Acabámos de entrar na primeira semana (oficial) do ano de 2013 e as perspetivas que se abrem não são as mais risonhas. A conjuntura económica é uma das principais causas do desalento que grassa pelo sector empresarial e entre os consumidores, gerando a já famosa "espiral recessiva" de redução de investimento e de aquisição de produtos, que se reflete nos resultados económicos das empresas do sector das Tecnologias da Informação e Comunicação.
Não há nenhuma consultora ou analista que se atreva a avançar com perspetivas otimistas para o novo ano, mas não é por isso que não haverá pontos positivos a explorar em 2013, resultando da dinâmica do sector, onde as empresas sondam cada vez mais oportunidades no mercado internacional, inovando em termos tecnológicos e de serviços. E também através da necessidade das empresas e da Administração Pública continuarem a investir para se manterem competitivas, até porque as TIC continuam a ser reconhecidas como um dos motores para o desenvolvimento do negócio nas diferentes áreas da economia.
Depois de termos eleito o melhor da tecnologia, com uma lista de produtos e serviços que submetemos à votação dos leitores, e de elencarmos os fiascos de 2012, hoje recorremos às principais associações do sector das Tecnologias da Informação e Comunicação para ajudar a perceber as expectativas para o ano de 2013, aproveitando ainda o "tempo de antena" para definir os pontos fortes (e fracos) do ano que terminou.
As visões divergem consoante a orientação das associações, mas em geral o balanço do ano de 2012 é positivo, e as expectativas para 2013 trazem também perspetivas de desenvolvimento, alicerçadas no aumento das exportações, na dinâmica competitiva e na antecipação dos efeitos benéficos da nova Agenda Digital e do Plano de Racionalização das TIC na Administração Pública. Cabem também na análise as questões relacionadas com a competitividade nas telecomunicações, a adoção de software open source e a polémica da Cópia Privada.
Veja abaixo a visão de cada uma das associações, detalhadas em relação ao balanço de 2012 e às linhas mestras que são traçadas para o ano que agora se inicia:
ANETIE: As TIC como pilar de uma mudança competitiva- ANSOL: Guerra anunciada contra o acesso universal à cultura
- APRITEL: Apostar na defesa da concorrência nas telecomunicações
- ESOP: Promessas open source no plano de racionalização das TIC na AP
Foram contactadas também a APDC, a APDSI e a ACEPI, mas estas associações não mostraram disponibilidade para responder em tempo útil.
Siga os links abaixo para ler todas as opiniões, por ordem alfabética.
ANETIE: As TIC como pilar de uma mudança competitiva
ANETIE: As TIC como pilar de uma mudança competitiva
Armindo Monteiro, presidente da ANETIE (Associação Nacional das Empresas de Tecnologias de Informação e Eletrónica)
Mais do que rever as dificuldades, que todos sentimos, é importante que o balanço de 2012 evidencie as lições que dele temos de retirar. De facto, o ano de 2012 fica marcado por um conjunto de constatações que têm, forçosamente, de ser convertidas em estratégias orientadoras para 2013.
[caption][/caption]Por um lado, a tão falada espiral recessiva, marcada pela dualidade inerente às medidas de austeridade, que são tão indispensáveis para sanear as finanças públicas como indutoras do estrangulamento da atividade económica. Por outro, e no seguimento desta consciência, a indubitável confirmação de que o crescimento económico é a única solução para a crise em que nos encontramos.
Acresce ainda a noção de que, dada a retração do consumo interno e do próprio investimento, tal crescimento está cada vez mais dependente das exportações. E nessa matéria as empresas tecnológicas têm vindo a destacar-se positivamente. O setor português das TICE demonstra uma tendência maioritária para internacionalizar as suas atividades e investimentos e os empresários já perceberam que só através de uma aposta concertada em investigação e desenvolvimento será possível obterem as vantagens competitivas necessárias ao sucesso no mercado global.
Tendo em conta estes pressupostos, e tendo perfeita noção de que famílias e empresas estão no limite dos seus sacrifícios, resta-nos esperar que em 2013 as medidas de consolidação orçamental não minem importantes instrumentos de estímulo ao crescimento e de apoio ao tecido empresarial. Destaquemos, a propósito, o financiamento, reconhecendo depositar esperanças numa maior facilidade de acesso ao crédito, sobretudo por parte das pequenas e médias empresas exportadoras.
