No início do ano, a entrada da CoRed no protocolo para Redes de Nova Geração, assinado entre o Governo e vários operadores de telecomunicações gerou alguma estranheza pela novidade. Mas o operador que se queria lançar na Fibra Óptica acabou por não resistir à falta de investimento e está em processo de encerramento, confirmou ao TeK Fernando Simões, administrador da CoRed.
Criada em Braga em 2006, na altura sob a denominação ViaQuanta, o projecto da CoRed ambicionava fazer chegar a banda larga de 100 megas a 1,5 milhões de lares até ao final do ano de 2009. O investimento definido elevava-se a 20 milhões de euros - 600 milhões de euros nos próximos seis anos - e estava calendarizado um projecto-piloto, que se realizou com sucesso, garante a mesma fonte.
"A CORED promoveu um projecto-piloto para demonstração, validação da tecnologia e validação de mercado, com a intenção de permitir o surgimento de um novo operador de comunicações, muito diferente dos outros em termos tecnológicos e comerciais", explica Fernando Simões. Dez meses depois de lançado, e dado que nunca teve uma operação comercial, a CoRed decidiu terminar este projecto, reduzindo despesas.
A oferta delineada no site da empresa era apelativa e competitiva face a outros operadores: Internet a 150 Mbps por 42,5 euros por mês, 100 Mbps por 28,8 euros e 50 Mbps por 14,5 euros por mês. Valores mais baixos do que os da Zon, PT e Clix, mas que não incluíam telefone nem Televisão.
Mas para além da proposta comercial - que assentava no objectivo de trazer mais valor ao utilizador em todos os sectores, através de uma rede muito avançada de comunicações, apta a prestar serviços de nova geração, sem restrições - a ideia era integrar na rede, a custo próximo de zero, entidades como hospitais, centros de saúde, escolas, municípios e empresas, permitindo que em torno das mesmas se concretizassem serviços com capilaridade.
Perante o encerramento da empresa Fernando Simões não esconde que "a CORED não poderá durar eternamente se não houver intenção de investir no projecto, e por isso decidiu-se encerrar a empresa no final de Maio deste ano".
O investidor anterior tinha-se comprometido com a continuidade do projecto, mas, alegando dificuldades financeiras, decidiu retirar-se abruptamente. "Nessa altura ficámos à deriva, pois estávamos a preparar o surgimento de um novo operador, e não era uma simples operação de demonstração", detalha o administrador da empresa.
Primeiro os empreendedores ainda consideraram que "seria simples substituir o investidor por outras entidades, dado o enorme valor do projecto", mas a realidade crua permitiu-lhes verificar "que não existe, ou está-nos vetado, o acesso a meios financeiros por parte de capitais de risco e outras entidades de investimento".
A conjuntura económica pode ser uma das "culpadas" da situação, mas o administrador da CoRed admite que há outros factores de influência. "Não é um problema de valor do projecto, que foi até premiado na Alemanha, e teve convites de outros países da EU para ser lá desenvolvido. É talvez um problema do país, que não consegue promover a competitividade, e isto explica porque somos muito maus a exportar".
Fernando Simões defende que "cada vez que um projecto destes não se consegue impor, o país fica mais pobre. O que é aflitivo é que ninguém se parece importar, incluindo aqueles que têm essa missão".
Especulando, o empresário admite que é provável que haja interesses que influenciam e impedem que a competitividade seja efectiva. "O que não aceito é que o país gaste recursos a promover inovação (o projecto CORED foi promovido pelo programa NEOTEC), que as pessoas percam o seu tempo e muitos recursos próprios a desenvolver um projecto, e depois os decisores de mercado decidam coloca-lo na gaveta, alegando motivos que, sinceramente, deixam muito a desejar. Acho que alguém anda a enganar alguém", sublinha. E mostra-se já arrependido de não ter aceite o desenvolvimento do projecto fora de Portugal.
Pelo meio do desalento está a história da tentativa frustrada de concorrer às licenças de Redes de Nova Geração em zonas rurais. Desde a falta de informação fornecida pelos municípios sobre o ambiente macroeconómico à dificuldade de recolher informações técnicas, nomeadamente cadastros, ao atraso de 15 minutos na entrega da proposta, que não foi aceite.
Mesmo desvalorizando o incidente, Fernando Simões diz que "a principal razão de queixa vai para o benefício evidente de quem está há muito tempo no mercado. Era uma proposta inquinada à partida", e espera que "em próximas ocasiões, alguém se digne fazer o trabalho de casa…".
Apesar de tudo Fernando Simões considera que "foi cumprido o primeiro objectivo, demonstrar mercado e tecnologia". E por isso o projecto é para manter, mesmo com o fecho da CoRed - marca que deu corpo à sua divulgação e demonstração - e ainda se pensa na expansão nacional e na internacionalização.
"O que encerra é a empresa, o projecto continua, e agora reforçado pela demonstração técnica e pelo potencial de mercado que pode ser medido, e beneficia até de um maior conhecimento por parte dos potenciais clientes", justifica.
O trabalho de divulgação também não vai parar. "Temos cada vez mais casos de mercado, apenas esperamos pelo financiamento. Estou convicto que acabará por acontecer, provavelmente fora do país", admite.
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