Começou o seu negócio há pouco mais de uma década concentrando esforços na venda de eletrónica de grande consumo, mas nos últimos anos diversificou a sua estratégia, introduzindo novas famílias de produtos e hoje assume-se como um portal "verdadeiramente multiespecialista".

Presente em 26 países, a PIXmania conta com uma faturação de aproximadamente 900 milhões de euros, nove milhões de clientes e 17 lojas físicas nas principais cidades da Europa - duas das quais em território português, num conceito que Ulric Jerome, director executivo da empresa, diz ter permitido trazer o comércio eletrónico para a rua e que funciona muito bem por terras lusas.

Esse, a par de mais alguns fatores, fazem com que Portugal seja o melhor mercado da retalhistas no que diz respeito à liderança.

TeK: Como vai o negócio do comércio eletrónico?

Ulric Jerome:
Resumindo, somos o maior portal de ecommerce da Europa: faturamos cerca de 900 milhões de euros, temos perto de 10 milhões de clientes, 30 milhões de visitantes únicos todos os meses, 1.400 funcionários.

No início éramos conhecidos por vendermos produtos de eletrónica de consumo , mas alargámos as nossas vendas a produtos como brinquedos a artigos para bebé, bricolage, malas, desporto, etc - temos mais de 30 categorias diferentes de produtos - e hoje somos verdadeiramente multiespecialistas. Cada vez que entramos numa nova categoria o objetivo é chegarmos ao top 3.



[caption][/caption]

TeK: Em Portugal continuam a ter um bom desempenho?

U.J.:

Portugal foi o quarto país onde lançámos a PIXmania, em julho de 2002. Normalmente nos outros países onde marcamos presença estamos entre os três principais fornecedores, e em Portugal não só estamos entre os três primeiros como somos líderes. É o nosso melhor mercado no que diz respeito à liderança. Isto quando num país com 10,7 milhões de pessoas só 55% usam a Internet. Se pensarmos que no Reino Unido já estamos a falar de perto de 80%, podemos ver que ainda há muito espaço para crescer.

Dos 55% da população com acesso à Internet, apenas 30% são compradores online, ou seja 1,5 milhões e destes, 300 mil são clientes da Pixmania o que significa que 20% dos compradores online portugueses são nossos clientes.

TeK: Como é que essas taxas de utilização poderão aumentar?

U.J.:
Acho que são várias as razões para Portugal ter valores baixos: a infraestrutura não estar tão avançada como noutros países da Europa; os preços altos praticados pelos operadores - o triple play ronda os 50/60 euros, certo? Em França são 30 euros; também não existem muitas ofertas de ecommerce. Além disto tudo, é necessária toda uma mudança cultural que leva tempo: convencer as pessoas a irem à Internet fazer compras leva algum tempo".

Penso que já não se trata de uma questão de confiança. Acho que as pessoas já olham para a Internet como uma plataforma segura - só que culturalmente, estão habituadas a ir a uma loja.

TeK: Daí a vossa estratégia passar pela abertura de lojas físicas?

U.J.:
Portugal é um país onde as lojas são extremamente importantes. Temos um total de 17 lojas em toda a Europa: oito em França e as restantes fora, em que duas estão em Portugal: uma em Lisboa e outra no Porto, com bastante sucesso.

Compreendemos que, com uma taxa tão baixa de acesso à Internet, em Portugal precisamos de contacto físico com os clientes. O conceito é de "Internet com loja". Somos o único site com uma estratégia multicanal: trouxemos o ecommerce para a rua, uma estratégia que penso ser a mais acertada para Portugal.

Também apostamos na oferta de maior variedade de produtos online quanto mais produtos tivermos, quanto mais diversidade, mais pessoas virão ao nosso site.

Os 55% da população que hoje acedem à Internet vão com certeza aumentar nos próximos quatro anos para os 70% - Portugal está cerca de três anos atrás da França e 4/5 anos atrás do Reino Unido.

O mercado português de ecommerce está avaliado em 1,5 mil milhões de euros, o montante gasto no canal online pelos internautas em 2010, e em 2015 deverá representar entre 3.000 e 4.000 milhões de euros. É um mercado que tem um grande potencial, já que nos próximos anos muitos mais lares terão acesso à Internet e irão realizar compras através da Web e isso quer dizer que, mais do que nunca precisamos de estar presentes. Quanto mais diversificarmos agora, mais liderança e quota de mercado teremos em Portugal.

TeK: Mas também é verdade que o país não está a atravessar um bom momento... A crise pode ser uma oportunidade para o comércio eletrónico?

U.J.:
A crise faz com que as pessoas passem a comparar mais os produtos, os preços logo passam a olhar mais para a Web. Podem não chegar a "converter-se", mas pelo menos vêem que o preço é um pouco mais baixo, logo há hipóteses de vender mais.

A crise pode ser uma oportunidade, mas temos de ter a estratégia de preços acertada. E depois na PIXxmania temos chances redobradas, porque nas lojas [físicas] temos os mesmos preços que online.
Por outro lado, também convém diversificar em termos de público alvo, que é o que fazemos com o PIXmania Pro, a partir do qual prestamos serviços a empreendedores que queiram começar o seu negócio sem grandes investimentos; e com o PIXmania Place, que permite a outras empresas venderem os seus produtos no nosso portal.

TeK: Mas relativamente ao mercado português, adotaram alguma estratégia específica considerando a crise?

U.J.:
Portugal é um dos mercados mais difíceis neste momento na Europa. Estamos muito conscientes acerca da subida dos impostos, do aumento do desemprego, dos cortes nos subsídios. O poder de compra dos portugueses está a baixar dramaticamente. É por essas razões que tentamos pôr mais produtos online: quanto mais produtos houver online, mais hipóteses de negócio haverá para os clientes.

Em segundo lugar, tentamos fazer ver aos nossos fornecedores que a situação não está fácil, com o objetivo de conseguir bons negócios para os clientes portugueses. Adaptamos a nossa estratégia aos mercados locais, e em Portugal tentamos fazer acordos mais agressivos do que em qualquer país da Europa, porque é muito estratégico para nós em termos de quota de mercado: é o país com maior taxa de penetração; é o país com melhor liderança.

E ainda estamos a crescer através das nossas novas linhas de produtos: temos cerca de 15 categorias de produtos no mercado português. O nosso objetivo é lançar três a cinco categorias novas todos os anos, durante os próximos quatro anos no site português.

O ambiente em Portugal não está fácil, vamos ter de "lutar" mais, mas acredito que vamos continuar a crescer pelas razões que apontei: maior diversidade de categorias, preços mais baixos... Mais do que nunca estamos a atacar o mercado português.

TeK: Como olha para o futuro do ecommerce?

U.J.: Penso que nos próximos anos vamos ter muitos mais players, na sua maioria especializados em mercados de nicho, ou seja, na venda online de muito poucos produtos. Acho que o crescimento do ecommerce será conduzido pelo surgimento de pequenos sites deste género.
Por outro lado, também resulta claro que no espaço de três anos a maioria dos grandes retalhistas terá um negócio online.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Patrícia Calé