Shape and Share foi o tema deste ano dos Open Days que todos os anos são organizados pela instituição, para dar oportunidade a clientes, parceiros e outros interessados de conhecerem as áreas de aposta dos investigadores.



Network Empowerment, Technology Boosters, New Computing Frontiers e Discover Social & Multimedia foram as quatros áreas em que se dividiram as quase 30 demos em ação nos laboratórios localizados nos arredores de Paris, por onde passam, todos os anos, cerca de 1.500 visitantes.



São sobretudo clientes, mas também representantes do poder político, da academia e de organizações da indústria, que ali podem ver demonstradas tecnologias de última geração. O grupo tem centros idênticos nos Estados Unidos, na China, na Coreia, Índia, Alemanha, Bélgica e Irlanda.



O TeK passou pelo centro de demonstração francês e hoje mostra-lhe alguns dos projetos exibidos. Na maioria dos casos são desenvolvidos em colaboração com parceiros externos. Vários são apoiados pelo 7º Programa Quadro de Investigação da Comissão Europeia.



Explorar informação na web


O Discovery Hub foi um dos projetos em demonstração e trabalha uma nova forma de recomendar conteúdos multimédia. A proposta dos investigadores é permitir ao utilizador explorar informação em vez de simplesmente navegar. Tira partido da base de informação disponível na DBpedia, um projeto colaborativo criado para extrair informações estruturadas da Wikipedia e permitir que os dados dispersos por esta enciclopédia livre sejam usados para responder a questões concretas, explorando novas formas de tirar partido do portfólio de informação ali reunido.


A DBpedia reúne hoje mais de 3,77 milhões de entradas, com 277 milhões de ligações entre si e essa é a base que sustenta o Discovery Hub. A partir daí, os investigadores desenvolveram um algoritmo que recorre a uma técnica de agregação por semântica (Semanitc Spreading Activation), criando um protótipo de uma solução que permite pesquisar uma informação e daí navegar para vários conteúdos. O algoritmo foi desenhado para processar a informação sugerida no momento, pelo que não requer o pre-processamento dos resultados que vão sendo apresentados.


Na demonstração feita nos Bell Labs o tema pesquisado era Claude Monet. Na resposta o utilizador recebia recomendações, detalhes sobre o assunto e relacionados entre si e ligações para serviços ou plataformas, onde é possível explorar mais informação, como sejam plataformas multimédia de vários fabricantes. Os resultados de pesquisa são apresentados por categorias.



Novas formas de fazer chegar conteúdos

As redes IP são "cegas" relativamente ao tipo de conteúdo que transportam. Os endereços deste tipo foram desenhados para permitir o transporte de informação de um lado para outro, sem diferenciar o conteúdo. Com a evolução dos serviços de dados e a introdução de funcionalidades em serviços de TV, como a possibilidade de gravar um conteúdo para ver mais tarde ou "puxar" um programa atrás, isso representa um desafio para as redes dos operadores.



Hoje responder a pedidos específicos para um conteúdo gere-se ao nível da camada aplicacional da rede, em plataformas dedicadas. O projeto que junta várias equipas de investigação dos Bell Labs a outras entidades de investigação está a trabalhar num sistema de nomes para substituir os atuais números que compõem os endereços IP.



Ainda numa fase inicial, a aplicação de software revela já uma forma de aplicar este sistema de nomes - que integram diferentes tipos de informação sobre o conteúdo - numa plataforma de software que faz o roteamento consoante o tipo de conteúdo, em ligações muito rápidas (na demonstração as ligações são feitas a 10 Gb/s) e garantindo suporte para um número muito alargado de pedidos recebidos em simultâneo. O projeto é um primeiro passo no desenvolvimento de um protocolo e de uma arquitetura integrada de sistemas para redes orientadas à informação (INSPIRE).



