No futuro, todos iremos para as nuvens




Por Gonçalo Rijo *



O título deste artigo pode dar azo a uma interpretação errada, na qual está patente uma previsão catastrófica com um final feliz anunciado, mas não é essa a interpretação que desejo dar ao mesmo. Agora que consegui que lesse as primeiras linhas peço um esforço adicional para ler as palavras que se seguem e ser-lhe-á explicada a interpretação correcta (ou pelo menos a não catastrófica) do título.



Antes de falar concretamente no futuro, e para criarmos uma base sólida sobre o que este nos reserva, importa recordar o passado remoto, pois é este passado que nos permite fazer a ponte para o que o destino nos proporá. No início da civilização humana, e como aprendemos na velha escolinha, o ser humano era um povo maioritariamente nómada, fixando-se temporariamente em locais nos quais conseguia obter subsistência física e mudando de local após os principais recursos terem sido esgotados. Tal acontecia pois os nossos primórdios não conseguiam ser auto-suficientes e a necessidade de se deslocarem imperava. Este modelo de civilização alterou-se passando a existir aglomerados de pessoas que começaram a negociar entre si, fazendo trocas comerciais, tudo com o objectivo de garantirem a sua subsistência.



Na realidade as pessoas especializavam-se, embora de forma relativamente arcaica, na produção de determinadas matérias, sendo posteriormente alvo de troca para angariação das restantes matérias que não conseguiam produzir. Com o passar do tempo a especialização aumentou, tendo culminado na criação do conceito de emprego. As pessoas trabalham e são especializadas no que fazem, sendo recompensadas na maioria das sociedades actuais com um salário no final do mês.

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Analisando friamente o nosso dia-a-dia, praticamente tudo é adquirido com o nosso salário, desde a simples electricidade, os nossos electrodomésticos e até mesmo a nossa habitação, não produzimos praticamente nada do que consumimos, nem mesmo a alimentação é produzida por nós, limitamo-nos a confeccionar com base em alimentos produzidos por alguém (aqui salvaguardam-se os poucos produtores). E isto é mau? Diria que não pois temos garantia de qualidade nas coisas que adquirimos, temos uma certeza que alguém especializado tratou da produção do que estamos a consumir, o valor que pagamos pelo serviço/equipamento é justo e tem, muito provavelmente, uma qualidade superior à que conseguiríamos obter se fossemos nós próprios a produzir.


Este modelo de "comprar o que está feito" tem ainda vantagens no que toca à descentralização do local onde os serviços são produzidos. Tomando como exemplo a produção de energia eléctrica, é uma clara vantagem ter as centrais produtoras de energia fora das zonas populacionais, não só pelos inevitáveis perigos que acarretam mas também por uma questão de comodidade tais como o ruído, os vapores e a imagem que estas normalmente têm associadas.
Mas este modelo vai ainda mais além, esta subcontratação não está presente exclusivamente nos processos de aquisição de bens, a maioria de nós confia um dos seus bens mais importantes a entidades classificadas como fiéis depositárias, vulgos bancos. Estas entidades, de forma grosseira, prestam em última instância simples serviços de armazenagem.


Pois bem, após esta introspecção naif assentamos ideias e fazemos a ponte com o principal tema do artigo, a migração das aplicações não "core" das empresas para a nuvem.
Nos dias que correm praticamente todas as empresas têm um sistema de e-mail interno e grande parte uma intranet colaborativa, tudo isto com custos de licenciamento, manutenção, evolução, energia e hardware associados. À semelhança do que aconteceu no passado, em que as pessoas começam a especializar-se em determinadas produções e a adquirir o que não produzem, também nas empresas se começa a assistir a uma exteriorização destes serviços. Começamos a ver os nossos clientes a questionarem-se sobre a real importância da existência de um servidor de e-mail, sobre as reais vantagens e sobre o elevadíssimo custo que a manutenção destas soluções in house tem associado.



Esta mudança de filosofia dá-se pois surgem cada vez mais suportes na nuvem para estas aplicações, com custos significativamente inferiores aos custos in house. Mas as vantagens não se ficam por aqui, mas também pela maior alocação das pessoas nas tarefas realmente nobres da empresa, uma maior especialização no que é feito internamente e o inevitável aumento de competitividade. De forma tosca podemos comparar esta abordagem com o exemplo da energia eléctrica dado anteriormente, se não gostamos de ter um gerador eléctrico à porta, porque havemos de gostar de ter um servidor de Exchange / Sharepoint que ocupa espaço, gasta energia, necessita de licenças e requer recursos humanos para o manter?


Temos ainda alguns clientes que referem serem totalmente contra o alargamento do perímetro onde estes sistemas estão localizados para fora da sua empresa, a principal razão que apresentam é o pouco controlo da informação extremamente sensível que reside nos mesmos. Pois bem, se é uma verdade o que referem, pois não têm os dados "ali" também é uma verdade que muito provavelmente estes sistemas ao serem migrados para a nuvem estarão menos vulneráveis a eventuais ataques cujo objectivo é obter informação confidencial, isto porque os serviços na nuvem oferecem padrões de segurança elevadíssimos, em muito superiores aos que conseguimos ter na nossa própria empresa.

Facilmente consegue ser feita uma analogia entre este caso e um exemplo apresentado anteriormente, apesar de não sabermos onde o nosso dinheiro está realmente armazenado e de nunca virmos a saber se os milhares de programadores que estão a desenvolver sobre as aplicações bancárias são de fiar colocamos cegamente todas as nossas poupanças nas instituições bancárias, pois os bancos são especialistas em armazenar dinheiro e têm políticas de segurança e qualidade elevadíssimas.


Esta mudança de conceito tem vindo a ser progressiva, mas acredito que chegámos ao instante onde não há volta atrás, isto porque deu-se uma mudança clara no modelo de negócio do maior vendedor de licenças, a Microsoft. Foram várias as apresentações em que tive oportunidade de estar presente e é notório que a nuvem é o caminho a seguir. É evidente que esta é a sua nova aposta e que grande parte dos esforços serão conduzidos para este novo tipo de serviço. Os produtos actualmente disponibilizados na nuvem ainda não abrange toda a panóplia Microsoft, mas os mais recorrentemente utilizados já estão disponíveis (Exchange e Sharepoint).



Estes produtos abstraem totalmente as necessidades de hardware, licenças, manutenção, backup, energia e refrigeração, está tudo incluído num único fee mensal.

Oferece ainda todas as actualizações quer de software quer de hardware efectuadas de forma constante, transparente e sem nenhuma quebra, realizadas por equipas formadas, dedicadas e especializadas neste tipo de serviços. A administração é extremamente simples pois todos os parâmetros de todos os sistemas encontram-se agregados num painel único de fácil utilização e o dimensionamento do contratado é totalmente gerido em função das necessidades, sendo escalável à medida das variações de colaboradores.


Perante estes argumentos, à semelhança da forma como sempre temos vindo constantemente a evoluir e diante deste tipo de soluções a necessidade de ter pesadas infra-estruturas de servidores e licenciamento in house reduz-se significativamente pois os serviços na nuvem dão resposta às necessidades manifestadas pelo mercado com os mais altos padrões de qualidade.


Por fim, e fazendo fé que agora sim o titulo foi interpretado de acordo com as minhas expectativas, concluo que apesar de achar complicado mudarmos o sentimento de posse tipicamente português, à medida que o tempo passa estarmos cada vez mais perto das nuvens é uma inevitabilidade.



* Associate Manager da SAFIRA