Este sábado, dia 30 de junho, debatem-se os asteróides num dia inteiramente dedicado ao tema. A ocasião não celebra a existência destes corpos celestiais, mas destaca o nascimento de um movimento que junta o interesse de dois especialistas improváveis: Brian May, guitarrista dos Queen e popular astrofísico, e Grigorij Richters, diretor cinematográfico, responsável pela criação de 51 Degrees North, um filme que retrata uma situação ficcional, que gira em torno da colisão de um asteróide em Londres e dos possíveis impactos que a catástrofe teria na vida humana.

May compôs a banda sonora da película e propôs ao realizador que o exibisse num evento científico frequentado por altas figuras da comunidade científica. Richters aceitou o convite e deu assim origem a uma discussão que desabrochou no Dia do Asteróide. A efeméride assinala-se desde 2015 e funciona maioritariamente como uma chamada de atenção para uma hipotética ameaça à ordem da civilização.

Asteróide maior que um arranha-céus aproxima-se da Terra
Asteróide maior que um arranha-céus aproxima-se da Terra
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A ideia foi depois alavancada pela Fundação B612, uma organização sem fins lucrativos, criada para proteger o mundo desta ameaça cósmica através de procedimentos científicos, que permitem a deteção prematura de embates iminentes. As missões de ambos os projetos misturaram-se e resultaram numa plataforma de cooperação que estimula o debate em torno das soluções que podem proteger o planeta deste perigo que todos os anos faz soar os alarmes dos radares das agências espaciais.

A pergunta, face à hipótese de ver um asteróide colidir com a crosta terrestre, tal como aconteceu em 1908, numa região perto do rio Podkamennaya Tunguska, na Rússia, é se estaremos nós preparados para lidar com uma situação semelhante. As consequências do incidente, que devastou toda a zona florestal circundante num raio superior a 1.200 quilómetros, são um dos maiores motivos para que os desenvolvimentos estejam a acelerar de maneira constante neste sector. Mas apesar de os sistemas de deteção estarem afinados, a verdade é que pouco pode ser feito quando um asteróide entra em rota de colisão com a Terra.

No entanto, em alguns casos, a identificação de asteróides pode mesmo tornar-se impossível. Há cinco anos, um asteróide chegou mesmo a entrar na atmosfera terrestre. A rocha explodiu no ar, libertando entre 20 a 30 vezes mais energia do que as primeiras bombas atómicas, e gerou uma luz mais brilhante que a do sol, danificando cerca de 7 mil edifícios e ferindo mais de mil pessoas com o calor resultante. A onda de choque quebrou janelas a mais de 93 quilómetros de distância e neste caso, a identificação do corpo foi impossível dada a trajetória que este tomou, dirigindo-se ao planeta na mesma direção do sol. A luz impossibilitou o bom funcionamento dos instrumentos que monitorizam o risco de colisão e apesar de não se ter verificado uma catástrofe, o embate teria certamente resultado em consequências nefastas com danos incalculáveis.

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Asteróide sobrevoa a região russa de Chelyabinsk, em fevereiro de 2013.

Os asteróides constituem um perigo pouco popular nos circuitos informativos, mas as pessoas parecem conscientes dos estragos que podem causar. De acordo com um estudo realizado pela Pew Research, 62% dos adultos norte-americanos é da opinião que a monitorização de asteróides e de outros objetos susceptíveis de embater no planeta deveria ser a primeira prioridade da NASA.

As agências espaciais têm canalizado esforços nesse sentido. No sector, projetos em torno da deteção de possíveis ameaças protagonizadas por NEOs (objetos perto da Terra) têm recebido boa parte da atenção da indústria. Nesta classificação inserem-se asteróides e cometas com órbitas que os colocam a pelo menos 48 milhões de quilómetros da terrestre.

A boa notícia é que, por agora, não existem perigos substanciais iminentes. Apesar de se registarem "colisões" a um ritmo diário, a maior parte dos asteróides é tão pequeno que acaba por se incendiar e destruir assim que entra na atmosfera do planeta. Mas apesar de pequenos, estes asteróides também pode representar uma ameaça. Neste caso, mais difícil de detetar do que as restantes. Os programas que se estão a desenvolver neste segmento, apontam, por isso, cada vez mais para a identificação destas pequenas rochas flutuantes.