Twitter à lupa em tempo real

O Twitter assumiu-se como uma plataforma de referência nas redes sociais e onde há utilizadores de Internet há debate garantido no serviço sobre os principais tópicos da atualidade. Organizar e mostrar essa informação de forma relevante é uma tarefa complicada, que a plataforma já ajuda a resolver a partir dos #tags. O Tweetpaper, que tem por base um dos projetos apoiados pelo 7ºPQ da Comissão Europeia em que os Bell Labs participam, endereça a questão.


>O objetivo é capturar informação em tempo real sobre os principais tópicos em discussão na rede, criando correlações entre estes de forma massiva e automática. Para o fazer os investigadores desenvolveram ferramentas que permitem identificar quando um conteúdo de vídeo ou áudio se torna popular porque há muita gente a lançar tweets sobre isso. Com esta informação um operador pode, se for caso disso, preparar-se para um número anormal de acessos a um conteúdo antes que os servidores comecem a deixar de ter capacidade para responder a esse boom.


A análise da informação é feita "cortando" cada frase analisada em todas as sequências lógicas de palavras possíveis, procurando semelhanças. A partir daí categorizam-se temas e relacionam-se subtemas. Funciona com quase todas as línguas e consegue trabalhar mesmo a partir das abreviaturas usadas por muitos utilizadores para conseguir expressar opiniões no limite dos 140 caracteres permitidos pelo Twitter.



Na demo criada pelos investigadores dos Bell Labs, os resultados categorizados por tópicos são apresentados em formato de jornal.

Melhorar a experiência móvel

Outro dos projetos desenvolvidos com o apoio do 7º Programa Quadro, mostrado no centro de I&D tem como objetivo melhorar a experiência de utilização dos dispositivos móveis. Uma das empresas envolvidas no grupo é a Portugal Telecom e nos Bell Labs há mais um contributo português para o projeto: o de Rui Costa, que está no centro de investigação a cumprir um programa de doutoramento. Há dois anos nos Bell Labs, acumula já a segunda experiência de trabalho internacional na área das redes de telecomunicações. Antes tinha estado na NEC, na Alemanha, a fazer um estágio.



Explica que o projeto onde está inserido baseia-se no desenvolvimento de uma arquitetura idealizada para garantir ao utilizador uma experiência de utilização das redes móveis sempre nas melhores condições, independentemente da rede usada.
A arquitetura simplifica o processo através do qual um utilizador pode passar de uma rede para outra, consoante a qualidade do sinal em diferentes locais e fá-lo de forma pouco dispendiosa para o operador.



O protótipo que pode ser visto nos Bell Labs tira partido de conceitos como o Distributed Mobility Management, para uma gestão inteligente e distribuída de pontos de rede. Este mecanismo difere do que é usado em sistemas de gestão centralizados para pontos de rede específicos, onde a gestão é mais dispendiosa.
Do lado dos conteúdos, o projeto assenta no conceito de Content Delivery Networks para a distribuição em larga escala de conteúdos com custos mais controlados e um impacto menos significativo na rede.



Medir o sucesso de uma videoconferência

Outro cenário, outro desafio. Uma equipa de investigadores que envolve entidades de vários países, Portugal incluído, mostrou no evento como podem as emoções ser usadas para otimizar a eficácia de conteúdos distribuídos através de videoconferência.


O projeto coloca em prática diferentes mecanismos para medir a atenção de um utilizador ao conteúdo emitido. Expressões faciais, ou mesmo ondas cerebrais, podem transformar-se em elementos importantes para adaptar o conteúdo e garantir a atenção da audiência.


Na demo a tecnologia era aplicada para recolher informação a três níveis: heurístico – para deteção de eventos áudio e vídeo; comportamental – para a deteção de sorriso e expressão facial: ou direto – para a deteção de ondas cerebrais.


A visita guiada está feita, embora o número de demos a visitar fosse bastante superior. A gestão multimédia, a vários níveis, foi sem dúvida um dos temas mais fortes da mostra deste ano, que terminou na passada quinta-feira à tarde.


Espaço de destaque tiveram ainda outros temas, como a cloud, com projetos focados em questões como a segurança e o controlo de privacidade da informação, entre outros.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Cristina A. Ferreira