Ao contrário do que possamos pensar num primeiro momento, nem só de talento e dedicação se faz um medalhado olímpico. Quando a intenção é ganhar tal "troféu", todos os meios parecem justificar os fins. A inovação tecnológica é um deles.

Hoje em dia é raro encontrar atletas de alta competição que não trabalhem com investigadores ou engenheiros, seja no aperfeiçoamento do seu sistema de treino ou na conceção de equipamentos de última geração.

Apesar de o recurso à inovação tecnológica ser "legal", tem limites como atestam alguns casos. Um dos mais mediáticos foi na década de 1990, quando a fabricante de acessórios de esqui Spyder lançou o SpeedWyre, um fato que reduzia em 20% o atrito com o vento e que acabou banido das competições, pelas entidades competentes, pouco tempo depois.

Na década seguinte surgia uma nova polémica envolvendo igualmente o design de vestuário desportivo, mas desta vez adequado ao "deslizamento" na água em estado líquido. Estamos a falar do fato de natação de corpo inteiro, projetado com a ajuda da NASA, que terá ajudado a quebrar mais de 100 recordes mundiais entre 2008 e 2009.

Os mais críticos chegaram a chamar-lhe "doping tecnológico", encarando-o como uma forma de usar a tecnologia para "ganhar vantagem sobre-humana".

O design de vestuário e acessórios para a prática das diferentes modalidades é uma das perspetivas mais habituais de olhar para o papel das tecnologias no desporto, mas há outras, possivelmente não tão óbvias.

Nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, a decorrer, há várias inovações ao serviço das melhoras práticas em diferentes modalidades. É o caso do biatlo, do curling, da patinagem artística e do snowboard.

Depois do sprint de esqui, os atletas de biatlo vão direto para o campo de tiro onde terão de apelar a toda a sua precisão para acertar no alvo o mais rapidamente possível.

Isto porque depois do esforço feito anteriormente, a capacidade física esbate-se com o batimento cardíaco a baixar em cerca de 30 segundos e os espasmos musculares a começarem.

Para treinarem os tempos e precisão dos seus tiros, estes atletas usam lasers apontados aos alvos. Assim que estes cruzam a visão do alvo, os atletas disparam. O objetivo é disparar todos os cinco tiros da prova no máximo em sete segundos.

Embora à primeira vista não pareça, a técnica de empurrar um disco sobre o gelo também pode ter muita inovação "embutida". No curling é necessário "escovar" o gelo, a determinada altura da deslocação do disco, para aquecê-lo um pouco, mas sem que este derreta, de modo a não prejudicar o percurso do disco.

Com base nestas premissas, a empresa BalancePlus desenvolveu uma escova que aquece o gelo de forma mais eficiente. A EQualizer deve dar resultados porque já foi usada em 2010 por alguns atletas e este ano está de regresso às olimpíadas de Inverno de Sochi.

A patinagem no gelo impressiona pela destreza e técnica de equilíbrio no que diz respeito às figuras exigidas pela modalidade em competição, principalmente nos saltos. Lifts e triple Axels carecem de muitos anos de treino, mas de há uns tempos para cá contam com a ajuda da tecnologia de vídeo de captura de imagens em movimento.

Este recurso, acompanhado de um bom software, permite situar cada um dos pontos do corpo de um atleta durante tais exercícios, informação que pode ser usada no treino para tentar melhorar o desempenho em competição.

Os snowboarders também se cruzam com a inovação tecnológica na modalidade que praticam. Os atletas precisam de manter a temperatura corporal enquanto esperam pela ordem de descida do half pipe e roupa apropriada pode ajudar.

É o caso dos blusões criados pela Under Armour para os atletas que formam a equipa canadiana nos Jogos Olímpicos de inverno.

Segundo o explicado pela empresa, a tecnologia usada baseia-se no revestimento cerâmico que absorve os raios infravermelhos e permite aos aviões militares voarem sem serem detetados.

No caso dos blusões há uma camada no seu interior que armazena e recicla o calor corporal, mantendo os atletas quentes por mais tempo, sem necessidade de volume extra.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico