O que é que faz o real valor de um smartphone? É o seu exterior? São as suas ‘entranhas’? É o desempenho geral? Ou é o desempenho específico, como a potência gráfica? Será a câmara? O software também deve contar, certo?
Há tantos elementos a considerar num smartphone que por vezes torna-se difícil, para não dizer quase impossível, escolher um dispositivo relativamente a outros. São parecidos em vários aspetos e cada um tem os seus prós e contras. Bem vindos ao eterno drama do consumidor.
Ali no bloco das perguntas houve uma que deixei fora de propósito, mas que coloco aqui por saber que é importante para o típico consumidor português: quanto custa afinal o smartphone?
É aqui que acho interessante um conjunto de marcas e respetivos equipamentos. Talvez não por apresentarem os melhores dispositivos, mesmo dentro dos seus segmentos de valor, mas por apresentarem propostas de valor interessantes que nos fazem questionar o verdadeiro valor de um smartphone.
O ZTE Axon Mini Premium pôs-me a pensar, no bom e no mau que tem sido feito no segmento dos smartphones. Na loucura que parece haver em alguns gastos e na castração de especificações que parece haver nos dispositivos mais baratos, o meio termo acaba por ser o caminho escolhido por muitos utilizadores.
É preciso gastar mais de 500 euros para ter um smartphone bonito e bem construído? Não. Devemo-nos deixar maravilhar pela magia de números e letras como ‘octa-core’, ‘13 megapíxeis’ e até Force Touch? Também não.
Estamos perante o caso clássico de um smartphone onde a forma supera o conteúdo. Isto é: o ZTE Axon Mini Premium é uma boa surpresa no que diz respeito ao design e aos materiais de construção, mas deixa-nos com algumas reservas ao nível do desempenho. Não deixa de ser um smartphone equilibrado para o nível de preço que apresenta, só que não é o melhor.
A sua maior contribuição é, inegavelmente, a confirmação que as marcas menos conhecidas podem não dominar no segmento dos dispositivos móveis, mas contribuem para que os grandes nomes do sector não fiquem à sombra da bananeira.
Ouro sobre azul
Este é um smartphone bonito, certo?
O design é o elemento em destaque neste ZTE Axon Mini Premium. Tem um tamanho compacto apesar do ecrã com 5,2 polegadas, assentando bem na mão. Para isto contribui o facto de ter um desenho mais arredondado, não só nas extremidades do equipamento como no próprio painel.
O ecrã é classificado como sendo de duas dimensões e meia, isto é, eleva-se um pouco relativamente ao chassis do telemóvel e acaba por contribuir para um aspeto diferenciador. Pela positiva neste caso.
Sobre o ecrã há ainda a referir o facto de ter resolução Full HD, não das mais impressionantes que já vi num painel desta resolução, mas que garante uma boa definição. Isto para dizer que gostei imenso das cores do ZTE Axion Mini Premium e da saturação que dá às tonalidades. Também gostei bastante da reprodução da cor preta, apresentando-se intensa, o que conferia uma maior profundidade à linguagem visual do equipamento, o que por sua vez fazia destacar a cor dourada do nosso modelo de testes. Nota positiva ainda para os ângulos de visão.
Depois na parte frontal notam-se de imediato duas grelhas trabalhadas, uma na parte superior e outra na inferior. Este ladrilhado confere um aspeto moderno ao ZTE e apenas há a condenar o facto de ser feitao em plástico. A ZTE fez estes elementos de maneira a parecer que estão integrados com o restante corpo do smartphone, que é maioritariamente em alumínio. Não é o caso, mas pelo menos não é algo que prejudique o visual do equipamento.
O mesmo não pode ser dito das duas faixas que estão colocadas na parte traseira. A ideia é criar a sensação de pele, mas ao tacto não parece nada mais do que plástico. E como é plástico depois acaba por apresentar um brilho exagerado em comparação com o restante equipamento.
Ainda relativamente ao ladrilhado que existe na parte frontal fica a nota que não são colunas: apenas no canto inferior direito os espaços são aproveitados como sistema de som, os restantes são mesmo decorativos.
Sobre o alumínio usado na capa traseira e na lateral do smartphone há que louvar pois contribuiu de sobremaneira para criar uma sensação de equipamento premium. Por exemplo, o Axon Mini consegue passar melhor esta mensagem do que o Aquaris X5 da BQ que só aposta em alumínio na lateral.