Empresas essas que estarão certamente associadas a setores pioneiros em matéria de recuperação. Setores como o das TICE, que terão obviamente que reforçar as suas vantagens competitivas através do conhecimento, da inovação tecnológica e da diferenciação, de modo a vingar no mercado externo.
De resto, acreditamos que o novo ano reforçará também a importância deste setor para a reestruturação e reorganização do tecido económico nacional, imposta pelo atual contexto. Numa altura em que as empresas se vêm forçadas a ter capacidade de inovar e de encontrar novas formas de melhorar os respetivos serviços e produtos, as tecnologias de informação e comunicação deverão ser cada vez mais reconhecidas como pilar da almejada mudança competitiva da economia portuguesa.
ANSOL: Guerra anunciada contra o acesso universal à cultura
ANSOL: Guerra anunciada contra o acesso universal à cultura
Rui Seabra - presidente da Ansol (Associação Nacional para o Software Livre)
2012 foi um ano muito bom para o Software Livre.
Por um lado, vários eventos anuais foram realizados durante esse ano bem como o serão durante 2013, nomeadamente o Document Freedom Day, o Day Against DRM e o Software Freedom Day, para não falar no Evento Linux.
Por outro lado, notoriamente a camada de decisão política vai revelando uma cada vez maior perceção da importância que o Software Livre e as normas abertas têm, tendo não só publicado um muito bom Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital que torna obrigatório a utilização de várias verdadeiras normas abertas reconhecidas internacionalmente, com particular destaque para o Open Document Format na documentação de escritório, como também votaram por unanimidade um artigo do corrente Orçamento de Estado para 2013 que obriga a considerar o Software Livre nas despesas relacionadas com software.
Por fim, houve uma grande vitória com a derrota de um desastroso projeto de lei, o famoso #PL118, que iria regimentar a Cópia Privada por forma a extorquir milhões de euros dos bolsos dos cidadãos quando investem em informática para benefício exclusivo das obsoletas entidades de gestão de direitos.
Para 2013, esperamos ver os primeiros resultados destas alterações legislativas que começam a quebrar o ciclo vicioso da contratação pública de software proprietário e formatos fechados, bem como as novas edições dos eventos relacionados com o Software Livre.
Mais grave e urgente é algo que estava na minha lista de previsões para 2013 mas que arrancou no passado dia 31 de Dezembro de 2012 com a publicação em Diário da República da Agenda Portugal Digital e as Grandes Opções do Plano, pelo Governo, que abrem guerra contra o acesso universal à cultura alegando uma necessária e nunca demonstrada necessidade de proteger os interesses da "indústria" criativa.
Anunciam que vão estender a Cópia Privada ao contexto digital, o que simplesmente se traduz em "#PL118 parte 2: o Regresso", rever o direito de autor e publicar uma lei anti pirataria.
Tendo em conta o tom do texto, não só podemos esperar ausência de debate com a sociedade civil perante um extremar de posições, como claramente não há interesse em aguardar pelos resultados dos estudos que estão a ser feitos na União Europeia almejando harmonizar estas questões.
Tal como o lobby não queria debate público com o #PL118, seja qual for o número da proposta de lei que se segue estaremos cá para o trazer ao de cima, e já comunicámos ao Secretário de Estado da Cultura a nossa disponibilidade para participar no processo, como temos feito desde que existimos, apesar de ignorados.
APRITEL: Apostar na defesa da concorrência nas telecomunicações
APRITEL: Apostar na defesa da concorrência nas telecomunicações
Ana Paula Marques, presidente da APRITEL (Associação dos Operadores de Telecomunicações)
Em 2012 o setor continuou a assumir-se como um dos principais atores da economia nacional, não só pelo peso que diretamente teve no PIB nacional como, sobretudo, pelo facto de ter continuado a fornecer aos demais setores económicos ferramentas inovadoras e cada vez mais sofisticadas para o seu desenvolvimento e aumento de produtividade.
