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Iniciando há pouco mais de um ano o serviço Infopédia, com a disponibilização de conteúdos enciclopédicos na Internet, a Porto Editora reforçou a sua continuada aposta no multimédia educativo, onde tem vindo a investir na última década em complemento ao seu negócio principal de edição de livros e manuais escolares. Vasco Teixeira, director-geral da empresa, respondeu às questões do TeK sobre as perspectivas do negócio e a sua evolução próxima.

Admitindo que a curto prazo esta é uma área que continua a não ser rentável, Vasco Teixeira mostra a sua confiança numa evolução positiva a médio e longo prazo, assim como na inevitabilidade dos serviços de conteúdos pagos na Internet.

TeK : A INFOPÉDIA.pt celebrou recentemente o seu primeiro aniversário. Qual é o balanço que faz desta iniciativa?
Vasco Teixeira:
O balanço é francamente positivo. Desde logo, porque conseguimos cumprir o nosso principal objectivo: ter na INFOPÉDIA.pt um serviço de grande qualidade, reconhecido pelo público, que disponibiliza informação enciclopédica de grande rigor e actualidade em Língua Portuguesa, complementada por diferentes tipos de recursos multimédia. Depois, porque progressivamente a comunidade de utilizadores da INFOPÉDIA.pt vai sendo cada vez maior e mais diversificada: alunos, professores, investigadores, instituições de vários níveis de ensino, gabinetes de tradução, empresas de serviços, grupos de comunicação social...

TeK : Este projecto (INFOPÉDIA.pt) representa uma das primeiras aventuras de conteúdos educativos na área dos conteúdos pagos. Acha que o mercado já está maduro para sustentar este tipo de iniciativa? Como vê a sua evolução nos próximos anos?
V.T. :
Temos plena consciência, desde o início do desenvolvimento deste projecto, que há um longo caminho a percorrer até que serviços como a INFOPÉDIA.pt vejam em Portugal a sua utilização generalizada.

Ainda não há grande disponibilidade da parte da maioria das pessoas para aderirem ao modelo de conteúdos pagos, mas estamos certos que essa será uma realidade incontornável. Uma coisa é aceder livremente a um qualquer site que reúne informação sobre um ou vários assuntos, disponibilizada sem critério e sem qualquer garantia de validade científica; outra é dispor de um site como a INFOPÉDIA.pt, que apresenta a chancela da Porto Editora como garantia de qualidade.

Gradualmente, as pessoas vão percebendo as diferenças e as vantagens deste tipo de serviço. Repare que, apesar de todas as circunstâncias, a INFOPÉDIA.pt registou num ano mais de quatro milhões de pesquisas. Este cenário transmite confiança, e é sobre ele que perspectivamos que atingiremos o “break-even” dentro de três a quatro anos.

TeK: A Porto Editora iniciou ainda nos anos 90 um investimento forte na área do multimédia educativo, que já em 2000 reforçou com a entrada nos jogos de computador e também na Internet. Qual a sua avaliação da evolução destas áreas?
V. T.:

Antes do mais, quero distinguir o trabalho que desenvolvemos no multimédia educativo, on-line e off-line, e aquele que é feito na área dos jogos de computador, para o qual se criou uma marca específica – PlayGames – com uma estrutura autónoma .

Esta distinção é importante pois as duas áreas actuam em realidades diferentes e têm responsabilidades distintas. A edição no âmbito do multimédia educativo, independentemente do suporte, é de enorme responsabilidade pelas exigências que lhe estão inerentes, sobretudo ao nível da qualidade científica dos conteúdos. Por outro lado, os videojogos têm uma vertente quase exclusivamente lúdica, destinam-se ao entretenimento, pelo que as preocupações dirigem-se mais para a qualidade gráfica e para a jogabilidade, entre outros aspectos.

Respondendo em concreto à sua pergunta, creio que o mercado do multimédia educativo nacional evoluiu para um cenário onde escasseiam as empresas que, de forma regular e sustentada, apresentem produtos de qualidade. Depois da febre do final da passada década de 90, o mercado estagnou numa dimensão muito reduzida, pelo que só sobreviveram as empresas mais fortes e mais capazes, que souberam acompanhar a evolução das exigências e das expectativas dos consumidores.

Quanto ao mercado nacional dos videojogos, dada a sua pequena dimensão, pode-se dizer que ele reflecte todas as vicissitudes do mercado internacional, até porque a esmagadora maioria dos títulos são de origem estrangeira. E cá como lá, o crescimento deste negócio continua a ser condicionado pela pirataria.

