por Rui Seabra, Vice-Presidente da Direcção da ANSOL *

Tendo em conta o crescimento quase exponencial da percepção do Software
Livre, conto com a sua continuidade ao longo de 2009. 2008 viu imensas
adopções massivas (na ordem das várias dezenas de milhar cada) de Software
Livre em empresas e administrações públicas de alguns países,
não ficarei muito surpreso se surgir uma na ordem das centenas de milhar
de postos de trabalho. Grandes distribuições de GNU/Linux continuarão a
ser publicadas permitindo às pessoas obter as últimas novidades no
mundo do Software Livre de forma atempada sem necessitarem esperar
vários anos para avistar uma edição fracassada de sistema operativo.

As normas abertas, graças ao fiasco do Microsoft OOXML, tornaram-se num
chavão político. Como diz a máxima, "mal ou bem, o que importa é que se
fale", logo mesmo que pelos maus motivos, a percepção da sua importância
cresceu significativamente. Conto avanços muito fortes nesta área
sobretudo no que diz respeito ao reforço de norma abertas que não sejam
susceptíveis de dependerem de informação secreta apenas disponível por
uma companhia dominante no mercado respectivo.

Nomeadamente conto com cada vez mais adopções do Open Document Format
como formato oficial de intercâmbio entre a administração pública e o
cidadão privado e colectivo, como forma de não obrigar a escolha de uma
ferramenta ou tecnologia com benefícios financeiros imediatos para uma
determinada companhia. Desejo ainda que deixem de ser dadas
consecutivamente autorizações extra-ordinárias para ultrapassar os
limites dos ajustes directos para renovar sem concurso público as
licenças Microsoft, SAP, etc... que têm sido contadas na ordem dos
milhões de euros por instituição, e que os concursos públicos e
adjudicações passem a não excluir sistematicamente o Software Livre.

Um grande desejo especial fica reservado para que as patentes de
software sejam formalmente proibidas em todo o mundo, como obstáculo à
investigação e desenvolvimento que o são na área da informática.

Por último, embora não queira passar por "adivinho", julgo haver uma
forte possibilidade de que a Microsoft venha a solicitar a protecção
contra credores em 2009 (o conhecido Capítulo 11 do processo da
bancarrota norte-americano, que protege contra credores para dar uma
hipótese à empresa de recuperar). Apesar de reportar grandes ganhos, os
seus relatórios omitem grandes perdas que têm sofrido, inclusive nas
suas duas únicas unidades com saldo positivo: Windows e Office. Se
baixarmos várias vezes as expectativas de resultados ao longo do ano,
seremos sempre capazes de apresentar resultados que as superam. A título
de exemplo, se tivessem comprado o Yahoo, a Microsoft ficaria oficialmente
em estado de dívida.

* Texto escrito por Rui Seabra, Vice-Presidente da Direcção da ANSOL sob os termos da licença Creative Commons "Atribuição-Partilha nos termos da mesma Licença 2.5 Portugal" (ver http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/pt/)

Veja também os desejos de outras associações convidadas a comentar o ano de 2009 pelo TeK, em 6 Desejos para 2009: A lista de desejos das associações do sector.