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A OCDE trouxe ao Porto algumas das mais importantes empresas de tecnologia, operadores de telecomunicações e governos para debater a banda larga nas zonas remotas. O propósito do workshop era debater estratégias e pontos de vista com quem está realmente no terreno, a par das tendências de amanhã e dos programas de hoje.



Na tecnologia predominou a opinião de que as tecnologias wireless como o WiMax, ainda não operacional, são umas das soluções incontornáveis, face aos seus baixos custos de instalação e manutenção comparativamente a tecnologias como a fibra, geralmente usada para fornecer serviços de banda larga em zonas densamente povoadas.



Na forma de chegar ao mercado as opiniões multiplicam-se e se as parcerias público/privado parecem ser uma solução de sucesso para suprimir as faltas do mercado, conforme defenderam vários oradores, há também a registar que o próprio mercado vai alargando as linhas que ele próprio definiu e para além das quais estão as chamadas zonas não rentáveis.



Entrevistado pelo TeK, Sam Paltridge, administrador principal da divisão de análise económica e estatísticas da OCDE, fez notar esta alteração de limites do próprio mercado, sublinhado que a banda larga mantém o mais elevado índice de crescimento conhecido para tecnologias de acesso de dados. Mostrando-se porém confiante no sucesso das estratégias que resultam de parcerias entre público e privado e mesmo no crescente interesse dos privados pelo estudo de soluções de serviço adequadas a zonas menos populosas.



TeK: Qual foi o principal propósito do encontro realizado pela OCDE no Porto?

Sam Paltridge:
Um dos nossos principais propósitos quando agendámos esta reunião foi reunir um conjunto de peritos de vários países e trazê-los aqui para discutir as experiências levadas a cabo nos seus países, apreendendo e trocando informação sobre os programas que estes vêm desenvolvendo. Nesse contexto o primeiro dia de sessões foi muito dirigido ao sector privado.
Tivemos os principais fabricantes que apontaram algumas das principais tendências de futuro em termos de tecnologias e os principais operadores que trouxeram testemunhos sobre o que estão a fazer, mas também várias experiências de operadores mais pequenos com projectos inovadores que desenvolveram ofertas de banda larga para zonas onde até essa altura as pessoas pensavam não ser possível ter determinado tipo de serviço.



TeK: Estas intervenções deixaram uma mensagem para ser seguida?

S.P:
Sim. Penso que esta foi uma das principais lições a retirar do primeiro dia de evento. Não vale a pena traçar uma linha e dizer que para lá dela ninguém alguma vez será servido por uma oferta de banda larga, a não ser que o Governo decida agir porque não é dessa forma que as coisas estão a evoluir. Mesmo no que respeita aos incumbentes, o que se passa é que se ainda há cerca de dois ou três anos atrás a política era fornecer serviço a 75 por cento da população (pois para chegar além disso comprometia-se a rentabilidade do investimento), hoje os planos são para chegar a 99 por cento da população, como pretende fazer, por exemplo, a British Telecom com um conjunto de iniciativas em marcha.

Este é um caso exemplificativo de como o próprio mercado vai estabelecendo novas regras. Se o governo tivesse decidido avançar nesta altura para dar resposta à falta de ofertas de banda larga em determinadas zonas, a actuação do operador seria certamente diferente.



TeK: Ainda assim, considera que as parcerias público/privado podem ser a chave para fazer chegar a banda larga às zonas remotas, conforme defenderam vários oradores?

S.P.:
Sim, para as áreas onde é claro que o mercado falha, onde o sector privado não tem condições de chegar e prestar serviço. Acho que a grande questão relativamente a esse aspecto é que a tecnologia está a desenvolver-se tão rapidamente, assim como o mercado, que é realmente difícil perceber onde está a barreira (entre zonas potencialmente interessantes para o mercado ou não).



TeK: O Workshop trouxe alguns testemunhos nesse sentido...

S.P.:
Um dos testemunhos que nos foram trazidos foi o do Canadá onde o governo decidiu avançar com projectos de banda larga para cobrir zonas ainda não servidas pelo sector privado. Uma das questões colocadas ao orador foi precisamente como definiam as zonas onde o mercado falha. A resposta do Canadá foi que se não existia serviço em determinadas áreas isso significava que o mercado falhava. Mas, por outro lado também nos disseram que em alguns desses casos não chegaram a avançar pois acabou por aparecer um privado interessado em prestar o serviço. Noutros casos a solução foi conjunta.



TeK: Acredita que o WiMax pode realmente vir a tornar-se uma das principais soluções para oferecer banda larga nas zonas remotas, com tantas novas tecnologias emergentes acredita que esta irá manter-se na ordem do dia até estar de facto disponível?

S.P.:
Acredito que o WiMax tem um grande potencial, mas é muito difícil prever num horizonte de dois a três anos o que vai acontecer. Ainda assim, acredito que a solução para dotar de banda larga as zonas remotas passará pelas tecnologias wireless fixas, não sei se o WiMax se qualquer outra alternativa com características idênticas, mas vimos já alguns exemplos de como isso pode ser conseguido e com custos relativamente baixos.



TeK: Na sua opinião qual é o principal obstáculo à massificação da banda larga: o ambiente regulatório, baixa competitividade, os preços. Qual será o aspecto mais relevante?

S.P.:
Devo dizer que a banda larga é o serviço de telecomunicações com crescimento mais rápido que já alguma vez vimos, tendo já atingido um total de 100 milhões de subscritores no conjunto dos países da OCDE - dados apurados em Junho - que no final deste ano deverão passar a 150 milhões. Isto mostra um crescimento bastante rápido. O que talvez se passe é que hoje as pessoas são mais impacientes do que há uma década atrás quando os mercados eram dominados por monopólios.
Esperam melhores serviços, com elevada qualidade de forma mais impaciente.
Na OCDE temos muito essa noção do avanço rápido da banda larga pelo que somos cautelosos. Pensamos que é melhor dar um passo atrás porque o mercado está a crescer rapidamente e é preciso agir de forma cuidadosa para não interferir com esse processo.



TeK: Relativamente ao mercado português considera que estamos a caminhar em boa direcção?

S.P.:
Acredito que sim. Portugal mostra um forte compromisso com o desenvolvimento de infra-estruturas e promoção da concorrência o que é bom. Conheci os planos do governo e considero-os bastante positivos.
Por outro lado considero que Portugal assumiu um grande compromisso ao pretender desenvolver uma Sociedade da Informação útil, motor do crescimento económico e esse é claramente o mais alto nível de suporte que o governo português pode prestar a este desafio.



TeK: Conhecendo a realidade portuguesa sabe que temos um mercado fortemente controlado pelo incumbente?

S.P.:
Sim, mas há também casos interessantes como o da Águas de Douro e Paiva que detém infra-estrutura própria de fibra óptica sobre a qual podem trabalhar vários operadores para oferecer acesso local. A existência de outras infra-estruturas facilita a concorrência no mercado e introduz outras alternativas ao aluguer de capacidade no backbone da PT.

Cristina Alexandra Ferreira