Por muitos anos que passem, por mais negócios que se lancem e venham quantas tecnologias vierem, para criar novas tendências no mundo da informática, dificilmente a imagem de Steve Ballmer deixará de ficar associada às suas históricas apresentações efusivas.
Na Internet há dezenas de vídeos a deixar para a história as marcas do homem que durante 13 anos comandou os destinos da Microsoft e que, como o próprio garantia numa dessas apresentações, adora a empresa onde passou os seus últimos 33 anos e que deixa no próximo, para gozar a reforma.
Contratado pelo próprio Bill Gates, Ballmer tomou as decisões que levaram a todos os últimos grandes lançamentos da Microsoft, uns com melhores resultados que outros. Com explicou em 2008, numa entrevista conjunta com o próprio, Bill Gates viu em Ballmer o homem certo para o acompanhar na Microsoft, e mais tarde para o suceder, capacidade de liderança e gestão, admitiu numa conferência do The Wall Street Journal.
Desde que chegou à companhia Ballmer passou por vários cargos, tendo sido vice-presidente de vendas e suporte; vice-presidente de marketing e também vice-presidente para a área do software.
Assumiu o cargo em 2000 e foi sob a sua "tutela" que a Microsoft lançou produtos como o Office 365, que faz a viragem da Microsoft para a distribuição de software pessoal por via da cloud, o lançamento da Xbox, que lentamente conseguiu consolidar presença entre as principais plataformas de jogos do mundo, ou a compra do Skype por 8,5 mil milhões de dólares.
O negócio reforçou a presença da Microsoft nas áreas das comunicações sobre IP e promete muito mais, com a integração nos produtos da marca. Parte deste potencial continua por concretizar, mas o seu valor é mais consensual que o de outros feitos pela Microsoft nesta última década.
Na verdade na são poucas as análises que apontam mais fracassos (ou quase-sucessos) à Microsoft neste período, que apostas certeiras. Num artigo de seis páginas a Vanity Fair, por exemplo, saiu na última edição do domínio da moda e das tendências, para entrar numa profunda análise ao percurso da empresa nestes últimos anos. O artigo intitula-se a década perdida da Microsoft.
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Numa análise que conta com vários comentários de ex-funcionários a pessoas da indústria, o artigo reflete em retrospetiva o que vários especialistas do sector apontaram em momentos diferentes ao longo dos últimos anos. A Microsoft não conseguiu marcar posição em nenhuma das grandes tendências mais recentes da tecnologia. Da mobilidade aos mapas, passando pelos motores de pesquisa - onde se apresenta com o Bing - ou pelos ebooks, todo o poder de inovação da empresa tem sido pequeno para travar a concorrência emergente de empresas tão insuspeitas (recuando uma década) como a Apple, a Google ou a Amazon.
Nestas áreas, os maiores "erros de casting" passam por produtos como o Zune, o leitor de música lançado pela fabricante e entretanto descontinuado, ou pelo Bing, que embora continue a lutar por um lugar no Olimpo dos motores de pesquisa, nem com a integração nos produtos da marca tem conseguido o desejado lugar de destaque.
Na iminência de se juntar à sala dos quase sucessos da era Steve Ballmer está também o Surface, o tablet da marca que depois de vários avanços e recuos chegou mesmo ao mercado, instalando a Microsoft num território (o do hardware) que até à data deixava aos parceiros. Resultados: fracos.
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A própria empresa reconheceu com a última apresentação de resultados que não foi feliz na estratégia e nas estimativas de vendas em relação ao produto, sobretudo no que se refere à versão com Windows RT, uma release do Windows 8 para tablets que alguns fabricantes já estão a abandonar. Sem o Windows RT acredita-se que o Surface pode continuar a ter hipóteses. O futuro dirá, já sem Ballmer.
Outro marco histórico na vida da Microsoft e do próprio sector onde Ballmer também esteve, enquanto líder da Microsoft, foi a parceria com a Nokia que uniu as duas empresas no mercado dos smartphones.
Cerca de dois anos e meio após o anuncio da parceria entre as duas empresas as plataformas Android e iOS continuam a dominar o mercado com uma larga vantagem, mas o Windows Phone está a conquistar terreno.
O atraso da Microsoft na chegada a este mercado - e o da Nokia em perceber que rumo deveria tomar - poderão ser irrecuperáveis, mas os trunfos da plataforma Windows também podem ditar um destino diferente para este casamento.
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A convergência entre ambiente móvel e desktop é uma das grandes apostas da Microsoft no segmento e é também uma das grandes tendências do sector. Pode ser este um dos grandes trunfos da Microsoft para concorrer no mercado móvel. Steve Ballmer - e a Microsoft - tem tentado passar uma mensagem - mas a confirmação pode chegar já numa próxima era da vida da empresa, que mantém no Windows um dos grandes pilares de sustentação, entre edições mais felizes (Windows 7) e menos felizes (Windows Vista).
Ballmer deixa a Microsoft mas continua profundamente ligado à companhia, onde mantém uma posição acionista assegurada por 333 milhões de ações e onde construiu grande parte da sua carreira profissional. Tem uma fortuna avaliada em 15 mil milhões de dólares, que também passa em muito pela sua história de vida na Microsoft. Também ajudou a Microsoft a multiplicar as receitas, que triplicaram no período em que estava à frente da empresa, e lucros, que duplicaram.
À luz dos mercados os números podem parecer menos brilhantes, tendo em conta que em 2000 a capitalização bolsista da Microsoft era de 510 mil milhões de dólares e em junho deste ano não ia além dos 249 mil milhões. Por comparação, a Apple valia na mesma altura 4,8 mil milhões de dólares e em junho 541 mil milhões.
O mundo mudou e a tecnologia também. Há mais concorrência e os consumidores tornaram-se mais exigentes, desafios para qualquer empresa e para uma Microsoft que procura um novo líder na mesma altura em que leva a cabo a sua maior reestruturação de sempre.
Diminuir a fragmentação dentro da empresa e promover a inovação são os grandes objetivos da reorganização que criará uma nova estrutura fortemente centralizada no management da empresa. Entretanto o processo de escolha do novo CEO já está em marcha e decorre nos próximos 12 meses.
A imprensa internacional já analisa à lupa as possibilidade de sucessão a nível interno. Fora das contas estão nomes como Steven Sinofsky, que depois de mais de duas décadas na Microsoft deixou a divisão do Windows, que liderava, e a empresa semanas após o lançamento do Windows 8. O seu nome já tinha sido apontado como sucessor de Ballmer.
Nota de redação: Foi corrigida uma gralha no texto, onde se referia o Bing como um browser e não como um motor de busca, a designação correcta e a que está referida no parágrafo anterior do artigo.
Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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