(Atualizada) Ainda se lembra de como era carregar uma página Web ou aceder a um email no telemóvel há duas décadas atrás (no final da década de 90)? Se calhar não, até porque é muito fácil esquecermos as dificuldades passadas quando temos ao nosso dispor tecnologias mais avançadas, mas se pensar um pouco vai lembrar-se… era muito tempo. Demasiado tempo.

Hoje as velocidades na rede móvel medem-se em megabits por segundo (Mbps), e não nos Kbps, como acontecia com as primeiras gerações de 2G (limitado a 9,6 Kbps) ou mesmo do GPRS, conhecido como o 2,5 G, que acelerava para os 56 a 115 Kbps. Na prática isso significava que um ficheiro de apenas 1 MB podia demorar vários minutos a chegar ao telemóvel. Com a terceira geração móvel (3G) as velocidades subiram para os 384 Kbps, mas a tecnologia foi evoluindo e com o HSPA + foi possível chegar aos 43,2 Mbps, velocidade teórica, que em muitos casos ultrapassa as disponibilizadas nas redes fixas.

O início dos serviços 4G em Portugal vem elevar ainda mais a fasquia, colocando a velocidade máxima nos 100 Mbps para o download e nos 50 Mbps para o upload de informação, o que corresponde realmente a “voar baixinho”.

Desde os vagarosos dados móveis do 2G já testámos todas as evoluções sequentes e é difícil ficar indiferente ao salto gigantesco que se conseguiu dar em pouco mais de 20 anos, e que garantiu que com pequenos telemóveis inteligentes seja possível fazer downloads a velocidades semelhantes às que se conseguem com uma ligação física de fibra ótica.

E não é só em velocidade que se medem as vantagens do 4G. A menor latência é uma das benesses para algumas áreas, nomeadamente para os jogos e o carregamento de vídeo em streaming, e a prometida estabilidade de rede é também bem-vinda para quem recorre à banda larga móvel com frequência, sobretudo para utilização no computador pessoal.

Mas, para além de algum deslumbre de quem ainda se fascina com os avanços da tecnologia, será que vale mesmo a pena mudar já para o 4G? Esta é a pergunta a que queremos responder com esta análise e para isso avaliámos quatro dos principais critérios de escolha: cobertura, velocidade, usabilidade e preço, assim como as ofertas das três operadoras móveis portuguesas.

Na redação do TeK já estamos a usar o 4G desde final de janeiro, quando a Vodafone cedeu gentilmente placas LTE a alguns jornalistas, na altura que ainda antecipava para os dias seguintes a entrega da licença pela Anacom. A expectativa acabou por só se concretizar em Março, mas isso não nos impediu de funcionarmos como “beta testers”, aproveitando a disponibilidade ainda limitada do 4G, mas também do HSPA +, no qual a operadora continua a apostar.



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Já em março a TMN viria também a disponibilizar o seu pacote de equipamentos 4G para testes: uma placa LTE, o smartphone Samsung Galaxy e o tablet da mesma marca, também com suporte à 4ª geração móvel, dos quais falaremos em breve.

A última pen 4G a chegar à redação foi a da Optimus, que acabámos por “rodar menos”, até porque foi a única com a qual tivemos alguns problemas de configuração que foram prontamente ultrapassados com a ajuda dos técnicos da empresa.

Usabilidade

Problemas técnicos é precisamente aquilo que ninguém quer ter quando vai à loja e compra um destes equipamentos. Com muito ou pouco conhecimento técnico, o objetivo é que todo o processo de instalação e configuração se processe de forma rápida, simples e “sem dor”.

Depois das primeiras placas PCMCIA que exigiam quase um curso de engenharia para configuração, as mais recentes gerações de placas USB são tão fáceis de usar que qualquer criança (!) o pode fazer. O mais difícil é muitas vezes colocar o cartão SIM, o que acontece no caso da placa da TMN, que obriga à utilização de um instrumento pontiagudo para retirar a capa traseira e colocar o cartão. A Vodafone recorre ao mesmo sistema das anteriores placas 3G, com uma pequena tampa deslizante, e a pen da Optimus tem uma portinha especial, acessível e forma muito fácil.



