O mercado das câmaras fotográficas por vezes pode ser difícil de avaliar, isto porque cada máquina à sua maneira - seja point-and-shoot, seja uma digital de zoom ou uma DSLR - consegue entregar imagens de altíssima qualidade. A Sony RX 100 III, recentemente testada pelo TeK, provou isso mesmo.

Os objetivos e ambições de cada utilizador é que definem atualmente o equipamento no qual devem apostar - pois ao contrário do que muitos consumidores pensam, nem a “mítica” contagem de megapíxeis serve para diferençar uma boa máquina de uma má máquina.

A Canon EOS 7D Mark II não é, definitivamente, para utilizadores que não tenham ambições ao nível da fotografia. Isto porque tudo na máquina parece ter sido pensado para favorecer a produtividade e o controlo manual dos vários elementos que compõe uma imagem.

Esta ideia “áspera” não implica que quem comprar este equipamento tem forçosamente de transformar-se num profissional da fotografia. Mas a ideia inerente acaba por ser mesmo essa, ou seja, mesmo que não venda as fotografias para ganhar dinheiro, deve no entanto assumir a mesma postura caso tenha apenas uma paixão por esta arte.

Pois só assumindo este compromisso consigo mesmo é que o utilizador será capaz de espremer todo o potencial da 7D Mark II e evitar por completo a ideia de que investiu demasiado dinheiro numa câmara fotográfica.

Apesar de toda a qualidade de imagem que entrega e de ter como pontos positivos as características que realmente fazem a diferença na fotografia, a Canon parece ter-se fiado demasiado no legado que tem vindo a construir e ao equipamento falta um pouco de modernismo, como são a falta de tecnologia Wi-Fi integrada ou a possibilidade de gravação em Ultra HD.

Pois se de certa forma a tecnológica pede aos consumidores para serem ambiciosos, não é de esperar que o exemplo venha de cima?

Fotograficamente irrepreensível



Detalhe, definição, contrastes fiéis, cores bem reproduzidas e um resultado final que é uma verdadeira representação da realidade. Tudo isto é o que os utilizadores conseguirão com a Canon EOS 7D Mark II:

[caption]Canon 7D Mark II[/caption]

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As fotografias foram conseguidas com recurso à lente Canon EF 16-35 mm

A única crítica que se apresenta é ao o facto de o sensor usado na máquina, um AF CMOS de 20 megapíxeis, ser muito sensível à combinação de parâmetros escolhidos para captar a fotografia.

Isto é, o utilizador pode fazer apenas pequenos ajustes no ISO ou na velocidade de obturação que isso vai condicionar de forma significativa o grau de iluminação da imagem - e com um resultado nem sempre positivo. É que devido a esta sensibillidade o utilizador vai ver-se muitas vezes na situação de tirar mais do que duas ou três fotos ao mesmo elemento para acertar no balanceamento certo de cores.

Mas esta sensibilidade também tem o seu lado positivo. Em situações de pouca luminosidade todo o poder do sensor vem ao cimo destacando os elementos que realmente importam da restante penumbra.

Também para equilibrar melhor a grande sensibilidade do sensor, a 7D Mark II vem com um botão dedicado ao balanço do branco - white balance - e tem três modos de fotografia reservados a perfis definidos pelo utilizador. Quer isto dizer que se a pessoa já sabe que vai, por exemplo, para um museu, deve ter ali “à mão” três modelos base criados que lhe permitem tirar o maior partido das características dinâmicas da máquina de forma simples e rápida.

E rapidez é outra mais-valia desta Canon. Tanto na velocidade de captação como na capacidade de detetar automaticamente as zonas de foco e contraste. A EOS 7D Mark II consegue facilmente 10 frames de imagem por segundo em modo de disparo contínuo e a tecnologia de autofocus existente na máquina consegue detetar mais de 60 pontos diferentes. Resumindo: muita qualidade.

Esta combinação permite captar imagens de grande nitidez mesmo em cenários onde a velocidade de elementos - seja um carro ou um animal - impera.

A velocidade do obturador chega até aos 1/8000 segundos, enquanto a sensibilidade do ISO bate nos 16.000 de forma nativa, podendo ser extendido até a uns impressionantes 51.200.

[caption]Canon 7D Mark II[/caption]

E são todos estes elementos de qualidade que colocam a 7D Mark II num patamar acima da grande maioria das DSLR que existem no mercado. A máquina começa mesmo a puxar para o pendor profissional, pois até a forma como está construída aponta nesse sentido.

Corpo robusto e pesado, apenas um modo de fotografia totalmente automático e vários botões dedicados ao controlo mais pormenorizado das fotografias - um até para ver as informações detalhadas de cada captação - fazem deste um pacote completo.

A uns passos do Nirvana


A EOS 7D Mark II apesar de ser muito boa, não é perfeita e tem as suas concessões.

O primeiro grande entrave encontrado diz respeito ao botão que permite aceder aos diferentes formatos de fotografia - Automático, Manuel, Av, Tv, P, modo Bulb ou modos pré-definidos. Esta roda não… roda. É necessário carregar no botão central para poder trocar de modo de fotografia, o que é pouco prático e não joga em nada com o sentido “à distância de um dedo” da restante estrutura do hardware.

