida que o desafio seja aceite pelas operadoras, pois a justificação que lhes tem sido dada é recorrente: "não havendo fibra ótica, a única forma é através de satélite", uma solução que fica cara para qualquer dos ISPs.

Adiantou ainda ser difícil compreender que a velocidade habitual da ligação à Internet na região se situe nos 100 Kbps, quando durante a visita oficial do Presidente da República ao território a velocidade constante passou a ser de 1,5 Mbps, voltando a ser reduzida nos dias seguintes.

O internauta acrescenta que, de acordo com uma explicação "oficiosa" prestada pela PT na altura, tal se ficou a dever ao facto de a largura de banda normalmente alocada a instituições bancárias e outros clientes de grande dimensão ter sido reduzida para fazer face às necessidades da comitiva presidencial.

Isto porque nas ilhas a ligação é recebida por satélite e distribuída depois pelos vários clientes, tendo a operadora liberdade de alocar largura de banda consoante as necessidades e contratos que mantenha com estes. Este utilizador coloca, por isso, em causa a impossibilidade alegada pela empresa de prestar diariamente uma ligação mais rápida e sugere que a disponibilização de uma ligação mais célere durante a permanência de Cavaco Silva na região foi usada para fazer passar para a opinião pública uma imagem que não corresponde à realidade.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Joana M. Fernandes