De forma diferente do que aconteceu em relação aos netbooks, a Toshiba quis juntar-se ao “pelotão da frente” dos tablets e acaba de apresentar o Folio 100. O tablet de 10,1 polegadas promete começar a chegar a partir de Outubro à região EMEA, e recuperar o atraso relativamente ao “grande rival” iPad – que até agora, ainda não tem data de lançamento conhecida para Portugal.

A versão Wi-Fi vai vender por 399 euros, enquanto o modelo 3G está ainda a ser negociado com os operadores dos diversos países. É por isso natural que chegue um pouco mais tarde, embora, como se compreende, a fabricante gostasse de colocá-lo nas prateleiras a tempo do Natal.

O novo modelo tem no preço um dos seus grandes argumentos, mas não só, como fizeram questão de salientar Marco Perino, director-geral da área de produtos digitais e serviços, e Thomas Teckentrup, director-geral da divisão de marketing e desenvolvimento de negócio, ambos da Toshiba EMEA, numa entrevista ao TeK, na IFA, onde falaram sobre as características do produto e a visão da empresa sobre o segmento.

TeK: Os consumidores parecem estar a adaptar-se rapidamente ao novo paradigma em que a Apple foi pioneira. Os tablets vão dominar e “matar” o netbook ou criar um mercado próprio, porque têm um modelo de utilização diferente?

Marco Perino:
Os tablets são uma categoria nova. No ano passado, quando lançámos o nosso primeiro dispositivo slate, o mercado começou a questionar-se sobre os novos novos formatos. As previsões dos analistas só surgiram com mais força quando foi anunciada a proposta norte-americana.
Entretanto as coisas mudaram um pouco, mas esta não deixa de ser uma nova categoria de produtos, onde ainda só temos estimativas de mercado. O que temos são apenas palpites, nos quais acreditamos, claro.

Estamos à espera que muitos outros concorrentes apareçam, mas julgamos que a nossa proposta é “agressiva”, não só em termos de preço, mas também no que diz respeito às funcionalidades. O facto de surgirem muitos concorrentes significa que esta é a direcção a tomar.

Os consumidores têm agora mais possibilidades de escolha, têm dispositivos tanto com teclado, como sem teclado. E não há dúvida de que precisamos de um teclado quando é necessário escrever, em funções relacionadas com a produtividade. Mas quando na maior parte do tempo na verdade só usamos a Internet, ou os media sociais, e precisamos apenas de escrever a passaword e o ID, um teclado virtual faz o trabalho.

Obviamente estes dispositivos slate são mais talhados para o consumidor propriamente dito. OS conteúdos e as aplicações disponíveis destinam-se mais ao entretenimento e logo, contemplam menos os utilizadores profissionais. Mesmo assim, vamos ter provavelmente soluções verticais disponiveis e aplicações profissionalmente mais orientadas.

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Thomas Teckentrup: Essa é uma das questões que nos temos vindo a colocar: vai existir um único tipo de dispositivo ou vamos ter múltiplos dispositivos? Pelo que temos observado nos últimos anos, a segunda é capaz de prevalecer. Aliás, nunca aconteceu que tivessemos movimentos só do tipo “black and white” no mercado.

Há pessoas que até agora tinham um portátil e passaram a ter também um netbook, e que o usa como um dispositivo “companion”, ou seja, a maioria das pessoas tem dois PCs. Por isso acredito que também haverá muita procura pelos dispositivos tablet. Aliás acreditamos que o mercado evolua nas duas direcções: haverá muita migração, pessoas que compraram um netbook primeiro e que agora vão querer experimentar o tablet e outras que nunca compraram um dispositivo do género e que vão fazê-lo a primeira vez em relação a este formato. Por isso, acho que o mundo dos PCs vai continuar a não estar condicionado ao preto e ao branco e a ter vários “tons”.

TeK: Mas não acha que o tablet pode vir a matar o teclado, tirando ao netbook parte da sua razão de existir?

M.P.:
Parece-me que os dois tipos de dispositivos podem coexistir. Acreditamos que as funcionalidades-chave distinguirão o seu uso. Provavelmente as pessoas pouco familiarizadas com as tecnologias irão achar muito mais fácil ter um tablet, por exemplo, do que ter um PC ou um netbook.

