Tudo está a passar muito depressa. Ainda há pouco tempo os utilizadores estavam a barafustar contra a grande curva de aprendizagem a que o Windows 8 obrigava, assim como contra os portáteis pouco comuns que chegavam ao mercado. E eis que em pleno 2015 é possível comprar, por pouco dinheiro, um portátil, que é um tablet, e pode assumir outras formas pelo meio.

Falamos do Acer Aspire Switch 10 que tem um preço de mercado de 300 euros para a versão com 64GB de armazenamento interno.

Para um convertível é difícil arranjar por menos. E a versatilidade do equipamento, assim como o baixo preço, são de facto as suas grandes armas e características. Querendo isto dizer que o computador fica muito desprotegido ao nível das especificações e do desempenho.

Mas estas são as leis do mercado e há que saber cumpri-las. Se a concorrência é muita e diversificada, é preciso levar o factor de diferenciação para algum sítio. E nesse caminho a Acer acaba por fazer “mira” na cabeça de muitos consumidores que gostavam de ter uma máquina híbrida, mas simplesmente não têm o capital para investir.

O mais curioso no Switch 10 é que a Acer conseguiu fazer justamente o caminho contrário ao de alguns fabricantes: criou um portátil, mas fez um bom tablet, ao passo que há quem crie tablets que só fazem sentido como portáteis.

Falamos aqui de alguns pontos chave deste equipamento para que possa perceber o risco deste investimento e se bate certo com o seu perfil de investidor.

No poupar é que pode estar o ganho

Basta pegar no portátil para perceber que este é um equipamento de uma categoria inferior à maior parte dos computadores portáteis híbridos que estão a ser comercializados atualmente.

Apesar de pequeno, é pesado. Apesar de versátil, é grosso. Apesar de suave ao toque, é maioritariamente construído em plástico e isso transmite uma sensação de pouca robustez assim como de pouca qualidade de construção.

O próprio logótipo da Acer parece ser um pequeno autocolante metálico que está na parte traseira, mas que de um momento para o outro pode desaparecer.

Mas isto é se pensarmos no portátil como um todo. Se tirar o ecrã-tablet e avaliar apenas essa parte, verá que o dispositivo até tem linhas modernas, apesar da grande moldura que existe em torno do painel de dez polegadas.

Só com o tablet na mão já se sente um pouco melhor o alumínio escovado utilizado na traseira do equipamento - ainda que seja de qualidade menor ao que é possível ver noutros equipamentos - e o aspeto grosseirão quase que desaparece.

Mas sem teclado este seria apenas mais um tablet Windows - e no mercado já os há de qualidade, caso do BQ Tesla 2 W8 -, pelo que é necessário considerar todo o pacote.

Sobre o teclado em si há a referir uma boa distribuição de teclas, ocupando quase toda a largura da base, e também o tamanho e espaçamento aceitável das teclas. No entanto nem sempre as mesmas dão uma boa resposta, sendo este um teclado em que o utilizador carrega uma única vez no botão e por vezes está a fazer uma dupla entrada no processador de texto. Aconteceu em várias ocasiões para ser um defeito apenas do utilizador e a máquina safar-se sem culpas no cartório.

Mas nada como ter as expectativas mais modestas para ser surpreendido por alguns pontos que não são visíveis à primeira vista no Aspire Switch.

Em primeiro lugar o sistema de ligação entre ecrã e teclado através de ligas magnéticas de grande força e que funcionam bem. Não é tão simples como aquele que se pode encontrar no Surface 3 Pro, por exemplo, mas é robusto o suficiente para transmitir confiança.

Depois os ângulos de visão relativamente bons do ecrã. Para um portátil deste preço seria de esperar uma tela de baixa qualidade, mas tirando a definição pouco ambiciosa, este é um ecrã que cumpre bem na perspetiva do consumo de conteúdos multimédia.

No ecrã há ainda a referir os bons níveis de brilho que são conseguidos, que em contra-peso tem uma reprodução de cores ligeiramente artificial. Mas ao nível do toque é bastante responsivo e nunca causou embaraço.

O que também surpreende - e que foi apontado como crítica no Asus Transformer Pad - é o facto de o teclado do portátil funcionar como algo mais, neste caso como uma unidade de armazenamento de 500 GB. Um espaço muito bem vindo dado o armazenamento limitado que existe apenas na parte tablet.

Aspire “Modéstia” Switch

O portátil da Acer é muito modesto no que ao desempenho diz respeito. Estamos a falar de uma resposta aceitável para a navegação Web do dia a dia e para a produção de documentos, mas basta ter duas aplicações abertas em simultâneo e que sejam minimamente “espaçosas” - Chrome e Office, por exemplo - para que as dificuldades saltem logo à vista.

Passando pelo YouTube é possível visualizar vídeos em HD a 60 frames por segundo, mas se esticar até ao Full HD a 60 fps o cenário complica-se um pouco.

E isto porque a Acer optou por um processador Intel não muito potente - um Atom Z3735F de quatro núcleos a 1.33 GHz -, com uma gráfica Intel HD incorporada - e com uma velocidade de relógio que nunca ultrapassa os 600 Mhz - e ainda 2GB de RAM. Posto isto não se pode exigir de facto muito dinamismo ao computador no que diz respeito à performance.