[caption][/caption]Este contributo é tanto mais relevante porquanto foi conseguido num contexto de contração generalizada da atividade económica e, em simultâneo, não só de acréscimo do custo dos fatores de produção, como também de uma tendência para sobreonerar o setor que se fez sentir de forma crescente.
Exemplo disto foi não só a recém-aprovada Lei do Cinema que cria um autêntico imposto sobre o setor, que é de legalidade duvidosa, e injustificadamente discriminatório, mas também os preços excessivos cobrados aos operadores por parte de algumas sociedades de gestão coletiva de direitos de autor e conexos num contexto de total falta de transparência e fundamentação.
Apesar disto, que acresceu ao contexto de recessão que se viveu em 2012, a APRITEL privilegiou uma postura positiva e construtiva, contribuindo proativamente para encontrar soluções e caminhos que apontem para a recuperação económica e para o desenvolvimento do nosso País. Concretamente, contribuiu para uma melhor e mais eficiente cooperação entre o setor que representa e a Administração Pública.
O ano de 2013 será, portanto, um ano de continuidade neste posicionamento da APRITEL enquanto parceiro ativo no desenvolvimento económico do País, tanto junto do regulador, como do Estado e dos demais agentes públicos e económicos.
A APRITEL está confiante que o setor estará à altura de continuar a dar o contributo que o País precisa e de se afirmar como um dos principais motores de desenvolvimento sustentado da economia nacional.
É, porém, necessário que se continue a apostar na defesa das condições de investimento e de concorrência em Portugal por forma a que os Associados da APRITEL consigam efetivamente continuar a concorrer, investir e inovar no mercado das comunicações eletrónicas.
Por último, a APRITEL saúda a Resolução do Conselho de Ministros 112/2012, de 31 de dezembro, relativa à Agenda Portugal Digital, estando naturalmente empenhada em, uma vez mais, dar o seu contributo e nela participar ativamente.
ESOP: Promessas open source no plano de racionalização das TIC na AP
ESOP: Promessas open source no plano de racionalização das TIC na AP
Álvaro Amorim Pinto, presidente da ESOP (Associação de Empresas Open Source Portuguesas)
Dois mil e doze foi um ano difícil para Portugal e consequentemente para as empresas de TIC. É manifesta a redução na capacidade de investimento do sector público e do sector privado em TIC.
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Apesar destas dificuldades, houve algumas mudanças significativas e muito positivas para o mercado das tecnologias open source. O plano de racionalização e redução das TIC na Administração Pública e a legislação sobre normas abertas e interoperabilidade são talvez os melhores exemplos.
Os decisores políticos e da administração pública estão cada vez mais informados e sensibilizados para a necessidade de uma política transversal em matéria de TIC, que garanta a defesa dos interesses do país, nomeadamente a maior interoperabilidade entre sistemas de informação, maior racionalização nos investimentos e na manutenção de sistemas de informação, maior independência relativamente a fornecedores e maior investimento no sector de TIC nacional.
Para o sector privado, as empresas da ESOP desenvolveram alguns projectos de dimensão relevante, com recurso a tecnologias open source. Importa referir que, em sectores tradicionalmente mais conservadores, como é o caso da banca e seguros, verificou-se em dois mil e doze um interesse crescente por este tipo de soluções.
Para dois mil e treze a nova direcção da ESOP vai desenvolver um conjunto de acções de divulgação das tecnologias open source, das boas práticas nacionais e mundiais e dos produtos e serviços das empresas associadas da ESOP.
É fundamental que as empresas e a administração pública percebam que a adopção de tecnologias abertas beneficia as suas organizações e que as empresas associadas da ESOP oferecem um conjunto de serviços de qualidade, que permitem minimizar os riscos de mudança e garantir o sucesso dos seus projectos.
O ano de dois mil e treze é também decisivo na prossecução dos objectivos do plano estratégico de racionalização das TIC na administração pública. O plano prevê a adopção de tecnologias open source pelos serviços públicos e a ESOP está empenhada em apoiar e colaborar com as entidades responsáveis pela implementação dos projectos, de forma a garantir o sucesso destas medidas.
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