As redes 4G ainda não estão devidamente implementadas em vários países e já existem investigadores e grandes investimentos conjuntos para que a tecnologia 5G chegue o mais rápido possível. As melhores estimativas apontam para que em 2020 já haja uma nova geração de redes móveis.



Mas até que isso aconteça a Alcatel-Lucent, empresa especializa em hardware e software para o sector das telecomunicações, está empenhada em criar e desenvolver o conceito de redes 4,5G. O TeK já abordou o tema, mas agora o vice-presidente para a área de small cells e para a divisão wireless, bem como diretor geral da tecnológica, Michael Schabel, detalha com maior precisão o que é e o que se pode esperar deste novo conceito.

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TeK: Como é que funciona este conceito das redes 4,5G?


Michael Schabel: Apercebemo-nos da oportunidade de garantir uma boa experiência de banda larga aos consumidores através das comunicações sem fios. Mas a determinada altura podes ficar limitado pela arquitetura e não tens a possibilidade de continuar a adicionar mais e mais capacidade aos pontos de acesso. Precisamos de mais flexibilidade e as redes 4,5G são o reconhecimento disso.



Se falta capacidade ao hardware que está atribuído ao ponto de acesso, torna-se difícil fazer a atualização do mesmo, é muito difícil adicionar mais valor. É um modelo muito rígido do ponto de vista de arquitetura.



Mas apercebemo-nos que ao virtualizarmos pedaços da rede podemos desbloquear capacidades da mesma e isso é o ponto fulcral. Assim podemos mover algumas dessas muito limitadoras funcionalidades e ao virtualizá-las estamos a criar uma grande capacidade de escala. A esta grande capacidade de escala nós chamamos de Cloud Ran. E a Cloud Ran é simplesmente pegar nas soluções, movê-las para hardware dedicado e colocá-las em plataformas de macro-processamento. E quando fazemos isso podemos escalar, para cima e para baixo, com grande facilidade.



São as pequenas torres de telecomunicações (small cells), que é a tecnologia pela qual estou responsável, que tornam possível escalar frequências de rádio com facilidade. Assim podemos adicionar quantos pontos de acesso quisermos com flexibilidade e podemos adicionar quanta capacidade quisermos também com flexibilidade.



E eis porque é importante – era assim que acontecia nas redes móveis: aumentávamos a rede 10% numa base anual, consistente com o número de novos subscritores. Tinhas mais subscritores, mais algumas chamadas de voz... Mas o que vemos agora é que as redes sem fios têm de escalar tal como escala a rede IP: em grandes quantidades, todos os anos. Isso requer que tenhamos uma arquitetura flexível.



E à medida que os operadores vão fazendo investimentos, eles têm que investir de uma maneira que lhes garanta vários anos de alto desempenho. As decisões que eles tomam hoje na construção das redes de banda larga requer uma quantidade de flexibilidade que eles possam acrescentar, à vontade, de forma simples, durante os próximos anos.



E digo uma vez mais: a maneira de fazer isso é desviando a capacidade e o problema do hardware, através da aposta na virtualização.



Do ponto de vista do consumidor, o que é que vai mudar?


Michael Schabel: Penso que da perspetiva do consumidor aquilo que sabes hoje é que podes receber e enviar dados através do telemóvel. Mas se olhares para a forma como uma rede sem fios foi originalmente desenhada, o objetivo era de que todas as pessoas usassem a rede, mas apenas acontecia de vez em quando, não de uma forma muito frequente.



Atualmente o que temos é toda a gente a querer usar a rede, a todo o tempo e a gerar uma grande quantidade de tráfego. E as redes sem fios originais não estão preparadas para isso. Temos que redefenir a arquitetura através do protocolo da Internet. As redes 4G são a primeira verdadeira arquitetura de uma rede IP que é plana. E aí, com as redes 4,5G, pegamos na rede e torna-mo-la altamente escalável. É aí mesmo que o 4,5G entra em ação.



E quanto às velocidades de acesso, vão aumentar?


Michael Schabel: Se haverá uma maior velocidade? Eu diria que haverá uma maior capacidade. O que é que isso significa? Quando toda a gente quiser enviar tráfego ao mesmo tempo a rede vai conseguir suportar isso. Se a rede não suportar, então a tua velocidade de acesso baixa.



Gosto de pensar no assunto não como a teorética velocidade máxima da rede, mas antes pensar que a experiência de utilizaçao das pessoas está melhor porque tem mais poder dentro de si, tem uma maior capacidade.



Os eventos desportivos são um exemplo perfeito de onde ninguém consegue receber uma mensagem. E nem sequer estou a falar em tentar ligarem-se à Internet ou fazer qualquer coisa relacionada com vídeo. Estou a falar de mensagens. É exatamente para estes casos que a capacidade é movida, pois não se trata de um problema de tecnologia de rádio.



Esta é a maneira como eu vejo a situação: sabemos como resolver o problema de cobertura das “cinco barras” de rede. Mas isso não significa ser igual à capacidade das “cinco barras”. As pessoas não percebem porque é que tendo cinco barras de rede não conseguem receber uma mensagem.



Isso é porque a cobertura de “cinco barras” é diferente da capacidade de “cinco barras”, que é algo que não aparece no telemóvel. E mais uma vez, as redes 4,5G são uma implementação na arquitetura que permite providenciar cinco barras de capacidade de forma mais frequente e para mais pessoas. O 5G será um passo mais além disso e estamos muito entusiasmados com o que aí vem para as futuras gerações: velocidade ultrarrápida, mas também ultraconectividade com tudo o que se pode imaginar.



Teremos a possibilidade de usar o espectro para conectar a rede de uma forma federada.



Como podem as empresas beneficiar desta tecnologia? Devem equacionar o investimento em small cells?


Michael Schabel: Eu diria que existem dois problemas interessantes que estão a surgir nas empresas. Um está relacionado com a cobertura básica de rede dentro dos edifícios e aquilo que sabemos é que atualmente em alguns edifícios não há uma cobertura de rede perfeita, o que pode dificultar o uso do telemóvel. Esse é um problema que é fácil de resolver e ao qual os operadores vão continuar a responder com uma variedade de tecnologias, entre as quais estão as small cells.



O segundo aspeto que é realmente interessante é a tendência de levar o próprio dispositivo para o trabalho. Ou levar uma variedade de dispositivos. Existe a necessidade de as empresas balancearem a diferença entre os dispositivos ligados por cabo à sua rede, que é onde tens as soluções de segurança que ajudam a gerir os dados e a gerir a experiência dos trabalhadores dentro da empresa.



Se olhares para o BYOD estás a olhar para os mesmos dados. Eu sei isso por mim: estou no escritório, tenho o meu ambiente regulado de TI e o meu ambiente físico no qual o meu portátil está ligado por cabo; e tenho o meu BYOD e estou a olhar para os mesmos dados corporativos, para a mesma informação da empresa.



Agora temos a oportunidade de apostarmos em novas plataformas com infraestruturas de alto nível de autenticaçao, em que a rede sabes que és tu, o que é muito importante. É muito dificil de enganar. Tens controlos fora dos edifícios, tens controlos em torno do tráfego gerido pelos serviços de qualidade dos servidores e existe uma oportunidade de harmonizar o ambiente regulatório de TI nas empresas com a estrutura BYOD.



Este, penso eu, é o ponto de viragem para a transformação nas empresas.

Rui da Rocha Ferreira




Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico