A Asus escolheu Valência para revelar ao mundo o seu novo smartphone, o Zenfone 6. Entre as habituais atualizações de hardware, e uma mudança radical no sistema de câmara fotográfica, a fabricante de Taiwan decidiu ainda lançar um único modelo esta geração. Uma mudança de estratégia mais focada, tendo deixado o segmento de entrada para “atacar” os topos de gama, se possível, dando-lhe um toque extra, como foi o caso da Flip Camera.
Horas antes da apresentação oficial, o SAPO TEK teve oportunidade de conversar com Jonney Shih, o chairman da Asus, não sobre o novo smartphone, mas uma oportunidade para compreender a visão da empresa para o estado atual do mercado. E até Donald Trump acabou por vir à conversa sobre as recentes polémicas com a Huawei.
TEK: Como vê a constante transformação da indústria de smartphones, a rápida necessidade de mudar e de encontrar novas formas disruptivas para entregar novos produtos, ano após ano?
Jonney Shih: Tentamos entrar no mercado dos smartphones através da inovação, mas viemos do mundo do PC topo de gama e depois tentámos sempre incluir todos os clientes, oferecendo configurações mais baixas, de forma a termos produtos acessíveis. Agora voltamos às nossas origens, ao segmento “best of the best”. E isso leva-nos sempre ao caminho mais difícil, porque tanto os criadores, como os jogadores hardcore esperam sempre aquele fator de “desejo” e estar um passo à frente. Esta é a filosofia da Asus, aquelo que sabemos desde o tempo das motherboards, “resolver os problemas mais difíceis”. E ainda assim, acho que conseguimos introduzir novidades.
TeK: Existem agora novas tendências no mercado dos smartphones (e não só) dos ecrãs dobráveis. A Asus está interessada no segmento?
Jonney Shih: Tecnologicamente nós compreendemos os ecrãs flexíveis e até o 5G. Mas para nós o mais importante é compreender o timing correto. Viu o que aconteceu com a Samsung, certo? Os ecrãs dobráveis são eventualmente o caminho a seguir e a forma de justificar os tablets, que ganham mobilidade e ter um ecrã maior. Penso que a inteligência artificial e o machine learning será a chave, mas muitas pessoas ainda não compreenderam o verdadeiro sentido desta tecnologia, baseando-se apenas no “mito” das máquinas que irão matar os humanos. Apesar da capacidade de processamento de muitos dados, as máquinas não conseguem fazer coisas do senso comum, como pegar num fio, por exemplo, porque é maleável e imprevisível.
Agora o processamento de dados, o reconhecimento de padrões que o olho clínico não consegue processar a olho nu, isso é do domínio da máquina. E se pensarmos nos computadores pré-programados, abre-se um enorme espaço para evoluir. Mesmo hoje, que iremos mostrar o Zenfone 6 sob o mote “Liberta o olho” do smartphone, também consideramos uma evolução – começamos com um olho, dois olhos e assim adiante (risos).
TeK: Falando em inteligência artificial, o modelo anterior Zenfone 5 procurou destacar-se na IA de forma a ajudar os utilizadores a capturar melhores fotografias. O novo modelo continuará a expandir o conceito?
Jonney Shih: O Zenfone 5 foi um modelo único, e acredito que ainda assim muito limitado, por isso com o ZenFone 6 terá mais potencial.
TeK: Qual é a sua visão para o 5G?
Jonney Shih: Ninguém tem dúvida sobre o aumento da qualidade das ligações, seja ao nível da latência e largura de banda. Tal como os ecrãs dobráveis será uma mudança inevitável. Mas mais uma vez será o timing, e será uma questão económica e vemos a Apple e a Qualcomm a assumir esta questão. Mas a Apple também é conhecida pelo cuidado no seu design. Por isso, será uma questão de tempo até se começar a adotar a tecnologia, mas nós não queremos estar entre os primeiros.
TeK: Não considera que o mercado está saturado? Como prosperar neste mercado competitivo?
Jonney Shih: Eu penso que neste momento não é inteligente tentar competir com o segmento inferior, mas sim estar entre os melhores dos melhores, e depois há que ter espaço para introduzir algo diferenciador. É aí que queremos estar.
TeK: Tem ideia se quem compra smartphones da Asus são clientes da vossa área de gaming, que assumem a qualidade da marca e mantém-se fiéis aos produtos?
Jonney Shih: Sim, claro. A questão do branding da marca tem este tipo de vantagem. Mas do ponto de vista da Asus, o foco está no consumidor e estamos a mudar um pouco o mindset. Uma vez conectados ao consumidor, será uma ligação para a vida, por isso quando se oferece um serviço, que nós chamamos de smart conected service, compreendemos o que necessitam, não interessa o produto atual ou futuro, seja um smartphone ou um PC. Essa ligação transforma-se em Big Data e isso transforma-se num novo pensamento a desenhar novos produtos. Agora temos novas formas de obter esses dados e mais inteligência a trabalhá-los, e por isso podemos desenhar melhores produtos.
TeK: Esta semana Donald Trump decidiu banir as fabricantes chinesas, nomeadamente a Huawei dos serviços de telecomunicações dos Estados Unidos. O que acha desta guerra tecnológica? Considera melhor para a concorrência, como a Asus, ou torna-se mais difícil como peão neste mercado?
Jonney Shih: Eu penso que a Huawei é uma empresa muito forte e que eu respeito muito, mesmo que anteriormente, há muito tempo atrás, nem sempre tenham feito as coisas da forma correta e por isso agora são considerados hostis. Mas, no geral, penso que agora que todo o mundo já está “enjoado”, ou seja, temos uma postura global de entreajuda e da economia partilhada e a forma como temos de honrar o planeta, que acaba por ser a nossa propriedade comum, e vem um Trump, a querer deitar tudo isso por terra. Mas considero isso apenas uma contrariedade, algo temporário, que no longo termo irá desaparecer.
Se olharmos para a tecnologia atual, tudo o que seja baseado em open source, ganha sempre. Penso que sofremos mais com a Intel, refiro-me à sua arquitetura dos CPU e “odiamos” o Windows por ser tão fechado, não é? Mas depois, na atualidade, temos a cloud e os seus benefícios de arquitetura aberta. E hoje vemos a Microsoft com uma nova postura, mais aberta. Mas open source é o caminho certo…
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