Nos últimos quatro meses, equipas da ESA e parceiros da indústria trabalharam continuamente para ultrapassar uma falha que impedia os propulsores elétricos do Módulo de Transferência de Mercúrio (MTM) da BepiColombo de funcionar na sua potência máxima. Agora, a missão da ESA/JAXA está no bom caminho, com uma nova trajetória que a levará a apenas 165 km da superfície de Mercúrio, esta quarta-feira.

Nas três passagens anteriores, os instrumentos de bordo da BepiColombo mediram grandes diferenças à medida que a sonda atravessava a magnetosfera do planeta. A quarta passagem levará a BepiColombo à sua maior aproximação a Mercúrio até à data. A nave espacial da ESA/JAXA passará sobre a superfície do planeta a uma distância de cerca de 165 km, menos cerca de 35 km do que o inicialmente planeado. Será a primeira passagem pelos polos do planeta e a aproximação máxima está prevista para as 23h48 CEST (22h48 de Lisboa) de 4 de setembro.

Sonda BepiColombo volta a passar perto de Mercúrio e há novas imagens para ver
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“Após meses de investigações, concluímos que os propulsores elétricos da MTM continuarão a funcionar abaixo do impulso mínimo necessário para uma inserção em órbita de Mercúrio em dezembro de 2025”, explica o diretor da missão BepiColombo, Santa Martinez. Com a nova trajetória, espera-se que a BepiColombo chegue a Mercúrio em novembro de 2026, avança a ESA.

A quarta, quinta (dezembro de 2024) e sexta (janeiro de 2025) passagens da BepiColombo por Mercúrio estão a decorrer como planeado. As três irão alterar a velocidade e a direção da nave espacial, colocando-a mais em sintonia com a órbita de Mercúrio em torno do Sol.

Espera-se que o resto da missão BepiColombo prossiga como planeado e os objectivos científicos não sejam afectados. A ESA espera que “a missão produza a mesma ciência, com dados recolhidos por um conjunto de 16 instrumentos nos dois orbitadores”.

Veja na galeria imagens da sonda e da sua aproximação a Mercúrio nas várias passagens:

Antes, durante e depois do quarto sobrevoo, vários instrumentos a bordo do BepiColombo vão recolher dados sobre a intensidade dos campos magnéticos e elétricos, bem como medir as partículas em torno de Mercúrio, revelando informações totalmente novas sobre o ambiente magnético do planeta, explicam ESA e JAXA.

ESA mostra as imagens finais da segunda aproximação do BepiColombo a Mercúrio
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Ao contrário do que parece, quando olhamos para as imagens de Mercúrio captadas pela BepiColombo, o espaço em volta do planeta não está vazio. Está repleto de partículas neutras e carregadas, energéticas e lentas.

O campo magnético de Mercúrio interage com partículas provenientes do Sol, o vento solar. Esta combinação cria a magnetosfera de Mercúrio, uma bolha no espaço que parece um vendaval que se estende para longe do Sol. Esta bolha muda constantemente em resposta ao vento solar.
“Estudar o ambiente magnético de Mercúrio com o BepiColombo ajuda-nos a compreender como um planeta reage à sua estrela hospedeira quando está tão perto dela”, explica a ESA. Em Mercúrio, o vento solar é dez vezes mais forte do que na Terra. No entanto, o campo magnético interno de Mercúrio é 2.000 vezes mais fraco do que o da Terra. Isto resulta numa magnetosfera muito aberta e variável que pode mudar significativamente em apenas alguns minutos.

Veja na galeria imagens da segunda passagem da BepiColombo por Mercúrio:

No vídeo abaixo pode observar uma simulação que mostra um caso esperado do ambiente magnético de Mercúrio em condições típicas de vento solar. As cores indicam a densidade das partículas do vento solar à volta de Mercúrio, com a densidade mais elevada a amarelo e a mais baixa a roxo/preto. Na primeira metade do vídeo, vê-se uma “vista lateral” em que o Sol está fora do enquadramento, à esquerda. Na segunda metade, vemos uma “vista frontal”, como se estivéssemos a olhar para Mercúrio a partir da direção do Sol. A simulação é baseada num modelo, não mostra observações reais.

O vento solar não perturbado é mostrado a laranja-escuro. Quando o vento solar encontra o campo magnético de Mercúrio, é aquecido e deflectido, criando uma região cheia de partículas de vento solar, mostradas a amarelo/laranja-claro. Dentro desta camada densa, vemos que o número de partículas de vento solar cai muito rapidamente para quase zero, com exceção de um fluxo de baixa densidade que se estende a partir do equador.

Veja o vídeo da sonda BepiColombo:

A BepiColombo foi lançada para o espaço em outubro de 2018 e fará, no total, nove passagens planetárias: uma na Terra, duas em Vénus e seis em Mercúrio, para ajudar a orientar-se para a órbita de Mercúrio. Uma vez em órbita, a fase científica principal da missão pode começar.

A nave espacial inclui dois orbitadores científicos que circundarão Mercúrio, o que a torna única. É o Orbitador Planetário de Mercúrio da ESA e o Orbitador Magnetosférico de Mercúrio da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA). Os dois são transportados em conjunto para o planeta pelo Módulo de Transferência de Mercúrio (MTM).