Por Sofia Nóbrega (*)

A evolução da Inteligência Artificial (IA) tem transformado significativamente vários sectores, e o design de interfaces não é exceção. Embora existam opiniões contrastantes sobre o papel que a IA desempenhará no futuro do design, é evidente que esta tecnologia traz tanto desafios quanto oportunidades para nós, designers. A chave está na forma como a IA será aproveitada para melhorar, e não substituir, o processo criativo.

Uma perspetiva que tem vindo a ser defendida é que a IA pode não substituir completamente os designers, mas aqueles que utilizarem ferramentas de IA terão uma vantagem competitiva sobre os que não o fizerem. A IA está a tornar-se cada vez mais competente na automatização de determinados aspetos do design, como a criação de layouts, esquemas de cores e até mesmo estruturas básicas de websites. No entanto, existem muitos elementos de design que vão para além da mera estética visual - elementos que a IA, por si só, não consegue compreender ou desempenhar totalmente.

O design UX/UI, tal como todos os outros, é naturalmente um processo criativo que envolve a compreensão profunda das necessidades do utilizador, a interpretação dos objetivos do cliente e a tomada de decisões informadas com base no contexto, nas tendências e na psicologia humana. Por muito poderosa que seja, a AI não tem a capacidade de inovar verdadeiramente; funciona através da análise de dados existentes e da replicação de padrões encontrados em designs populares na internet. Embora esta ferramenta possa poupar tempo aos designers, não pode substituir o processo de tomada de decisões, com as nuances que definem um trabalho de um designer de “alta qualidade”.

Recentemente li um post no Reddit sobre este tema, e como pode ser comparado com o PowerPoint, que existe desde 1987. Apesar dos inúmeros modelos, tipos de letra e ferramentas disponíveis no PowerPoint, as empresas ainda dependem de designers e agências para criar apresentações e infografias personalizadas. Este exemplo sublinha um ponto maior: embora a IA possa simplificar determinados aspetos do processo de design, a procura de designers qualificados continua a ser grande. As ferramentas podem ajudar, mas não substituem a necessidade de criatividade, pensamento estratégico e uma compreensão profunda da experiência do utilizador (UX).

Além disso, a crença que as ferramentas de IA poderiam eventualmente eliminar a necessidade de web designers, à semelhança do que aconteceu com plataformas como o SquareSpace, que prometia a criação fácil de websites para não designers, provou ser inexata. A procura contínua de serviços de web design realça a complexidade do design enquanto disciplina e o valor que designers experientes trazem para a mesa.

Até o Figma, uma plataforma amplamente utilizada por designers, começou este ano a introduzir funcionalidades de IA para acelerar o desenvolvimento de ideias. Considerando que a base dos seus utilizadores é composta principalmente por designers, a empresa certamente não teria tomado a decisão de implementar essa funcionalidade se acreditasse que ela alienaria a maioria do seu público.

Em conclusão, a IA oferece benefícios significativos para o design da interface de utilizador (UI), automatizando tarefas repetitivas, aumentando a eficiência e fornecendo uma grande variedade de opções de design. No entanto, é essencial reconhecer que o IA é uma ferramenta - uma ferramenta poderosa, mas ainda assim uma ferramenta. O verdadeiro valor do design vem da criatividade humana, da perspicácia e da capacidade de compreender e responder às necessidades únicas de cada projeto. Os designers que adotarem a IA terão mais opções para navegar os cenários que surgem na evolução do design, mas a criatividade nunca será totalmente automatizada.

(*) UX/UI Designer na DXspark