Na altura ainda não se sabia, mas o voo de 18 de janeiro em que deixou de comunicar com a Terra foi a derradeira viagem do Ingenuity. O pequeno helicóptero está com uma das pás da hélice danificada e impedido de subir “aos céus” de Marte para sempre, anunciou a NASA.

Aquele que foi o 72º voo do Ingenuity serviria para determinar a localização do helicóptero, depois de ter sido necessário fazer uma aterragem de emergência durante o voo anterior. De início correu tudo bem, com a descolagem e o Ingenuity a chegar aos 12 metros de altitude, como planeado, e a pairar durante 4,5 segundos antes de descer e de deixar de comunicar com o rover Perseverance quando estava a cerca de um metro da superfície, levando a que a transmissão de dados entre a Terra e a aeronave também terminasse.

Quaisquer receios de que a situação fosse incontornável ficaram respondidos em menos de 48 horas, com a NASA a anunciar que tinha recuperado o contacto com o helicóptero. Na altura a equipa desconhecia os danos “materiais”, que só foram visíveis através da câmara do Ingenuity, em imagens que mostram a sombra da pá danificada. O choque do pequeno helicóptero com a superfície marciana é uma das hipóteses avançadas para os estragos causados.

O fim teria que acontecer um dia, mas o Ingenuity superou em muito os seus objetivos iniciais. Quando o pequeno helicóptero começou a explorar os céus em Marte, em abril de 2021, estavam previstos apenas até cinco voos de demonstração da tecnologia, por um período de 30 dias.

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Entre os marcos históricos do Ingenuity alcançados em Marte está a realização do primeiro voo controlado e motorizado noutro planeta, um feito que tem sido comparado ao momento dos "Irmãos Wright" na aviação.

Apesar de ser bem-sucedido na maior parte das vezes, nem todos os voos foram perfeitos. Por exemplo, o 53º voo acabou por terminar mais cedo do que o esperado, aos 74 segundos dos 136 segundos previstos.

No voo exatamente anterior (o 52º), a equipa responsável pela missão apanhou um susto, ao perder contacto com o helicóptero durante a aterragem. A NASA só voltou “a falar” com o Ingenuity 63 dias depois.

“A viagem histórica do Ingenuity, a primeira aeronave a voar noutro planeta, terminou”, disse Bill Nelson, administrador da NASA. “Esta máquina voadora impressionante voou mais alto e mais longe do que a NASA imaginou e ajudou a agência a fazer o que faz melhor: tornar o impossível, possível”.

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E é assim que, depois de ter acumulado um total de 128,3 minutos de voo, cobrindo uma distância de 17 quilómetros e atingindo altitudes de até 24 metros, o Ingenuity vai passar pelos os últimos testes, ver descarregados os últimos dados e imagens captadas e “descansar” para sempre na superfície do planeta vermelho.