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O sistema de funcionamento das pens da Vodafone e da TMN é semelhante, com um equilíbrio da ligação à placa USB e o funcionamento em “modo de antena”, mas o modelo da Vodafone ganha em ergonomia, sendo mais fácil de “abrir” para destacar a ligação USB. Um pequeno detalhe que não é significativo mas que é simpático e evita recorrer à utilização de instrumentos adicionais – ou das unhas.

Na instalação não tivemos qualquer dificuldade. É basicamente ligar a pen, esperar que instale (no Windows) e introduzir o código pin para começar a usar. Não testámos em sistemas Mac nem em Linux, mas a Vodafone e a TMN garantem compatibilidade com computadores Mac, enquanto a Optimus é omissa em relação a essa informação.


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Depois de instaladas as aplicações os atalhos ficam acessíveis através das aplicações e no ambiente de trabalho, e não há qualquer incompatibilidade, ou rivalidade, na utilização.

Os menus de utilização são fáceis de entender, mesmo se for necessário fazer alguma configuração básica. A aplicação da Vodafone é a mais completa e tenta “tomar conta” de todas as ligações à Internet no computador, sejam Wi-Fi, de rede Ethernet ou (naturalmente) de banda larga móvel.

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Mas também esta configuração pode ser contornada, limitando a aplicação à gestão apenas da rede móvel, e confiando nela para ligar e desligar o acesso e fornecer dados da velocidade e do tráfego de voz.

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No caso da aplicação da Optimus a área de estatísticas dá informação interessante sobre a velocidade da ligação, em modo gráfico, usando cores diferentes para os picos de upload e download.

Um conselho específico: no caso da aplicação da Optimus é mesmo conveniente desactivar o Wi-Fi antes de fazer a ligação da banda larga. Não é obrigatório, mas acolhemos o aviso técnico para evitar conflitos indesejáveis…

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A aplicação da TMN é a mais minimalista e aparência , mas não deixa de dar acesso a toda a informação necessária para os utilizadores que querem apenas “ligar e esquecer” e para quem quer ter mais capacidade de controle de configurações.

De resto conte com uma garantia: não é preciso usar as pens durante muito tempo para que aqueçam o suficiente para servir “caloríferos” para mãos frias. O que até pode dar jeito se estiver frio mas que é uma funcionalidade que não vem descrita no manual…

Cobertura e velocidade
Estas são as questões chave na avaliação da mudança para o 4G. É verdade que há que ter consciência que numa fase inicial (que pode demorar longos meses) a cobertura de rede em 4G é limitada, mas na sua ausência as placas asseguram sempre a conectividade na melhor velocidade disponível na zona. E isso pode significar os 43,6 Mbps do HSPA +, ou 14,4 Mbps… Ou seja, o mesmo ou melhor do que o garantido nas melhores ligações de banda larga 3G.

Os operadores não fazem segredo de que o alargamento das coberturas é gradual mas que vai sendo feito quase semanalmente. Aquando do anúncio do serviço a “mancha” da Vodafone era curta em Lisboa e centrava-se quase na zona do Parque das Nações, enquanto no Porto abrangia um pouco mais de área, mas atualmente já chega às capitais de distrito (embora não seja revelada a abrangência ai) e a diversas zonas de Lisboa.

A TMN garante também o mesmo: nos principais pontos da rede da operadora da PT na cidade de Lisboa e Porto, assim como em algumas áreas mais concorridas, e nas capitais de distrito. A empresa promete alargar a 80% a cobertura LTE em abril, quando o sinal da TV analógica for desligado libertando o espectro.

A Optimus faz também um retrato “retalhado” das zonas cobertas em Lisboa, das Avenidas Novas ao Campo Grande, zona do Saldanha, Marquês de Pombal, etc… O alargamento a algumas zonas da cidade de Lisboa só no prazo de 3 a 6 meses, como por exemplo na Baixa.

Não andámos à procura dos pontos cinzentos da rede, mas testámos ligações em dezenas de locais em Lisboa – entre uma utilização mais ou menos intensa que fizemos das placas nas últimas semanas e em modo de “teste móvel” que realizámos ontem.

Fomos aos locais onde sabíamos que havia cobertura, sob indicação das operadoras, mas também a outras zonas de passagem habitual, como o Colombo, Campo Pequeno, Parque das Nações e Amoreiras, onde parámos e testámos as três ligações com recurso ao Speedtest e ao Speedmeter para validar a cobertura e aferir a fidelidade das indicações das aplicações da TMN, Optimus e Vodafone.

