Somos todos jogadores

Por Pedro Silveira (*)

É difícil não perceber a dimensão que as novas tecnologias têm na vida atual e, de entre as quais, os videojogos. Apesar de ser um assunto controverso, sobretudo relativamente à violência explícita em alguns jogos e ao vício que a utilização descontrolada despoleta, é uma realidade incontornável que tenderá a desenvolver-se abruptamente nos próximos anos. Existem mais de 5 biliões de jogadores em todo o mundo (sendo que 40% são mulheres) e, em Portugal os dados dizem-nos que os jogadores têm em média 36 anos, formação ou frequência do ensino superior.

As crianças têm, cada vez mais novas, contato com as novas tecnologias e por inerência com os jogos eletrónicos. Também a comunidade educativa está a descobrir nos jogos e na forma apelativa como se apresentam, potencialidades pedagógicas. Já não é raro ver em sala de aula docentes que utilizam as novas tecnologias, nomeadamente na componente dos jogos, num processo em que o próprio aluno deixa de ser um mero recetor de conhecimento, para participar efetivamente no processo de aprendizagem.

[caption]Nome imagem[/caption]Mas como regular as duas componentes: a vida comum do dia-a-dia com o jogo, cada vez mais acessível e disponível, em consolas, computadores, tablets, smartphones, etc? Esta é a questão que preocupa especialistas, pais, familiares, e os próprios jogadores.

Na verdade a receita é simples, e de fácil aplicação. O difícil é cumpri-la com rigor. Trata-se, afinal, de um processo educativo determinante, que não pode nem deve ser negligenciado. Cabe aos familiares regularem esta atividade logo desde o início, definindo regras que devem ser regularmente monitorizadas. O ideal, neste processo que é também educativo, é que as regras sejam definidas em conjunto, entre pais e filhos, para que as próprias crianças, ao invés de se sentirem meros cumpridores, as compreendam e se responsabilizem pelo seu cumprimento.

Se assim for, o jogo não será um problema mas apenas uma parte do dia-a-dia, onde é permitido vestir a pele de outras personagens, cumprir objetivos, desempenhar tarefas, chegar ao fim como vencedores. Serve até de exemplo e de inspiração para outros aspetos da nossa vida, podendo contribuir para nos tornarmos indivíduos persistentes, ambiciosos, focalizados e concentrados, com confiança e respeito pelos outros, e com uma consciência critica apurada; num processo coletivo, já que os jogos são cada vez mais interativos, fomentando redes de relações.

De acordo com os especialistas, podemos jogar entre uma a duas horas por dia, com intervalos a cada trinta minutos. Se pensarmos numa criança/jovem em idade escolar, percebemos rapidamente que esta duração é excessiva, devendo por isso ser ajustada em cada contexto. Este pressuposto vale não apenas para os jogos, como para a utilização da internet e das redes sociais no geral. É importante criar regras e cumpri-las assertivamente, para que se enraízem no dia-a-dia:

  1. Videojogos, TV, Facebook e computador em geral - Todos contam para a regra. Uma a duas horas diárias deve ser o limite máximo de horas em frente a um ecrã.
  2. TPC's primeiro - Para jogar, ver TV ou conversar no Facebook a criança/jovem deverá completar os seus trabalhos da escola. E para que não finjam que os façam para ir jogar mais cedo, porque não definir um tempo para os fazer e um período final de revisão em grupo dos trabalhos de casa? Desta forma é criada uma situação duplamente positiva.
  3. Experimentar os jogos com o filho - Os jogos, tal como os filmes, são desenhados e construídos para uma faixa etária específica. Confirme sempre se o seu filho tem idade suficiente para jogar o jogo e experimente-o com ele numa fase inicial. Desta forma ele poderá mostrar-lhe porque gosta tanto do jogo e tirar eventuais dúvidas que um jogo mais violento possa criar.
  4. Esteja atento - Se nota que a visão do seu filho está a piorar ou que sente alguma dor que deriva dos movimentos repetitivos de jogo ou de má postura, limite o acesso ao que provoca o sintoma, até que se informe junto do médico o que poderá ser feito para tratar e evitar o reaparecimento/crescimento do problema.

    Jane MacGonald, investigadora americana, afirma que no futuro todos seremos jogadores. MacGonald está na linha da frente de um movimento que defende que através do jogo é possível mudar o mundo, de uma forma positiva. Para tal basta otimizar as características dos jogadores - perseverantes, otimistas, criativos - em comunidade, por ser o cenário ideal onde todos têm uma voz que, em conjunto, tenderá a contribuir para a descoberta de soluções integradas e inovadores para os grandes problemas do mundo real: ambiente; fome, pobreza; guerra, desigualdades sociais, etc…

    Tudo isto através do investimento, força e competências que cada pessoa demonstra enquanto jogador. Se todas as experiências podem ser relevantes para a construção da identidade individual, é importante que os jogos façam parte deste processo, de forma positiva.

    (*)Festival Meo XLParty