Nos EUA está em curso um plano de investimento que prevê a coordenação de esforços ao longo dos próximos 10 anos, para que sejam melhoradas as ferramentas de deteção de NEOs. A longo prazo, os planos incluem o desenvolvimento dos modelos de previsão de rotas e das tecnologias de deflexão e disrupção destes pequenos NEOs. Neste âmbito, a cooperação internacional é valiosa, uma vez que um embate vai exigir uma agilização de processos internacionais para que seja colocado em curso um plano de emergência com capacidade para minimizar possíveis estragos e/ou fatalidades.

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Em caso de embate, os estragos serão sempre proporcionais ao tamanho do asteróide. O que extinguiu os dinossauros, por exemplo, teria mais de 15 quilómetros de perímetro, mas de acordo com Detlef Koschny, responsável pelo departamento de investigação de NEOs na Agência Espacial Europeia (ESA), nenhum dos asteróides identificados com um ou mais quilómetros de largura representa um perigo para o planeta. A ESA acredita ter mapeado 90% dos asteróides com estas características que se encontram perto da Terra, mas os mais pequenos, que constituem um problema por serem mais difíceis de detetar, ainda constituem um problema para a agência, que diz ter mapeado apenas 1% destes.

O investigador adianta que asteróides com 100 metros entram na atmosfera terrestre uma vez a cada 10 mil anos. Os de 50 chegam aos mil anos, e os de 20 podem variar entre os 10 e os 100. Os novos programas da NASA vão focar-se na ameaça mais frequente que tem, geralmente, menos 50 metros de diâmetro.

Para mapear todas estas descobertas, o Asteroid Institute celebrou uma parceria com a Google Cloud e com a Analytical Graphics para criar uma representação tridimensional, com alojamento na cloud, de toda esta realidade que a vista desarmada não alcança. O projeto tem já um pé no futuro, uma vez que um novo telescópio, prestes a ser lançado para o espaço, tornará possível a descoberta de dezenas de milhares de asteróides em órbitas que os poderá aproximar da Terra.

Adicionalmente, a NASA está também a preparar uma sonda que deverá passar cerca de dois anos no espaço em busca de um asteróide a que a agência chama Bennu. Este é um dos exemplares mais perigosos que se encontra a flutuar no espaço, uma vez que o seu trajeto pode colocá-lo em rota de colisão com a Terra. Em condições normais, a sonda vai alcançar o asteróide no final deste ano e vai ajudar a agência a estudar a composição deste corpo celeste.

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Sonda Hayabusa2

Recentemente, a JAXA anunciou também que a sonda Hayabusa2 atingiu o asteróide Ryugu, onde deverá recolher amostras da sua composição para que possa regressar à Terra, no final de 2020, com material para análise.

Outro dos asteróides identificados que está a receber atenção por parte das agências espaciais é o Didymos, que não só chega aos 800 metros de perímetro, como conta ainda com uma pequena "lua" de 150 metros de perímetro. Em 2020, a NASA vai lançar o DART, um teste de redirecionamento que consiste na provocação de um choque entre um aeronave e um asteróide, para que se possam medir possíveis alterações na velocidade e na rota do asteróide. O sucesso desta experiência pode dotar as agências de capacidades para lidarem com perigos semelhantes.

A preparação para uma catástrofe de maiores proporções é necessária uma vez que a NASA estima que a humanidade precisaria de um aviso com cerca de 10 anos de antecedência acerca do impacto de um asteróide com a Terra, de forma a que pudesse ser preparada uma resposta preventiva eficiente. Mark Boslough, professor de ciências planetárias na Universidade do Novo México, acredita que esta atenção não deve ser apenas alocada para preparar possíveis colisões com grandes asteróides. O docente acredita que é necessário implementarem-se mecanismos de defesa civil para assegurar que os NEOs mais pequenos não perturbam o funcionamento da sociedade. Evacuações e abrigos podem ser suficientes para enfrentar um asteróide mais pequeno, mas a comunidade científica acredita que em casos de maior dimensão, será preciso construir infraestruturas com capacidade para alojar famílias durante várias semanas.