Abra a mão e feche os olhos. Agora já pode abrir outra vez. E o que vai ver na palma da mão não é um rebuçado ou uma moeda como acontecia quando era mais novo. Em vez disso terá um computador desktop da HP: chama-se Pavilion Mini e tem um preço de mercado de 399 euros.

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Segurar um desktop na palma da mão é estranho. Não parece natural e aqueles que cresceram com computadores de torre, imponentes e de metal, certamente que também vão partilhar deste pensamento.

Mas isto não quer dizer que o conceito não funciona. Alguns fabricantes sempre tentaram ter uma proposta de computador desktop pequeno e acessível - basta pensar que há muito que a Apple investe no conceito do Mac Mini.

Ter um desktop portátil, que rapidamente se guarda numa mochila, é uma grande tentação. Mas a verdade é que para ser realmente portátil o consumidor tem de garantir algumas condições prévias de utilização ou estar disposto a fazer um investimento além do que já fez no Pavilion Mini.

Isto porque ao contrário do que acontece noutros mercados, o Pavilion Mini em Portugal não inclui um teclado e um rato. E o utilizador também deve ter dois ecrãs - sejam monitores ou televisores - para poder usar o desktop em dois pontos distintos e justificar a portabilidade.

A pergunta que se faz é: a quem serve então este micro-computador e quais as suas grandes vantagens?

Uma caixinha de surpresas

O HP Pavilion Mini tem quatro pontos nos quais se destaca com grande qualidade: no design, na quantidade de armazenamento interno disponível, na possibilidade de atualização do hardware e também ao nível de entradas multimédia.

Relativamente ao aspeto, o computador é apelativo em toda a linha. Cabe na palma da mão, tem linhas arredondadas e pouco agressivas, está construído com cores também neutras e suaves, acaba por não ser demasiado grosso tendo em conta que se fala de um desktop.

É um dispositivo que na minha opinião transpira “sala de estar” por todo o lado. E a forma como está pensado garante que fica bem ao lado de um televisor ou junto da box de televisão, dando ainda um toque de modernismo a muitas salas de estar.

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Depois encontrar uma unidade de armazenamento de 1 terabyte neste computador também foi uma agradável surpresa. Apesar de os ficheiros serem cada vez mais “espaçosos” devido ao aumento da qualidade, a verdade é que 1TB ainda é espaço mais do que suficiente para a acumulação de fotografias, séries, filmes e jogos. Sabendo que em muitos computadores portáteis os 500GB de armazenamento são a norma, neste ponto parece claro que o Pavilion Mini sai a ganhar.

Um terceiro elemento é o facto de este mini-PC poder ser atualizado ao nível do hardware. Quer dizer que se encontrar boas promoções em alguns componentes que pode dar “o salto”, ainda que a estrutura e o tamanho pequeno condicionem as extravagâncias dos utilizadores. Mas este é um ponto a favor relativamente a outros mini-desktops.

Por fim destaca-se o grande número de portas multimédia que existe em tão pequena concentração de espaço. São quatro portas USB 3.0 SuperSpeed, é uma entrada para cartão SD, é uma entrada Ethernet, é uma entrada áudio de 3,5 mm, é uma porta HDMI e uma DisplayPort.

Considerando o tamanho, seria difícil pedir mais. Claro que se estiver a usar todas as entradas o PC vai parecer um pequeno "polvo tecnológico". Mas se optar por um rato e um teclado sem fios - e é o que faz mais sentido neste caso -, então conseguirá facilmente manter o aspeto fancy deste mini-PC.

Se fica bem na sala, se está preparado para ficar “carregado” de conteúdos multimédia e se está também muito bem apetrechado de saídas, seria de esperar que estivéssemos perante o media center perfeito...

...nada mais incorreto.

Os males de Pandora

Tal como a caixa de Pandora, que continha em si todos os males do mundo, também o Pavilion Mini esconde na sua pequena estrutura alguns pontos fracos.

A começar pela questão do media center. Apesar de reunir condições para tal, a verdade é que pelo seu formato e forma como foi estruturado, acaba por não ter essa capacidade. O utilizador precisa sempre de periféricos para conseguir controlar o PC. E estar no sofá sentado com um rato e um teclado sem fios não é propriamente o cenário mais desejável.

Mesmo que use uma aplicação própria para controlar o PC à distância, tudo acaba por ser feito de modo lento e pouco prático. E num media center ser pragmático é fundamental. A HP podia ter feito acompanhar o portátil de um pequeno comando, que até podia ser encaixado no próprio equipamento.

E o facto de não ser autónomo a nível energético também condiciona um pouco o seu valor como media center. Pois à medida que cada vez mais as unidades de armazenamento vão evoluindo, como o WD My Passport Wireless, mais competição existe pelo dispositivo que concentra os conteúdos. E ligar um disco a um smartphone é bem mais simples do que ligar este computador a um monitor e outros periféricos.

Mas o Pavilion Mini, é preciso não esquecer, é um computador. O processador Intel Core i3 não surpreendeu, não por falta de potência para lidar com as tarefas do quotidiano e conseguir aguentar com as principais aplicações em simultâneo, mas porque parecia não haver uma boa otimização relativamente ao software.

