Fecha-se hoje mais uma página na indústria tecnológica: o encerramento dos serviços e sistemas operativos da BlackBerry. Tal como avisado e relembrado pela fabricante em dezembro, o operativo BlackBerry 7.1 OS, BlackBerry 10 e BlackBerry Playbook OS 2.1 e respetivas versões anteriores deixam de estar disponíveis. E a partir desta mesma data, os equipamentos que corram serviços e usem software associado vão começar a ter falhas, incluindo a ligação de dados, chamadas telefónicas, envio de SMS ou fazer chamadas de emergência.
De relembrar que qualquer um dos equipamentos nestas condições é muito antigo, já que a última vez que a empresa atualizou o sistema operativo foi em 2013. Em 2019 a BlackBerry já tinha também descontinuado o serviço de mensagens BBM e encerrado a sua loja de aplicações.
Depois da empresa deixar de produzir smartphones, a TCL licenciou a marca, atualizando os seus equipamentos com o sistema operativo Android. Esse acordo terminou em 2020, com a fabricante a garantir que ia manter o suporte aos equipamentos. Nesse sentido, se o seu smartphone BlackBerry já utiliza o sistema operativo Android, este continuará a funcionar como até agora. A decisão foca-se apenas nos sistemas operativos Legacy proprietários da empresa.
Atualmente, a BlackBerry está focada em soluções de segurança, que sempre foi um dos pontos fortes, mesmo quando fabricava smartphones. Continua a explorar o sistema operativo QNX para as plataformas de infotainment dos automóveis, tendo ao seu cargo marcas como a Toyota, Audi e Honda, para referir algumas.
BlackBerry tem uma história feita de altos e baixos
Numa altura em que a Nokia dominava o mercado de telemóveis, o iPhone ainda era um sonho de Steve Jobs e a Google ainda não tinha apresentado o Android, a BlackBerry era conhecido como o equipamento dos executivos. O mercado empresarial abraçou os equipamentos da BlackBerry, não só pelo seu design inovador, como oferecia uma grande segurança de utilização, um dos segmentos fortes da fabricante. Ter um BlackBerry era um sinal de “status quo”.
O elemento que mais se destacou nos equipamentos foi o seu teclado físico QWERTY, que permitia escrever mensagens com a mesma naturalidade que um teclado do computador. Era muito útil para escrever mensagens mais longas de email, por exemplo. O seu sistema de messaging proprietário BBM (BlackBerry Messaging) foi igualmente importante, ao permitir enviar e receber mensagens em tempo real, numa altura em que as redes sociais não existiam. O serviço é semelhante ao iMessage da Apple.
Veja na galeria imagens de diferentes modelos de equipamentos da BlackBerry:
Por ser uma das primeiras marcas com modelos sempre conectados online, via wireless, recebendo emails automaticamente, podia ligar-se de forma fácil e segura às contas corporativas. Também foi um dos primeiros a causar a adição dos utilizadores de estarem sempre agarrados ao equipamento. Os equipamentos tinham ainda o icónico trackball, que permitia mover o cursor no pequeno ecrã, semelhante aos ratos nos computadores portáteis.
A marca foi altamente adotada na primeira década de 2000, tendo registado no seu pico, entre 2009 e 2010, uma fatia de quase 20% do mercado mundial de smartphones, com vendas na casa dos 50 milhões de unidades por ano. E nesta altura já a Apple tinha lançado o seu primeiro iPhone, em junho de 2007, tendo demorado alguns anos até revirar o mercado, quando a tendência dos teclados físicos começou a ser substituída pelos ecrãs táteis digitais oferecidos pelo iOS e Android. Só apenas com o lançamento do iPhone 4 é que a Apple conseguiu ultrapassar de vez as vendas da BlackBerry.
A BlackBerry é mais um exemplo de uma empresa que cresceu ao tamanho de um gigante a tombos de proporções “épicas”. No verão de 2007 a empresa apresentava-se com ações a valerem 146 dólares, consolidando um crescimento desde 1999, em contraste com a atualidade que valem pouco mais de 9 dólares. Diz a história da empresa perdeu metade do seu valor no mercado em apenas dois anos.
Curiosidades sobre a BlackBerry
Antes de mudar o nome para BlackBerry, a fabricante canadiana chamava-se Research In Motion (RIM). O primeiro hardware que a empresa construiu foi o DigiSync Film KeyKode Reader em 1990, um aparelho que fazia a leitura e sincronização de películas, ajudando na pós-produção de filmes, que chegou a render à empresa um Óscar e um Emmy nas categorias técnicas.
Em 1996 lançou o RIM-900 Inter@ctive Pager, com um formato de abertura Flip, sendo o primeiro pager com a possibilidade de mandar mensagens, suportando ainda HTML e email. Em 1999 a empresa introduziu no mercado o RIM-850 Pager, suportando a tecnologia “push email” do Exchange server da Microsoft. A forma como as teclas estavam bem separadas fez lembrar uma casca de fruta a uma agência de marketing que tinha sido contratada para promover o produto. E foi assim que se decidiu chamar BlackBerry (amora silvestre) aos equipamentos. Em 2000 ficou conhecido mundialmente com o seu primeiro smartphone, o BlackBerry 957, apresentando o teclado físico mais próximo pelo qual ficou conhecido.
Mantendo uma posição dominante, a BlackBerry "ignorou" o lançamento do iPhone da Apple, entendendo o produto como direcionado a consumidores jovens, graças às funcionalidade interativas através do ecrã tátil. Esse foi o grande erro da empresa, que se viu ultrapassada em poucos anos pela marca da maçã. Os novos smartphones concebidos por Steve Jobs acabaram mesmo por ser adotados pelo mercado empresarial, exatamente o núcleo do negócio da BlackBerry.
Mesmo depois de surgirem os rivais de peso, os smartphones BlackBerry continuaram a manter o estatuto de equipamentos de trabalho para aceder ao email. Muitas empresas obrigavam mesmo os seus empregados a usarem o equipamento pela sua segurança. Assim, muitos utilizadores usavam-no como segundo smartphone, apenas para trabalho. A BlackBerry só reagiu à Apple em 2008, com o modelo com ecrã tátil Storm. O smartphone teve vendas elevadas, mas muitas queixas sobre a performance do equipamento. Foi o primeiro sinal de preocupação quanto ao futuro da empresa para os analistas e investidores.
Até perder terreno para o iOS da Apple e Android da Google, em setembro de 2010 foi registado a sua maior quota nos Estados Unidos, com 37,3% do mercado e uma base de utilizadores chegou a um pico de 41 milhões de subscritores. Caiu para os 30% no fim de 2012, quando a Google tinha 53,7% e a Apple 35%.
Em 2015 correram rumores de que a Samsung estava interessada em comprar a BlackBerry, levando a um aumento de 30% no valor das suas ações, que acabaram rapidamente por baixar, por não se confirmar a aquisição.
Em 2016 a empresa decidiu deixar de fabricar os seus smartphones, licenciando a marca a outras fabricantes. E tal como a Nokia, decidiu enveredar apenas pelo software, sendo agora especialista em soluções de segurança e software para grandes corporações. Dados da Statista referem que a empresa ultrapassou os mil milhões de dólares de receitas em 2020 e 893 milhões em 2021.
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