A Rússia começou a proibir a utilização de iPhone em serviços do Estado por alegadas suspeitas de colaboração da Apple com atividades de espionagem dos Estados Unidos. A decisão para já afeta o ministério do comércio e da indústria, mas segundo o Financial Times, que avança a notícia, há já outros organismos a ponderar ou a implementar a mesma medida, assim como empresas públicas. Os exemplos dados são o ministério para o desenvolvimento digital e a empresa estatal Rostec, onde a proibição já estará em vigor.

Para os funcionários do ministério do comércio e indústria a restrição tem efeito a partir desta segunda-feira e aplica-se a todas as comunicações realizadas em contexto profissional. Deixa por exemplo de ser permitido trocar emails de trabalho a partir de um iPhone ou iPad.

A decisão do ministério tem por base alertas que os serviços de inteligência do país têm vindo a lançar. Com base nos mesmos alertas, em março o governo russo já tinha solicitado aos principais responsáveis políticos que não usassem produtos da Apple, por existirem receios que fossem vulneráveis a ações de hacking dos Estados Unidos.

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Em junho, agência de segurança do Kremlin voltou a acusar a Apple de trabalhar com os serviços de inteligência dos Estados Unidos. O alerta seguiu-se à identificação de uma falha de segurança nos modelos do iPhone a correr versões antigas do software. A falha estava a ser explorada por um malware silencioso, que permitia recolher e monitorizar informação dos equipamentos.

A Apple negou as acusações e os serviços russos também não apresentaram nenhuma prova evidente de que a empresa tenha deixado uma backdoor no software do iPhone, de forma deliberada e com o objetivo de permitir contornar a encriptação das comunicações do dispositivo.

Logo após o início da guerra, um decreto presidencial russo determinou que os sectores críticos do país (sector financeiro, saúde, etc) se preparassem para deixar de usar software estrangeiro nas infraestruturas que suportam as respetivas atividades, até 2025.

Especialistas em segurança russos consultados pelo FT acreditam pouco nesta mudança, tanto por falta de alternativas robustas como, no caso do iPhone, por falta de vontade dos utilizadores visados para deixarem de usar os seus equipamentos.

“Os russos acreditam verdadeiramente que os americanos podem estar a usar os seus equipamentos para fazer escutas telefónicas", referiu ao FT Andrey Soldatov, especialista em segurança e serviços de informações da Rússia.

"O FSB [serviço de segurança federal] há muito que se preocupa com a utilização de iPhones para contactos profissionais, mas a administração presidencial e outros funcionários opuseram-se [às restrições] simplesmente porque gostavam de iPhones", acrescenta o responsável.

A Apple foi uma das empresas que saiu da Rússia depois do início da guerra com a Ucrânia. Ainda assim os equipamentos da marca continuam tanto a ser vendidos no país, através de operadores, como a ser comprados a partir de outros países.