Joe Wilson, diretor do departamento DPE - Developer & Platform Evangelism da Microsoft para a Europa ocidental, passou por Lisboa e falou com o TeK. O responsável da Microsoft falou do Kinect, da forma como a tecnologia pode avançar e das utilizações que já tem hoje fora da área dos jogos, pouco tempo passado depois do lançamento do SDK oficial, ainda em versão não comercial.



As oportunidades no mercado de aplicações que gravita em torno das plataformas móveis também foi tema de conversa, a par com a nuvem e a forma como a rede de parceiros da Microsoft está a adaptar-se à mudança de estratégia da dona do Windows, que nos últimos cinco anos alterou radicalmente o seu posicionamento, a esse nível.




TeK: Prevendo-se que no final deste ano o download de apps móveis atinja os 25 mil milhões e sabendo-se que as receitas destes negócios já se sobrepõem às receitas geradas com as consolas portáteis, que oportunidades identifica e destaca para os programadores?

Joe Wilson:
Acredito que esse é um mercado que vai continuar a crescer e de forma acentuada. Basta pensarmos que há alguns anos quase ninguém tinha smartphones. Hoje uma parte importante dos utilizadores móveis já dispõe de dispositivos móveis e essa é uma tendência que vai continuar a aumentar.

Para os programadores o tempo é de oportunidades. As coisas estão a acontecer rapidamente e são várias as plataformas que concorrem hoje pelo interesse dos utilizadores.
Para os que quiserem trabalhar connosco têm na plataforma associado ao Windows Phone uma excelente oportunidade de dar destaque ao seu trabalho, algo que num ecossistema com milhões de aplicações é consideravelmente mais difícil.



TeK: Como tenta a Microsoft atrair os programadores, tendo em conta a concorrência? Por exemplo em Portugal?

Joe Wilson:
Oferecemos apoio e uma estrutura local de suporte que nenhum dos nossos concorrentes assegura. Globalmente existe essa rede de suporte a quem desenvolve aplicações para as nossas plataformas e isso aplica-se também a Portugal. Temos equipas locais que interagem com os programadores e que também fazem a ponte entre estes e os nossos parceiros.



TeK: Tal como o móvel, a nuvem é uma aposta central da Microsoft. Na sua opinião a vossa rede de parceiros está a acompanhar o caminho que a Microsoft fez neste sentido?

Joe Wilson:
Temos uma rede de parceiros muito criativa e inovadora que acredito que está a fazer o caminho necessário, respondendo aos diversos modelos de negócio que concorrem entre si neste momento e que continuarão a existir. É importante conseguirmos responder às várias tendências que o mercado apresenta e é o que estamos a fazer. A cloud é uma oportunidade e um impulso para fazer a indústria avançar. Certamente muitas empresas vão aproveitá-la, mas isso não significa que toda a gente vá migrar para a nuvem.



TeK: A Microsoft lançou recentemente o SDK do Kinect. Como está o mercado a reagir e o que espera deste lançamento?

Joe Wilson:
É uma versão não comercial mas a reação está a ser magnífica. O Kinect já está a ser usado na área médica, na área da educação - para ajudar a resolver problemas de aprendizagem - e em diversas outras áreas.

Em Portugal também tive oportunidade de ver desenvolvimentos interessantes. Estive no SAPO Codebits e vi o ecrã gigante onde eram projetadas fotos panorâmicas de um novo serviço, uma demonstração que também tirava partido de uma aplicação para Kinect. Há coisas fantásticas que estão a ser criadas um pouco por todo o lado desde a saúde, à educação, passando pela indústria da restauração. Também ao nível dos jogos os desenvolvimentos continuam a ser muito interessantes. O Kinect veio introduzir um novo mundo de possibilidades que continuam a produzir resultados.




TeK: Daquilo que já viu, destas primeiras aplicações do Kinect a outras áreas que não os jogos, onde lhe parece que há maior potencial para aplicar a tecnologia?

Joe Wilson:
Temos de olhar para o potencial do Kinect de uma forma abrangente e percebendo a essência do conceito, que não é mais do que uma forma de interação natural com uma máquina, dispensando o toque físico. A sua utilização pode ser desenvolvida em todas as áreas onde faça sentido aplicar esse conceito. No domínio da medicina, por exemplo, temos situações em que os médicos numa sala de cirurgia precisam manter as mãos esterilizadas. O Kinect pode ajudar a realizar tarefas como acender e apagar uma luz, tocar num ecrã… tudo sem necessidade de toque físico.

Na área da educação vejo igualmente um grande potencial e, claro, a área do entretenimento não deixará de ser também um terreno de enorme potencial para o desenvolvimento desta tecnologia.



TeK: Como imagina as plataformas de jogos daqui a cinco anos?

Joe Wilson:
As capacidades de hardware serão certamente muito diferentes. As plataformas de jogos dependem das capacidades das máquinas e nos próximos anos a migração para a cloud será cada vez mais relevante também neste domínio e essa migração trará grandes mudanças. Por outro lado, o facto de este ser um tipo de conteúdo tão apreciado pelos utilizadores - os jogos são os conteúdos mais requisitados em todas as plataformas móveis - também garante que o ritmo dos desenvolvimentos se mantenha acelerado.



TeK: Que mensagem pode deixar à comunidade de programadores nacional, tendo em conta o cada vez maior número de oportunidades que se afiguram. Para onde devem olhar e que apostas vale a pena fazer?

Joe Wilson:
A minha mensagem principal é esta: não esperem. Este é o momento. Este é o momento para começar a desenvolver aplicações. Este é um mercado que explodiu e que continuará a crescer. É aí que está a grande oportunidade e nem é difícil aproveitá-la, porque existem muitas ferramentas para tornar rápido o desenvolvimento e chegar ao mercado. Defendo isso, embora também acredite que vale mais a pena ser especialista do que estar preocupado com a quantidade.

O mercado das aplicações já tem grandes players mas começa a acreditar-se que há espaço para novas mudanças, tão relevantes como as que nos trouxeram até aqui. É preciso aproveitar, inovando e sendo criativo.



TeK: Como olha para o mercado português. O que acha da nossa criatividade enquanto povo?

Joe Wilson:
Os portugueses são muito emotivos. Isso percebe-se até na forma de as pessoas se cumprimentarem mesmo quando não se conhecem e a criatividade emerge nas culturas mais emocionais. Conheci recentemente um exemplo muito interessante e que espelha essa criatividade, que é o da Cardmobili. Enfim, acredito que Portugal tem os ingredientes certos para inovar falta-lhe talvez dar mais a conhecer ao mundo esse potencial.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Cristina A. Ferreira