A propósito das 4as Jornadas de Inovação que decorrem na FIL, o TeK colocou ao ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior algumas questões relacionadas com a I&D em Portugal, o investimento na Ciência e o encerramento da presidência portuguesa do Eureka. Nas respostas o ministro traduz a sua confiança nas políticas assumidas e no trabalho feito, garantindo que este já está a dar frutos que se vão avolumar ainda mais nos próximos anos.

TeK - Estas 4as jornadas mostram que os projectos em exposição já estão mais maduros, face a anos anteriores em que estavam mais em plano. Sentiu isso na sua visita à feira?

José Mariano Gago -
Com a experiência que tenho das Jornadas de Inovação praticamente desde a primeira e também da iniciativa Eureka, que acompanho desde que foi criada em 1985, no que diz respeito aos projectos em Portugal e com participação portuguesa, eu confirmo essa sua apreciação, acho que hoje estão muito mais maduros no sentido em que conduziram já a produtos que estão no mercado.
Hoje temos muitos projectos de segunda ou terceira geração, temos produtos no mercado, produtos de adaptação dos primeiros que estão no mercado e novos produtos que estão a surgir com base nessa experiência, e isso era impensável há uns anos atrás.
Por outro lado temos áreas que não eram cobertas. Temos uma muito maior diversidade de áreas hoje em dia. Se recordamos o que foram os primeiros projectos Eureka em 1985, 1986, em que estávamos a falar de corte por laser para a indústria têxtil, hoje verificamos que temos uma evolução muito grande. Talvez a grande mudança tenha sido a incorporação das Tecnologias da Informação de uma forma horizontal em praticamente todas as tecnologias e que foi uma fonte de inovação em praticamente todos os sectores, o alargamento dos sectores ligados à energia e ao ambiente e, crescentemente, e talvez seja a última vertente, pouco a pouco a interligação destes sectores com os sectores biológicos, que são novos, onde entram o mercado da saúde, alimentação e segurança.
Provavelmente um dos grandes sectores em expansão será o que integrar as tecnologias da informação, preocupações ambientais e energéticas, com as componentes biotecnológicas.

TeK - De todas as suas áreas acredita que alguma poderá ter maior potencial para desenvolver em termos de cluster?
J.M.G. -
Eu não vejo a evolução tecnológica dessa forma. A evolução tecnológica nunca se faz indo apenas por uma escada. Só funciona quando vários sectores avançam ao mesmo tempo e se apoiam uns aos outros. A grande expansão das Tecnologias da Informação e Comunicação foi possível porque se apoiou no desenvolvimento dos serviços, no transporte, nas Grids e na energia.
Não é possível imaginar desenvolvimento tecnológico só num sector. Ficaria muito desprotegido e provavelmente sem mercado.
Hoje o que é interessante na economia portuguesa, e novo, o que faz da economia portuguesa uma economia normal, finalmente, como um país desenvolvido, é termos uma variedade de sectores, a fileira automóvel, a fileira da energia, crescentemente a biotecnológica, as Tecnologias da Informação e Comunicação estarem não apenas centradas nas telecomunicações e terem invadido praticamente quer os serviços quer a indústria. É isso que a meu ver faz a força do desenvolvimento tecnológico português.

TeK –Ontem o senhor Primeiro Ministro voltou a realçar a importância do investimento feito na Ciência, no caso face ao mau investimento na Cultura. Acredita que este investimento os últimos 4 anos foi feito na altura certa e que irá dar frutos?
J.M.G. -
Sim, acredito que o investimento na ciência em Portugal, nos últimos 4 anos, e numa política anti-cíclica, com forte investimento em Ciência numa altura de dificuldades orçamentais, deu um enorme impulso à economia portuguesa e à ciência em Portugal. Até porque se ele é anti-cíclico em termos orçamentais, é pró-cíclico em relação aos Recursos Humanos. Portugal tem neste momento um aumento de pessoal qualificado em Ciência muito significativo anual. Atingimos as médias europeia em número de investigadores por 1000 habitantes, mas o que é interessante é estarmos a crescer a uma taxa de 7 a 10% ao ano, o que significa que pela primeira vez é concebível pensar que entre 5 a 10 anos podemos ficar ao nível dos países mais desenvolvidos do ponto de vista de Recursos Humanos, atingindo níveis que são o dobro da média europeia.
E isso eu diria que é o que deve ser a ambição dos pequenos países, um pequeno país não pode contentar-se com as médias, tem de estar mais à frente. E pela primeira vez temos condições para ter em Portugal essa ambição, para começarmos a perceber que o nosso futuro tem de ser como a Dinamarca, a Suíça e a Suécia, países com número de habitantes e territórios até mais pequenos que Portugal e que têm níveis de recursos humanos em ciência que estão largamente acima das médias portuguesas.

TeK - Portugal encerra agora a presidência portuguesa da Eureka. Quais foram na sua opinião os principais marcos atingidos deste último ano?
J.M.G -
Eu diria que ouve dois objectivos perseguidos nesta presidência da Eureka, que é a segunda portuguesa. O primeiro de relançar a iniciativa de promover a inovação como factor de progresso económico num leque de países que é muito vasto e numa altura de crise económica internacional. Isso foi conseguido. Neste momento o que verificamos são muito boas notícias económicas. O número de projectos financiados pelo Eureka está a aumentar como quase nunca aconteceu antes. A mensagem que vem dos sectores inovadores da economia é completamente ao contrário da imagem que seria de esperar nesta fase económica.
Para isso contribuiu muito a harmonização de políticas públicas da União europeia com o lançamento do Programa EuroStar que não apenas financia mas permite harmonizar as regras nos vários países europeus, o que fez com que o número de projectos explodisse neste último ano.
O segundo objectivo era a internacionalização da iniciativa Eureka. Esta abrange um conjunto de países europeus muito mais vasto que a União Europeia, e coloca-se há muitos anos a questão da relação com os países fora da Europa, África, Ásia, América e América Latina etc.
Nós em Portugal tínhamos experiência na última presidência nas relações em matéria de inovação tecnológica da Europa com a China em que abrimos a relações nesta área e implantámos Macau como ponto-chave dessa relação. Neste momento procurámos fazer da nossa presidência uma plataforma para esse desenvolvimento. Revimos o estatuto de membro associado da iniciativa eureka, demos resposta a iniciativas já iniciadas por outros países, e neste momento conseguimos que um conjunto muito alargado de países manifestasse formalmente o desejo de se tornarem membros associados do Eureka.
Estamos a falar do Brasil, do Egipto, da Argentina, entre outras. E a própria Coreia do sul que tinha apresentado mais cedo a sua candidatura já a viu aprovada, nesta reunião, o que vai acontecer formalmente amanhã.
O que temos neste momento são economias fortes a entrar como associadas e este é um factor de sucesso do Eureka.



Fátima Caçador