O metal escolhido não é o de maior qualidade, mas transmite uma boa sensação ao toque.
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Se pelo ‘olhar e sentir’ este smartphone está bem cotado, sobretudo olhando para o preço a rondar os 329 euros, há outros factores a considerar.
Nem tudo o que reluz é ouro
Tal como acontece com as pessoas, nos smartphones o interior também conta e muito.
A ZTE faz uma personalização muito forte do sistema operativo Android na versão Lollipop e parece-me que esta é uma das razões que explica o desempenho intermitente do equipamento. Intermitente pois nem sempre responde como seria de esperar, mas fiquei com a sensação que isso deve-se a uma má otimização do software.
Pois do lado do desempenho em tarefas concretas - navegar na Internet, utilização de aplicações e também nos jogos - o smartphone não desiludiu. Mesmo não tendo um desempenho estratosférico, tem um desempenho que cumpre. Foi durante uma semana e meia o smartphone do meu quotidiano e não senti qualquer ‘atraso’ causado por hardware insuficiente.
É verdade que por vezes as aplicações demoravam um pouco mais a abrir do que o que seria desejável, mas não é algo certo e prejudicial ao ponto de não recomendar o smartphone. Ainda assim isto é algo que com o tempo de utilização tenderá a agravar-se e quase nunca a melhorar.
Mesmo apresentando um processador Snapdragon 615 com oito núcleos a 1,7GHz, também não senti a potência que estes núcleos todos devia dar tal como acontece nos topos de gama. Dizer que tem um desempenho normal para uma utilização normal é a forma mais clara de colocar a questão.
Num teste de desempenho feito no benchmark da Antutu o Axon Mini premium conseguiu 35806 pontos: para ter uma ideia é três vezes inferior ao smartphone mais potente do mundo e quase metade do que é possível atingir com um Asus Zenfone 2.
Nas especificações o chip é ajudado por 3GB de RAM e por 25GB de armazenamento interno. 25GB? São anunciados 32GB, mas neste caso uns bons gigabytes acabam por estar reservados para outros elementos do smartphone que não a atualização do utilizador.
Mais um elemento que cumpre sem grandes extravagâncias é o sensor fotográfico de 13 megapíxeis. Está longe de apresentar uma otimização de imagem semelhante à que existe nos smartphones topo de gama como o LG V10, mas servirá para captar os momentos do dia a dia tendo em vista a sua partilha nas redes sociais.
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As cores ficam um pouco esbatidas e nada vibrantes, o que acaba por contrastar com o ecrã bem saturado.
Na câmara gostei do facto de haver um sistema de focagem rápido, mas que depois acaba por ser um pouco condicionado pela velocidade de disparo. Não capta a foto no momento em que carrega no botão de disparo, havendo ali um intervalo de tempo precioso que pode significar perder a fotografia que tanto procurava.
Um último elemento que devo partilhar com os leitores: o smartphone tem um sistema de gestão de energia bastante agressivo. E isto pode ser bom ou mau. É bom no sentido em que não deixa aplicações ‘ruminarem’ em segundo plano de forma excessiva, sugando a bateria ao equipamento.
Mas pode ser mau na medida em que durante alguns períodos o WhatsApp deixava de enviar notificações e o despertador tocava 13 minutos depois da hora prevista.
Como uma das grandes vantagens dos smartphones é a atualidade instantânea, parece-me que o sistema de gestão vai um pouco além dos limites. Uma atualização de software corrige isto de forma simples, é preciso no entanto que ela venha a acontecer.
Trincar para saber se o ouro é falso
O ZTE Axon Mini Premium vem com algumas funcionalidades extra que suportam a ideia de premium e que deviam colocar o smartphone um patamar acima de outros equipamentos no segmento dos 300 euros.
Refiro-me sobretudo a três elementos: leitor de impressões digitais; leitor de retina; e ecrã com tecnologia Force Touch. Vamos por partes.
O leitor de impressões digitais é pouco preciso. Raramente reconhecia o meu dedo indicador à primeira e em cada dez tentativas de desbloqueio, quase metade eram falhadas. Não fiquei nada impressionado nesta perspetiva.