Estes périplos resultaram em largas dezenas de capturas de ecrãs, mas partilhamos aqui apenas algumas a bem da sanidade mental dos leitores.



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Optimus na praça de Espanha

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As conclusões são simples: a velocidade indicada nas aplicações das operadoras não bate certo com a das aplicações independentes para atingir os 100 Mbps é preciso estar mesmo “ao lado” das antenas já com LTE.

E atenção: as velocidades apresentadas pelas aplicações das operadoras são sempre muito acima dos testes realizados com sistemas de medição de tráfego... O que, aliás, acontece também noutras redes.

Preço

Por último o preço. Não que haja diferenças significativas entre as ofertas das operadoras. Como já nos habituaram anteriormente, qualquer diferença entre os preços é meramente circunstancial, e não dura mais do que algumas horas. A concorrência fortíssima assim o determina, e na quarta geração móvel, que está a ser ainda mais renhida do que o habitual, é pior…

Conte por isso com mensalidades de 24,9 euros se quiser ficar pelas ligações de 50 Mbps, e de 29,9 euros se quiser ir até aos 100 Mbps. Mas estes são preços de promoção – que todas as operadoras estão a aplicar – e que obrigam a permanência de 24 meses na rede, mantendo o mesmo desconto.

A vantagem aqui é claramente para o cliente. O custo dos planos 3G ficou mais baixo com o lançamento do 4G, e as mensalidades para as adesões dos “pioneiros” são mais baixas do que as pagas por quem tinha ligações com velocidade máxima de 14,4 Mbps… Parece um bom negócio?

O próprio preço das pens de banda larga 4G estão com desconto de 50%, algumas até final de abril ou até ao fim do stock. Mesmo em tempo de crise parece ser uma proposta tentadora.

E agora a resposta à pergunta inicial: Vale a pena mudar para o 4G?

A resposta não é tão linear quanto parece. Se realmente precisa de uma ligação de banda larga móvel para o computador e normalmente está em zonas onde há cobertura 3G ou 3,5 G (com HSPA ou HSPA +) a resposta é quase diretamente Sim. A velocidade, latência e estabilidade (mesmo que em poucos locais) compensam, e o preço, como vimos acima, também.

Se calhar a decisão já não é tão imediata para quem está em zonas onde só às vezes consegue ligação 3G, ou 3,5G.

Se o seu objetivo de utilização do 4G é “fixo-móvel”, ou seja se há alguns locais onde vai usar com mais frequência a rede, vale a pena passar pelos sites das operadoras e validar – com o código postal – a cobertura garantida.

E perguntar mesmo aos serviços de apoio se já há, ou para quando está previsto, o upgrade para o LTE nesses locais. Se não, faça como nós e navegue à melhor velocidade que for conseguindo em cada um dos sítios por onde passa…

Finalmente faça contas ao preço do equipamento e à mensalidade. E se está a pagar mais (e não tem fidelização ativa) esta não deixa de ser uma proposta a considerar seriamente…

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Fátima Caçador

Nota da Jornalista: Perante os comentários dos leitores faz sentido um esclarecimento de datas e factos históricos: há duas décadas atrás estávamos na década de 90 e, se formos literais, em 1992, data em que foi lançada a Vodafone em Portugal e o primeiro serviço GSM, de que me recordo muito bem porque na altura já tinha começado a trabalhar como jornalista nesta área. Antes em Portugal a TMN operava uma rede móvel analógica, que "herdou" dos accionistas CTT e TLP, e os telemóveis eram transportáveis e não portáteis. Não tive nenhum pessoalmente, mas conhecia a realidade de perto. Transportavam-se numa "malinha" e a cobertura de rede era quase tão escassa como hoje o 4G.
É verdade que só no final da década de 90 surgem os primeiros serviços que levam o correio electrónico para o telemóvel, e mais tarde a Internet móvel e os primeiros portais, que ganham maior adesão com o lançamento do 2,5 G, o GPRS.

Não se trata por isso de desconhecimento histórico, mas de uma expressão talvez demasiado livre em termos de intervalo de tempo que tinha apenas o objetivo de fazer uma comparação com o salto dado para as velocidades atuais. E por isso acho que a "figura" se deve manter... Só com a adição do parentesis mais concreto para que não reste qualquer dúvida.