Por vezes o computador era rápido, outras nem tanto com o próprio Windows a engasgar-se. Foi um desempenho demasiado intermitente para um i3, ainda que de quarta geração, mas a gráfica acabou por compensar.

Mesmo sendo uma unidade integrada Intel Graphics 4400, o facto de o Pavilion Mini ter aguentado bem o programa de modelos 3D Cura e de ter permitido jogar o jogo Hearthstone sem problema mostra que para jogos casuais e menos exigentes serve, mas qualquer “loucura” mais exigente terá de esperar para outra ocasião.

No geral o desempenho é satisfatório, mas não arrebatador. Ainda assim está em linha com aquilo que a maioria dos computadores portáteis dentro do mesmo preço apresentam.

Criar não chega. É preciso surpreender

Agora sou eu quem fecha os olhos, abre a palma da mão e rapidamente consegue visualizar um computador desktop portátil que era capaz de provocar um grande impacto. Pois seja num PC, num smartphone ou numa câmara fotográfica, toda e qualquer inovação bem implementada é bem-vinda.

Por exemplo, imaginaria facilmente a HP a usar a superfície do mini-desktop como um trackpad de grandes dimensões, mas que tem um tamanho bastante razoável para uma utilização a uma ou duas mãos. E desta forma já se dispensava a necessidade de um rato.

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Usando uma tecnologia semelhante à que a Apple aplica no Force Touch seria possível criar uma estrutura estática, mas que replica a experiência de utilização de um trackpad.

Outro add-on que facilmente veria implementado neste computador era uma pequena bateria cuja duração permitisse a capacidade de streaming de vídeo entre duas a três horas. Para um equipamento ser verdadeiramente portátil necessita de autonomia e independência energética. E se alguém pudesse usar o Pavilion Mini para ver um filme numa viagem de comboio, então aí sim estaria a justificar a sua mobilidade e ainda mais o investimento feito no equipamento.De que serve ser móvel se precisa sempre de uma ficha elétrica por perto?

Por fim defendo que a HP devia dividir esta máquina em duas através de um duplo sistema de arranque: um que levasse ao Windows tradicional para quando quisesse usar o PC; e outro que fosse mais leve e em backgroud, que ativasse apenas a funcionalidade Wi-Fi, o chip e o disco rígido para que pudesse ser feita uma ligação rápida e fácil ao televisor de casa ou ao smartphone/tablet só para consumo de conteúdos.

Ao proporcionar todas estas condições, ainda que por um preço maior, a Hewlett-Packard não estaria a criar mais um computador, estaria a criar o alvo a abater por várias categorias de produtos. Pois o que é realmente bom é aquilo que os utilizadores nem sequer sabiam que queriam.

Além de estar a dar mais razões para o investimento, a HP estaria a criar uma máquina única. Não vejo as sugestões feitas como motivo para encarecer muito mais o computador. Mas seriam sem dúvida adições que ajudariam a tecnológica norte-americana a distanciar-se numa franja de mercado que tem cada vez mais “participantes”.

Considerações finais

Tentador, mas difícil de justificar. É assim que classifico o HP Pavilion Mini. Não tem a potência de um desktop, mas tem toda a mobilidade de um portátil. Não é o melhor em nenhuma das categorias, mas posiciona-se bem entre as duas.

Sendo um bom computador desktop para o quotidiano, não sendo muito caro e tendo ainda a vantagem de ser totalmente transportável - além das vantagens referidas no texto -, é no entanto um equipamento muito dependente.

Dependente de periféricos e até dependente de uma fonte de energia constante. E se a questão do teclado e do rato são minimamente ultrapassáveis, se não houver um monitor ou um televisor então nada feito.

No entanto para um PC tão pequeno apresenta características muito “sérias” como as múltiplas entradas multimédia e como a unidade de armazenamento de 1TB.

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No entanto fico com a sensação de que a HP perdeu uma boa oportunidade para mostrar a importância que os mini-PC podem ter na vida das pessoas. Numa altura em que dezenas de empresas lutam para conseguir estar na sala de estar, a tecnológica norte-americana acertou em quase todas as notas, mas não criou a melodia certa.

Sobretudo no design, que para muitos será o mais difícil de conseguir, até esse já está alcançado. Se pudesse ter um PC e um centro multimédia totalmente portátil, então aí sim este investimento seria feito de olhos fechados e de palmas das mão abertas.

A menos que seja um utilizador casual, não muito exigente e a quem apenas dá jeito mexer o computador quando vai de férias ou em viagens de fim de semana,ou então um empresário de uma pequena empresa que gosta de ter o “negócio” sempre consigo, talvez necessite de procurar alternativas.

Por mais algum dinheiro penso que será preferível apostar num desktop mais potente, aproveitar para comprar um monitor decente e ficar “fixo”. Se a mobilidade é essencial então considere um tablet versátil como o Asus Transformer Pad ou um portátil tradicional como o Pavillion x360 ou o Acer Aspire Switch 10.

Rui da Rocha Ferreira