TeK: O mercado tem vindo a mudar rapidamente e também provavelmente as condições de negócio. Há quatro anos atrás, em entrevista ao TeK, referiu que o multimédia não era ainda um negócio rentável. A situação mantém-se? E na sua opinião como poderá evoluir nos próximos anos?
V.T. :
Numa perspectiva de curto prazo, é lógico que o mercado multimédia educativo continua a não ser rentável, quanto mais não seja pela profunda crise económica em que o país se encontra desde há dois anos e que acaba por ter consequências maiores em mercados emergentes como o do multimédia, atrasando o seu crescimento. Mas acredito a médio/longo prazo, este cenário será mais positivo.

TeK: Numa altura em que o número de computadores nos lares e nas escolas está a crescer, assim como as ligações à Internet em banda larga, quais são os principais entraves a um maior desenvolvimento do multimédia em Portugal?
V. T. :
Em primeiro lugar, é preciso ter a noção que ao crescimento do número de computadores nos lares e nas escolas não corresponde proporcionalmente um aumento da utilização de aplicações multimédia de carácter educativo ou lúdico-educativo. O que nos remete para um problema de fundo e que se relaciona com a Educação em Portugal. Repare que só agora, através da actual equipa do Ministério da Educação, se consagrou no currículo nacional do Ensino Básico uma disciplina obrigatória de Tecnologias da Informação e Comunicação, a qual vai passar a ser leccionada a partir do próximo ano lectivo.

Durante estes anos todos, pouco foi feito para sensibilizar os diferentes agentes educativos para a importância que os produtos multimédia podem ter na dinamização dos processos de ensino-aprendizagem e, consequentemente, na melhoria dos resultados escolares, aumentando assim o fosso que nos separa de países mais evoluídos.

Por outro lado, sou da opinião que os custos das comunicações são elevados e ainda não dispomos de uma verdadeira banda larga na ligação à Internet. E isso constitui, realmente, um sério entrave.

TeK : Quais os projectos que se alinham no horizonte próximo na área do Multimédia? Vamos assistir a uma maior webização dos conteúdos, ao desaparecimento do suporte CD e DVD para privilegiar a Web ou essa perspectiva é ainda muito remota?
V.T. :

Naturalmente vamos continuar a apostar na “webização” dos conteúdos, mas isso não retirará qualquer investimento no edutainment e referência em CD e DVD-ROM. A existência de produtos multimédia físicos tem-se revelado fundamental para atrair cada vez mais utilizadores, para além de que os pais e educadores vêm nestas aplicações processos seguros de iniciação às tecnologias da informação e comunicação.

Por outro lado, não se perspectiva a curto/médio prazo o desaparecimento desses suportes, pois permitem um acesso imediato a conteúdos multimédia ricos, como vídeos, imagens, animações interactivas – que ainda não se consegue através da Internet, pelas limitações de banda que existem.

TeK: E em termos de manuais escolares, há projectos para a transformação do "formato" dos livros e dos manuais de acompanhamento, ou o primado do papel vai ainda manter-se durante muito tempo?

V.T.:
Sem dúvida que esse primado vai manter-se durante muito tempo. Os manuais escolares são ferramentas de trabalho para professores e alunos fundamentais para diluir as eventuais desigualdades que existam no acesso ao conhecimento. Daí a enorme responsabilidade social que nos é intrínseca na concepção desses livros, que têm obrigatoriamente de ser rigorosos aos níveis científico e pedagógico.

Para que os manuais escolares evoluíssem para outro suporte, seria necessário que todos os alunos, sem excepção, usufruíssem na sala de aula e em casa de equipamento informático. Como estamos, infelizmente, longe dessa realidade...

TeK: A DICIOPÉDIA é já há alguns anos a "estrela" dos produtos multimédia da Porto Editora. Provavelmente a edição de 2005 já está preparada. Quais as novidades que podemos esperar?
V.T. :
A DICIOPÉDIA 2005 terá muitas novidades resultantes da investigação desenvolvida, nomeadamente no domínio dos modos gráficos de consulta da informação textual. Enquanto produto, a DICIOPÉDIA será certamente a referência quando se procura o melhor do multimédia em Portugal, e as suas diferentes edições reflectem a própria evolução deste mercado. Tem sido um desafio tremendo fazer deste produto o único com edição regular, mas também extremamente recompensador, pois permitiu-nos dominar todas as áreas relacionadas com a sua concepção, da edição profissional de vídeo à gestão documental, o que se reflecte depois na qualidade da DICIOPÉDIA e de todos os nossos projectos multimédia.

Fátima Caçador