O que é pena tendo em conta que quando fazia o reconhecimento até o fazia de forma rápida, desbloqueando o smartphone no instante a seguir. Mas a precisão era de tal forma reduzida que acabei por utilizar o típico desbloqueio por padrão.
Mas como este é um smartphone com várias valências dei uma oportunidade ao leitor de retina. Biometria ocular, parece excitante… mas não foi. Além da dificuldade que tive em definir corretamente este modo pelo longo período de tempo em que tive de ficar de olhos ‘escancarados’ para o telemóvel, depois acabou por também não funcionar de forma positiva.
Fiquei com a sensação que não existe propriamente uma tecnologia de reconhecimento de retina de alta precisão. O sensor fotográfico de oito megapíxeis que está na parte frontal do telemóvel é essa ‘tecnologia biométrica’ e claro está, em ambientes pouco iluminados o reconhecimento fica ainda mais difícil.
Quanto ao Force Touch reconheço que funcionou, mas precisei de treino para conseguir adaptar a pressão certa para fazer saltar no ecrã as opções extra. Esta tecnologia permite que o utilizador pressione o ecrã com mais força para ‘libertar’ funcionalidades secundárias. Por exemplo: pressione bem o ícone de uma aplicação e veja automaticamente surgir as definições da mesma.
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A ZTE trabalhou o seu software de modo a que algumas funcionalidades fizessem uso do Force Touch. O leitor de vídeo é um dos casos mais fácil de entender: pressione do lado direito e o filme avança; pressione do lado esquerda e o filme recua.
Ao contrário do que acontece com a Apple - que já tem vários programadores a aderirem ao 3D Touch do iPhone -, a ZTE está aqui a reservar o toque por força às suas aplicações proprietárias - e nem sequer vão ser das que mais vai usar, devido à grande variedade e qualidade de soluções que existe no ecossistema Android.
Conclusão: tem um gimmick funcional no smartphone, mas não tem propriamente aplicações para tirar partido dessa vantagem. Uma vez mais fica a ideia da forma sobre o conteúdo. Talvez venha a ser mais útil um dia que o sistema operativo Android e os fabricantes parceiros decidam dar o mesmo passo que a Apple. Até lá será apenas uma gracinha para mostrar aos seus amigos.
Considerações finais
Agora que aqui chegamos, já sabe qual é o verdadeiro valor de um smartphone? Refiro um último elemento relativamente ao equipamento de marca chinesa para perceber esta ideia.
Atualmente valorizam-se muitos componentes, mas um que me deixou surpreendido foi a qualidade do microfone. Possivelmente não consta sequer no top 15 de preocupações de um consumidor na hora de aquisição de um smartphone, mas também contribui para o seu valor global.
Além de garantir uma boa qualidade nas chamadas, foi durante uma gravação de uma entrevista que fiquei positivamente surpreendido. É só mais um elemento para baralhar a equação final...
Resultado: o ZTE Axon Mini Premium é claramente para os que procuram um dispositivo visualmente apelativo e não uma máquina de desempenho. É bonito e destaca-se facilmente da restante matilha de smartphones, podendo mesmo conquistar utilizadores apenas pela sua forma. No final das contas, aquele alumínio dourado chama mesmo a atenção.
Este Axon Mini é um dispositivo de altos e baixos. Apresenta algumas características com qualidade, como o ecrã, mas outras deixam a desejar, como a vertente de software. Ainda assim considero que apresenta uma relação qualidade-preço razoável, ainda que seja possível encontrar muito melhor - basta pensar no One Plus 2, no Moto X Style ou no Huawei G8.
Para mim como jornalista o grande valor deste ZTE é o facto de mostrar que é possível fazer dispositivos com construções interessantes sem que isso tenha um grande peso no orçamento final.
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Quem diz a ZTE diz facilmente a Xiaomi, a Oppo ou a One Plus, marcas que não entram tanto na alta roda mundial dos smartphones, mas que têm trazido valor ao mercado. Mais não seja por colocarem pressão nos grandes players que são obrigados a andar para a frente.
O Axon Mini Premium não tem uma construção tão apurada como um iPhone 6s, um Galaxy S7 ou um LG G5. Mas não deixa de ser uma boa construção num design apelativo. E por metade do preço.
Samsung, Apple, Huawei, LG, HTC e Sony: o melhor é andarem para a frente, pois atrás vem gente.
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