A Internet trouxe ao mundo da música novas oportunidades, mas também novos desafios. Se as tecnologias evoluíram, a indústria discográfica teimou em insistir no modelo de negócio que praticou desde sempre, cedendo pouco e "retaliando" muito.

A Warner Music acaba de reportar perdas de 46 milhões de dólares para o trimestre terminado em Setembro, devido sobretudo à queda contínua da venda de CDs, quando em igual período do ano passado já tinha registado um prejuízo de 18 milhões de dólares. A facturação caiu cerca de 13 por cento, para os 752 milhões de dólares.

Neste modelo de negócio, a aposta alternativa no sentido da disponibilização paga de conteúdos online, apesar de registar crescimentos, parece não bastar para compensar as perdas. A culpa, já se sabe, é da pirataria.

Relativos a 2009, os dados mais recentes da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla original) davam conta que a venda de música digital cresceu 12 por cento durante o ano, o que se traduzia num valor estimado de 4,2 mil milhões de dólares e correspondia, pela primeira vez, a mais de um quarto (27%) das receitas da indústria discográfica.

O relatório da IFPI não deixava, contudo, de mencionar a pirataria, que acusa permanecer como "um enorme obstáculo ao crescimento do mercado". De acordo com dados revelados, as receitas geradas pelo sector caíram 30 por cento entre 2004 e 2009, além do abrandamento das vendas digitais.

Entre processos em tribunal interpostos pelas editoras e as reivindicações (mais justificadas ou nem por isso) dos ciberconsumidores, a "guerra" instalada parece não ter fim à vista. Daí que, de tempos a tempos, surjam propostas alternativas, nem sempre totalmente dentro da lei, mas com justificação para tal. É o caso dos sites de "sharity".

O conceito não é novo, mas nem por isso tem direito a definição na Wikipédia, e mistura dois princípios "sharing" (partilhar) e "charity" (caridade), no que poderá querer dizer, numa tradução (muito) livre "partidoar".

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A ideia passa por usar as mais-valias da tecnologia para preservar e difundir música e outros conteúdos, que de outra forma acabariam por ser esquecidos ou mesmo destruídos pelo tempo, sem possibilidade de serem vistos ou ouvidos mais alguma vez.

No fundo no fundo, estes sites são criados por fãs de arte que convertem os seus discos de vinil, filmes, gravações radiofónicas, entre outros, em formato digital e os disponibilizam online, para que mais pessoas possam saber da sua existência.

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Nem sempre são fáceis de descobrir, mas há vários sites do género pela Internet fora, uma grande parte deles alojados em redes de blogs, e cada um especializado em determinada "área" ou "tema".

O Weirdomusic.com será um dos primeiros a aparecer nas pesquisas sobre o assunto, a partir de um qualquer motor de busca. Criado em 2001, o site aposta em "música esquisita no geral", com destaque para os géneros Exotica, Space Age Pop, Easy Listening e Library Music".

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Encontrando o primeiro site de sharity, depois não será tão difícil encontrar os próximos, já que é normal apontarem uns para os outros. Pode, por exemplo, dar de caras com o Waxidermy, onde pode ouvir temas que dificilmente encontraria numa loja de discos, em categorias que variam desde os anos 40 ao Hip Hop.

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Também há alguns recursos totalmente dedicados a um género específico, como é o caso do Falalalala, onde só entram (ou saem) temas natalícios, ou do Children's Vinyl Record Series, que, tal como o nome indica, disponibiliza temas infantis.

No meio de um quase sem número de blogs tem também o Orgy in rhythm, dedicado ao jazz, o Universal Horror Sounds, onde os temas saíram directamente das bandas sonoras de filmes de terror, ou o Vinyl Room, que publica temas de álbuns instrumentais.

Mas vai encontrar outros sites e blogs, como o Record Brother, o Basic Hip Digital Oddio, o Tuna Melt, o Music You (Possibly) Won't Hear Anyplace Else e, até em português, o 1967 - O Ano da Psicodelia.

De notar que se encontram muitos sites de sharity desactualizados, mas que podem valer pelos conteúdos oferecidos - nos casos em que estes ainda estão disponíveis. Independentemente de ter a possibilidade de aumentar a biblioteca discográfica lá de casa ou não, com a visita a um site do género não deixará, com certeza, de enriquecer a sua cultura musical.

Patrícia Calé