O tablet é um pacote “chave-na-mão” para nos colocar na Internet. Mostrei-o a pessoas que sei que nunca tinham tocado num PC na vida e que ficaram maravilhadas porque podiam aceder à Internet num instante. É incrível porque se o tentarmos fazer com o nosso telemóvel em primeiro lugur, temos um ecrã minímo, e depois não é assim tão fácil.

Por isso julgo que irá existir uma parte de novos utilizadores, novos consumidores, que através deste dispositivo terão a oportunidade de navegar online, de ler jornais, revistas. Isto vai mudar a forma como as pessoas vão usar o PC.

Apesar disso, os dispositivos com teclado vão continuar a ter teclado porque continua a ser necessário escrever. Ou seja, a escolha vai depender do uso que se der ao dispositivo. Num contexto onde seja necessário usar o Excel ou Word, se tivermos de escrever muito texto, números, não penso que o tablet seja fácil de usar. Já quando é acerca de pegar no dedo para aceder à Internet ou navegar entre os emails, é muito mais fácil.

A questão que se põe é: o que vão fazer as pessoas a maior parte das vezes que usarem o computador? O netbook e o tablet oferecem experiências diferentes. O tablet é sobre ler, sobre ver, não sobre escrever. O teclado virtual não é uma funcionalidade-chave aqui. É apenas algo que incluído porque é necessário para algumas tarefas. Mais um pouco e era opcional.

Penso que o PC vai usar-se cada vez mais para trabalhar, mas as pessoas também o vão usar cada vez mais para se entreterem e divertirem - espero que menos do que o fazem com a sua família.

TeK: Relativamente à concorrência nos tablets, não acha que o avanço conseguido pela Apple com o iPad pode ser demasiado difícil de recuperar?

M.P.:
Todo o mercado acabou de começar agora. A Apple foi a primeira, vez um excelente trabalho. Decidimos estar aqui e por isso vamos fazer tudo o que a nossa competência e conhecimento para que este produto resulte e seja o mais atractivo possível para o consumidor.

T.T.: Tal como o Marco disse há pouco, esta é uma nova categoria de produto, e criar uma nova categoria leva o seu tempo, é difícil, é preciso empenho, em primeiro lugar para educar as pessoas. E para isso são necessários muitos players no mercado, para que se crie o entendimento necessário, junto do consumidor, no sentido de mostrar que há uma nova categoria que vale a pena considerar. Só depois é que se pára para pensar quem tem o melhor produto no mercado.

TeK: Como é que o vosso Folio compara com o iPad? O preço é o argumento principal ou preferem destacar outros?

M.P.:
Basicamente o que que quisemos assegurar com o Folio foi uma experiência de browsing completa: navegar na Internet sem limites. E 95 por cento da Internet hoje em dia ainda é tecnologia Flash. Por isso acreditamos que ao usarem o Folio os nossos clientes vão ficar totalmente satisfeitos.

Também podemos destacar outros argumentos, como a webcam para utilização em videoconferência, ou os 16GB de memória, suficientes para guardar os conteúdos multimédia pretendidos, que podem ser facilmente expandidos.

E last but not least, este dispositivo de ecrã de 10,1 polegadas, centralizado no entretenimento, que trata essencialmente de multimédia, pode ser ligado a um ecrã maior quendo pretendido, através da ligação HDMI. Penso que estas são funcionalidades excepcionais. Em linha com o que os consumidores procuram.

TeK: A par do novo Folio 100, anunciaram também a nova estratégia Places, através da qual disponibilizam uma plataforma para a partilha de conteúdos Web na nuvem, além do acesso a aplicações e serviços desenvolvidos por parceiros. Acha que os consumidores se vão habituar a ter os seus dados na nuvem?

T.T.:
Sim, sem dúvida. Não tudo, e talvez ainda seja necessário algum “investimento” no sentido de fortalecer o sentimento de segurança e confidencialidade em relação aos dados pessoais, para que os consumidores possam estar mais à vontade com este tema. Mas no geral isso está já a acontecer. Não é uma questão de futuro, é presente. As pessoas estão já a guardar os seus conteúdos na nuvem, como acontece por exemplo com as fotografias e com o email – já que a maioria dos serviços de correio electrónico faz isso, embora grande parte dos “clientes” não o saiba.