O que também deixou a desejar foi a bateria. Numa utilização normal é possível atingir as quatro horas e meias de utillização, talvez um pouco mais, mas em ambiente de consumo multimédia a duração média também baixa um pouco.

Sabendo que não é um portento tecnológico, seria de esperar um pouco mais neste campo. Basta olhar para o que os Chromebook têm conseguido com autonomias quase nunca inferiores a oito horas.

Quanto a jogos terá de se contentar com os que encontra na loja do Windows e esperar uma resposta razoável do equipamento. Tudo o que forem títulos mais dedicados, mais "pesados", são para esquecer.

Uma versatilidade diferente

Já aqui foi dito que como tablet o Aspire Switch 10 é mais apelativo do que como portátil, no entanto o teclado é necessário para garantir produtividade e também versatilidade.

Mas ao contrário do que é visto em dispositivos como o HP Pavillion x360, no qual a dobradiça tem uma capacidade de rotação de 360º graus, no Switch 10 a dobradiça chega até aos 130º sensivelmente. O segredo está no ecrã que sai fora e que assume ele a rotatividade. Basta virá-lo ao contrário e colocá-lo nas dobradiças para ter um modo de visualização de terceira pessoa ou então um modo tenda.

E é esta versatilidade que faz do Switch 10 uma máquina especial. É preciso admitir que por vezes os ímanes de ligação foram demasiado fortes e puxaram o ecrã sem que tivesse sido feito o devido alinhamento. Mas este é pelo menos um sistema de transformação que faz mais sentido do que aquele que é possível ver em máquinas como o HP já referido.

O armazenamento extra é uma mais valia, mas gostaríamos de ter visto também o teclado como um reforço da bateria, para aumentar a autonomia total do equipamento - e que bem precisava.

Ainda que seja “casa” para uma porta micro USB, uma micro HDMI e outra USB 2.0 tradicional, uma entrada para cartões SD e talvez uma porta USB 3.0 não ficassem mal de todo na base do computador - são especificações “baratas”, mas que podem ajudar o consumidor a sentir-se mais atraído pelo pacote total.Se a Acer souber trabalhar em alguns destes aspetos, então uma segunda versão do Switch 10 pode tornar-se num sucesso comercial, sobretudo numa época como a do regresso às aulas.

Considerações finais

Chegados aqui muitos leitores já terão formado na cabeça o pensamento de que “não tem performance, não tem qualidade de construção”, pelo que é um mau investimento.

São 300 euros - repete-se, 300 euros - por um bom tablet e por um portátil modesto. Por este valor não pode querer alumínio em toda a linha, ecrã Full HD e teclado retroiluminado. Se este é o valor que está disposto a dar, ou que apenas tem disponível para investir num equipamento, fique com a ideia de que não poderá ter o melhor que o mercado tem para oferecer.

Isso e o facto de nem todos os consumidores serem tecnologicamente exigentes. Há quem goste de overclocking, há quem precise apenas de uma máquina para tarefas simples e aqui o Switch 10 é um bom candidato.

Consegue uma utilização casual tranquila, consegue produzir textos e consegue também algum divertimento através de streaming e de alguns jogos. Assim já começa a parecer um bom negócio certo?

E contra os aspetos menos positivos que o Aspire Switch 10 pode ter, há um grande elemento em destaque: a capacidade de armazenamento dupla, uma HDD tradicional e outra eMMC mais rápida. Use e abuse, não vai ficar limitado.

Não se pode contudo virar a cara ao facto do equipamento apresentar dificuldades de performance assim que são pedidas tarefas mais exigentes ou até alguma capacidade multitarefa.

E da mesma maneira que o HP Omen não é um portátil para todos os consumidores, este portátil da Acer também não o será - ainda que por motivos totalmente diferentes.

Ao longo da análise tentamos destacar o que é positivo e o que é negativo. Diga para si mesmo o que valoriza mais e qual a utilização que vai dar ao dispositivo e rapidamente saberá se esta é ou não uma escolha acertada.

Mesmo que já tenha um portátil potente, pode pensar neste equipamento como um companheiro versátil para os momentos menos exigentes. E com o Windows 10 ao virar da esquina, os dispositivos híbridos são os que vão sair mais a ganhar.

Veja na página seguinte todas as características técnicas do Acer Aspire Switch 10

Rui da Rocha Ferreira

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Especificações técnicas Acer Aspire Switch 10

Ecrã: 10 polegadas com resolução de 1.280x800 píxeis
Tecnologia de ecrã: TFT IPS com capacidade para reconhecer até 10 toques
CPU: Intel Atom Z3735F de quatro núcleos a 1,33Ghz com arquitetura de 32-bits
GPU: Intel HD integrada
Memória interna: 64GB eMMC + 500GB HDD
RAM: 2GB DDR3L
Bateria: ~ 4,5 horas
Tamanho: 26,1 x 17,7 x 8,9 centímetros (Altura x Largura x Espessura)
Peso: 585 gramas
Outras características: USB 2.0, microHDMI, microUSB, cartão microSD, Windows 8.1