
Por Hugo Roque (*)
Warren Buffett tem uma forma curiosamente simples de explicar o que distingue as grandes empresas das restantes: a vantagem competitiva é como um fosso que protege o castelo. Quanto maior e mais profundo for esse fosso, mais difícil será para os concorrentes ameaçarem a fortaleza. No setor financeiro, esse fosso deixou de assentar exclusivamente em fatores tradicionais como as taxas de juro ou a presença física através das agências – hoje, constrói-se com tecnologia.
A transformação digital na banca não é nova, mas o ritmo e a profundidade com que se intensificou nos últimos anos tornaram a tecnologia num verdadeiro fator de sobrevivência e diferenciação. Desde os primeiros mainframes usados para registar transações nos anos 60 até à aplicação atual da inteligência artificial generativa no aconselhamento financeiro, a evolução tem sido constante – e cada vez mais estratégica.
Hoje, a tecnologia já não é apenas suporte operacional. É o motor que define quem se destaca e quem fica para trás. Um estudo da Bain & Company, reforça esta ideia com dados concretos: os bancos tecnologicamente mais avançados apresentam uma rentabilidade 5 pontos percentuais superior, uma estrutura de custos mais eficiente e níveis mais elevados de satisfação dos clientes (retorno médio dos acionistas 5 pontos percentuais superior, uma relação Cost to Income [custos totais em percentagem das receitas] 10 pontos percentuais mais baixa e um Net Promoter Score [medida de satisfação dos clientes] 12 pontos mais alto em comparação com os seus concorrentes). Investir em tecnologia é, também, investir na confiança e lealdade – dois ativos fundamentais num setor onde a relação continua a ser determinante.
Para alcançar esse nível de maturidade tecnológica, o caminho exige estratégias claras e consistentes. A simplificação de processos, a digitalização da experiência do cliente e o investimento contínuo em capacidades tecnológicas robustas são, segundo a Bain, três dos pilares mais eficazes. Não se trata de gastar mais, mas de gastar melhor – com visão de longo prazo.
Essa visão tem de ser transversal a toda a organização. A tecnologia deve ser uma prioridade estratégica ao mais alto nível, integrada nas decisões dos conselhos de administração e das comissões executivas. As equipas de IT e de negócio devem atuar como verdadeiras parceiras, e não como entidades isoladas. Num ambiente de elevada exigência regulatória, riscos crescentes de cibersegurança e clientes cada vez mais exigentes, são necessárias soluções ágeis, seguras e centradas na experiência.
Mas talvez o ponto mais relevante seja este: o investimento tecnológico não pode ser encarado como um projeto com data de fim. A mudança tem de ser contínua, quase orgânica, substituindo gradualmente outras formas de despesa menos estruturantes. A banca do futuro será aquela que conseguir criar um ciclo virtuoso de inovação, onde eficiência e experiência andam lado a lado – e onde o fosso competitivo se aprofunda todos os dias, não apenas nos relatórios financeiros, mas sobretudo no que realmente importa: o serviço prestado ao cliente.
(*) Expert Leader IT CIB & AWM na Natixis em Portugal
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