A câmara tem no geral uma boa distribuição do design. Os botões principais estão todos dentro do raio de ação da mão, mesmo estando a agarrar o corpo principal da câmara. Mas para aquele botão em específico, um dos que mais vai ser usado pelo utilizador, é preciso fazer uma ginástica adicional para o fazer funcionar.

E mesmo sendo um modelo recente no mercado, a Canon não apostou em duas grandes tendências e que colocam a 7D Mark II um pouco abaixo das expectativas: não tem Wi-Fi integrado e não tem um modo de gravação em Ultra HD.

No caso do Wi-Fi é mesmo uma falha grave pois numa máquina cuja premissa é a produtividade e o profissionalismo, querer que os utilizadores ainda passem as fotografias por cabo ou através da retirada do cartão não faz muito sentido. É certo que já existem cartões SD acesssíveis e com tecnologia Wi-Fi, mas quando se compra em 2015 uma máquina de 1.700 euros esta não devia ser uma preocupação do consumidor.

[caption]Canon 7D Mark II[/caption]

Já no caso do Ultra HD nem é tanto pela diferença que pode fazer atualmente - ao contrário do que a indústria quer fazer crer, o Full HD ainda tem longa vida -, mas é suposto a EOS 7F Mark II ser uma máquina para os próximos cinco anos - e daqui para a frente o 4K vai assumir uma cada vez maior importância.

E a falta do UHD é ainda mais uma “pena” pois as filmagens feitas em Full HD já apresentam um detalhe de grande qualidade e a tecnologia de autofocus está também muito bem afinada.

Sabendo que há toda esta qualidade e todo um pendor para o lado mais profissional da fotografia, fica a questão de até que ponto não seria vantajoso e ambicioso ter um ecrã um pouco acima das 3 polegadas e que pudesse assumir vários ângulos - para fotografia e vídeo mais criativos.

As “justificações” da 7D Mark II


A EOS 7D Mark II tem outros quatro elementos aliciantes que valem a pena destacar.

O primeiro está relacionado com as várias saídas multimédia que existem na máquina: USB 3.0, microfone e outras. É importante uma máquina estar bem apetrechada a este nível sob pena de limitar o seu real valor produtivo.

O segundo está no facto de a máquina suportar tanto cartões de memória SD, como as unidades de armazenamento compact flash. É bom haver opção de escolha - seria mau ter obrigado os utilizadores a ficarem-se pelas unidades de armazenamento não tão comuns e seria um total descalabro este cenário sabendo a que existe a falta de Wi-Fi integrado.

Em terceiro lugar surgem os menus de software básicos. Tratam os aspetos essenciais das fotografias e basta. Pois se uma máquina de grande qualidade técnica abusa nos pormenores de software, o utilizador vai justamente perder tempo em ajustes técnicos e não tanto a trabalhar a fotografia de forma mecânica e manual.

Por último, o facto de estar suportada por um rico e vasto ecossistema da Canon, sobretudo ao nível de lentes amovíveis poderosas. Quer isto dizer que além da qualidade da máquina, os utilizadores podem tirar vantagem de um maior dinamismo conseguido através de diferentes lentes. Mais uma vez a possibilidade de escolha favorece os consumidores e a sua criatividade.

Considerações finais


Chegados a esta parte, e tendo em conta tudo o que foi dito e analisado relativamente à EOS 7D Mark II, a questão do compromisso parece fazer ainda mais sentido. A máquina tem uma grande qualidade fotográfica e destaca-se nos elementos que fazem a diferença - velocidade de obturação e rapidez e qualidade da focagem automática. O vídeo também surpreendeu pela positiva, mas deixou a desejar no que diz respeito à resolução.

Mas é necessário fazer um compromisso de utilização séria e produtiva para fazer render a máquina. O preço, os 1.700 euros, esses podem ou não ser relativos.

[caption]Canon 7D Mark II[/caption]

É um valor justo para quem quer rentabilizar a máquina através do trabalho ou grande dedicação, mas é um valor desajustado para fotógrafos de qualidade, mas que não têm ambições de grande evolução. É possível encontrar no mercado máquinas de qualidade por um preço inferior, seja dentro da gama EOS da Canon como nas linhas de empresas rivais como a Nikon.

Vai fotografar de forma regular para tentar obter grandes resultados? Ou vai fotografar de forma ocasional explorando apenas uma vertente mais criativa? A produção de vídeo está no seu roteiro? Ou prefere um dispositivo mais ambicioso na qualidade e que lhe traga mais garantias a médio-longo prazo? Estas são questões que terá de fazer a si próprio para perceber se esta é ou não a sua máquina fotográfica.

Deste lado fica a certeza de que é uma excelente máquina e que o vai poder surpreender nos resultados que vai conseguir atingir.

Nota de redação: Corrigida informação relativa às unidades de armazenamento compact flash, após indicação dos leitores

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico