Shenzen é a sede de muitas das maiores empresas de tecnologia e esta semana o SAPO TEK teve a oportunidade de visitar os escritórios e áreas de demonstração da Honor, perceber a estratégia da empresa e ver a fábrica onde produz os seus smartphones topo de gama. Mas este foi também um momento para conhecer melhor a cidade, que já tínhamos visitado antes da pandemia de COVID-19, e perceber como continua a crescer, com novos arranha céus em construção um pouco por todo o lado, e um centro financeiro impressionante, onde se destaca o edifício da seguradora Ping An, o quinto mais alto do mundo.

Edifício da seguradora Ping An em Shenzen, o quinto mais alto do mundo.
Edifício da seguradora Ping An em Shenzen, o quinto mais alto do mundo. créditos: SAPO TEK

Desde que a cidade de Shenzen recebeu a designação de zona económica especial, em 1980, a área dominada por pequenas vilas de pescadores acelerou para a transformação num dos mais importantes centros de tecnologia, inovação e indústria, que conta atualmente com mais de 17,5 milhões de habitantes. E não é por acaso que é conhecida pelo Silicon Valley da China. É um dos maiores centros financeiros do mundo e mais de 70 empresas da Fortune 500 têm sede na cidade, que conta com o 6º maior número de bilionários, numa lista da Hurun liderada por Nova Iorque, estando ainda listada como a cidade com a segunda maior concentração de arranha céus, a seguir a Hong Kong.

A lista de empresas tecnológicas com sede em Shenzen, ou centros de desenvolvimento, é longa e tem nomes bem conhecidos do mundo ocidental, como a Huawei, ZTE, Tencent, BYD, Baidu, DJI, Waymo e Honor, entre muitas outras. O apoio a inovação, financiamento de startups e atração de talento, assim como as universidades que estão na lista das melhores do mundo, fazem parte de uma história de sucesso que transformou a cidade em apenas quatro décadas e que passou de um centro de produção de imitações e fabrico para empresas estrangeiras para estabelecer as suas próprias marcas.

Shenzen, uma cidade em transformação acelerada

A modernidade das infraestruturas de Shenzen, de estradas aos edifícios, passando pelo aeroporto, distinguem-se claramente de outras zonas da China, e é curioso observar até o parque automóvel, com carros claramente acima da média para o país, onde não faltam marcas estrangeiras, entre as quais também se conta a Tesla, e se podem encontrar também a circular os novos Xiaomi SU7.

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Os prédios de escritórios são semelhantes aos que encontramos noutras grandes cidades, e o mesmo acontece com alguns prédios de habitação, mas há toques semelhantes aos de outras cidades chinesas, com a roupa estendida nas varandas para aproveitar o Sol, mas dentro das janelas ou marquises.

E ao lado dos quarteirões de fábricas e escritórios ainda se conseguem encontrar zonas agrícolas dignas de áreas rurais.

As várias faces de Shenzen, o Silicon Valley da China
As várias faces de Shenzen, o Silicon Valley da China créditos: SAPO TEK

Curiosamente a cidade de Shenzen tem muito menos poluição do que Pequim, e o ambiente é bastante mais claro e luminoso, beneficiando da localização junto ao mar e no estuário do Rio das Pérolas. O calor e a humidade sub tropical, com temperaturas máximas a rondar os 35 graus e mínimas de 22 graus celsius, não são muito convidativos a grandes caminhadas ao ar livre mas dentro dos edifícios o ar condicionado está sempre em valores muito mais baixos.

Talvez por isso mesmo é também ao fim do dia que as pessoas mais aproveitam para passear, e podem ver-se famílias a fazer turismo nos parques e junto à roda gigante Bay Glory, localizada no Parque Cultural Binhai, que rivaliza em tamanho com o London Eye em tamanho.

Parque Cultural Binhai em Shenzen
Parque Cultural Binhai em Shenzen Parque Cultural Binhai em Shenzen créditos: SAPO TEK

Mesmo assim a cidade não perde traços tipicamente chineses, e quem quiser sair das ruas principais encontra pequenos mercados de fruta, carne e peixe, onde as cores locais e os sons de anúncios e música se misturam com as conversas e a negociação dos preços. As galinhas e patos já cozinhados, estão em muitas vitrines e são também uma das atrações, assim como a barriga de porco, os noodles e dumplings preparados no momento.

As várias faces de Shenzen, o Silicon Valley da China
As várias faces de Shenzen, o Silicon Valley da China créditos: SAPO TEK

Há (quase) tudo à venda no maior mercado de eletrónica da China. Mas será que vale a pena comprar?

A rua de Huaqiangbei é conhecida como o maior mercado de eletrónica da China, com verdadeiros centros comerciais onde é possível encontrar de tudo, desde pequenos componentes a produtos de eletrónica de consumo das principais marcas e muitas imitações.

O mercado de Huaqiangbei está localizado numa das zonas mais movimentadas da cidade de Shenzen. Na mesma rua concentram-se vários edifícios onde se vende quase tudo o que é eletrónica, e pequenos quiosques de venda de componentes aparecem ao lado de lojas oficiais de algumas das principais marcas, como a Huawei, Xiaomi e Vivo. Aqui encontram-se os produtos oficiais, muitos dos quais ainda não chegaram ao mercado internacional, como o tri-fold Huawei Mate X que já está esgotado mas que ainda vimos protegido por uma redoma, ou o Vivo X Fold.

Para quem gosta de tecnologia é claramente um local a não perder, e vale a pena mergulhar pelos corredores apertados de alguns dos edifícios. Há pequenas lojas onde se vendem transístores e placas de memória, outras onde se destacam os Leds de várias cores e feitios, mas estas são normalmente destinadas à venda de grandes quantidades, para integradores ou revendedores.

As que acabam por se tornar mais interessantes para os visitantes são as muitas banquinhas que vendem imitações de auriculares, relógios, colunas de som, drones, máquinas fotográficas e secadores de cabelo, entre muitos outros produtos eletrónicos. Curiosamente há muitas imitações de produtos da Apple e Samsung mas também da Dyson. Todos são parecidos com os originais e podem custar entre 5 e 10 euros, dependendo do produto e da capacidade de negociação do comprador, mas a qualidade final é questionável.

No dia em que visitámos o mercado não havia muita gente. Foi ao final da manhã e alguns dos vendedores estavam bastante interessados em concretizar as vendas, mostrando-se disponíveis para baixar preços. O “modelo” é sempre o mesmo, nas barraquinhas de rua ou no centro comercial: o vendedor avança um valor, em renminbi (RMB), o nome oficial do yuan chinês, e se o comprador não mostrar grande interesse ou aceitação vai baixando gradualmente. A negociação faz-se em inglês, normalmente pouco claro, ou através de uma calculadora onde os números são inseridos até chegar ao valor aceite pelas duas partes. Depois o pagamento é sempre eletrónico, com Allypay ou WeChat, e é a transação é rapidamente concluída.

É fácil cair na tentação com propostas de preços tão baixas. Uma imitação de uma Apple Pencil custou cerca de 5 euros, mas algumas cópias dos auriculares da Apple rondavam o mesmo preço, com os valores a subirem um pouco mais para os relógios inteligentes, mas sempre uma pequena fração do preço dos originais. No grupo houve mesmo quem arriscasse a compra de um iPhone 16 Pro falso, que em conjunto com mais alguns produtos copiados ficou a menos de 130 euros.

Claro que por estes preços a qualidade está também muito longe do original, e se à primeira vista parecem iguais depois o resultado na utilização, em termos de desempenho, bateria e som, deixa muito a desejar, por isso vale a pena ponderar  se a compra compensa. Ainda assim é uma experiência incontornável na cidade, ao nível da ChinaTown em Nova Iorque ou do Mercado das Pulgas em Paris, mas neste caso focado em eletrónica.

Do outro lado da baia: Hong Kong e o destino de compras mais ocidentalizado

A cerca de uma hora de distância de Shenzen, de carro, ou 15 minutos no comboio bala, Hong Kong mantém os traços culturais da região administrativa que foi dominada pelos britânicos desde o século XIX, antes da administração passar para a China em 1997. A larga maioria da população é de origem chinesa, mas as diferenças medem-se pelas infraestruturas típicas de cidades ocidentais, o facto de se conduzir pela esquerda como em Inglaterra, na moeda (dólar de Hong Kong) e no poder de compra da população, acima da média na China.

O regime administrativo de “um pais dois sistemas”, que também se aplica a Macau desde 20 de dezembro de 1999, mantém a região como uma zona económica autónoma e mesmo os cidadãos chineses têm de ter um documento especial para viajarem para Hong Kong e Macau (o EEP-HKMO - Exit-Entry Permit for Travelling to and from Hong Kong and Macau).

As zonas comerciais junto ao porto têm as lojas das grandes marcas ocidentais mas quem se aventura um pouco mais para o centro da cidade encontra os mercados de rua típicos, onde também se negoceiam preços, e zonas mais degradadas, incluindo com áreas onde existe prostituição.

Parques onde os mais velhos jogam os jogos tradicionais e um templo budista fizeram parte do nosso roteiro de poucas horas para descobrir Hong Kong fora das ruas principais, mas estes são também os locais que ficam na memória e no registo fotográfico.

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Nota: O SAPO TEK viajou para Shenzen a convite da Honor.