Poucos minuto antes do arranque oficial da Lisbon Maker Faire, a segunda edição da feira em Portugal, ainda havia parafusos por apertar e cartazes a serem colados nos vidros. Afinal, estavamos na casa dos makers e ver a equipa de produção meter a mão na massa era o mínimo que se esperava desta feira.

À porta um amontado de pessoas prontas para verem o que os fazedores portugueses e não só tinham preparado para a edição deste ano. Cerca de 200 a 250 pessoas estavam pacientemente à espera que o evento começasse de forma oficial, mas os números que viriam depois seriam de outra dimensão.

Até às 17 horas de ontem, 18 de setembro, estavam inscritas 13 mil pessoas. Não são presenças garantidas, mas são um bom prenúncio para o que se avizinha no resto do fim de semana. As melhores expectativas apontam para os 15 mil visitantes. E o que atrai tantas pessoas? Os cerca de 120 projetos que existem no espaço do Pavilhão do Conhecimento, como salientou o diretor-geral do SAPO, Celso Martinho.

Projetos esses que são feitos por makers, isto é, pessoas que passam da pesquisa aos atos e criam com as próprias mãos e inteligência vários produtos e serviços.

Mas afinal o que é isso de ser um fazedor? O TeK falou com cinco deles, sendo que um é especial: Sabrina Melro, a própria cofundadora do conceito da Maker Faire, aquele que é até à data o seu projeto de maior impacto. Mas certamente não o único.

“Já fiz muitas coisas diferentes, acho que não tenho uma coisa específica que faça uma e outra vez. Já trabalhei em robótica de larga escala, depois tornei-me numa eletricista durante uns tempos. Mas agora como passo muito tempo nas Maker Faires e tenho dois filhos, passo mais o meu tempo a cultivar comida, tenho um grande jardim.. e também faço alguma joalharia”, confessou a norte-americana.

E ninguém melhor do que a própria Sabrina Merlo para explicar o que é afinal ser um fazedor e por que razão este movimento tem crescido um pouco por todo o mundo.

“Ser um maker é apenas sobre fazer as coisas. O que é que te faz mais feliz: ir às compras ou fazer as coisas? Sinto que o nível de relacionamento e de contentamento é maior quando fazes algo. E não interessa o quê. Pode ser um robot ou uma sopa de tomate, realmente não importa. Mas o processo acaba por ser gratificante e portanto todos são makers. O nível de intenção e o tempo que gastas a aprender, a tentar coisas novas, isso leva-te mais à frente”.

No fazer é que está o ganho
A edição deste ano da feira retrata de facto a ideia que a responsável da Maker Faire passou. Ser maker não se trata apenas de criar algo de base tecnológica. Pode ser de tudo um pouco e isso viu-se em várias bancas que apresentavam construções em madeira por exemplo.

Havia também um outro stand dedicado apenas ao fabrico de pranchas de surf “em direto”. Mais fazedor do que isto não há.

Mas o TeK acabou por bater à porta de alguns criadores que decidiram trabalhar sobre a tecnologia para criarem algo diferente. Paulo Domingos, informático de 43 anos, considera que “um maker é um pouco de artesão, criatividade e imaginação”. Depois é construir algo diferente, algo que a gente queira ter”.

No caso do Paulo o projeto é uma caixa de correio inteligente. Sempre que cai uma nova carta no correio, o utilizador é notificado e ainda recebe uma imagem que ajuda logo a perceber quem é o remetente e de que é que se pode tratar a correspondência.

Já para Tânia Ribeiro, uma jovem nortenha, “não é preciso muito para ser um maker”. “É só ter espírito de iniciativa e as ideias por mais corriqueiras que possam ser, resultam sempre em alguma coisa. Ser maker tem a ver com gostos pessoais e com as motivações de cada um”.

Depois de uma fase de “estudo”, seguiram-se três semanas de impressão 3D a uma média de 12 horas por dia. O resultado final é uma “caixa mágica” que cria imagens de realidade aumentada a partir de um cartão e do desenho que lá estiver impresso.

Um projeto mais demorado - cerca de três meses na sua construção - pertence ao FabLab Évora. Na prática criaram uma versão mecânica do xadrez da saga Harry Potter no qual basta dizer à peça para se mover, que tal acontece.

Mas em vez de recorrerem à magia, recorreram a conhecimentos de programação e APIs conhecidos - como o do Google Tradutor - para criar uma peça única na feira. “Jogar. G7 para G5”, disse João Rodrigues, de 24 anos. E a peça lá foi.

“Antes de mais, para se ser um maker é preciso ter conhecimento. E ter força de vontade de querer conhecer e saber. Depois de querer saber, é ter vontade para fazer. Hoje em dia conseguimos pesquisar na Internet e só de pesquisarmos, conseguimos ter conhecimento para fazer qualquer coisa”, considera o investigador. Entretanto já o adversário agarrou no microfone e fez a sua jogada, movendo-se a peça pelo tabuleiro sem que ninguém lhe toque.

E se a experiência portuguesa ainda não é a maior - no final de contas esta é apenas a segunda edição da Maker Faire -, Michael Zbyszynski, de São Francisco, nos EUA, já traz mais feiras na bagagem.

“A essência envolve procurar soluções para os problemas das pessoas, para os seus desejos e que não estão na prateleira, que não são pré-fabricadas. Eu não vou comprar aquilo que me faz feliz. Eu vou montar aquilo que me faz feliz. E isso tanto pode ser ciência, eletrónica ou trabalhos em madeira. Há muitas maneiras de abordar o tema. Mas a mentalidade é a de abordar o problema e encontrar uma solução em vez de esperar por ela”.

Para quem já viu muitas Maker Faire, o elemento da startup Rapid Mix considera que a versão portuguesa é mais sossegada e isso não tem obrigatoriamente uma conotação negativa.

“Sou de São Francisco, já estive em muitas Maker Faire. Elas são muito grandes e cheias de gente. No ano passado estive ao lado de um Tesla Coil de 20 metros e quando ia começar a minha palestra aquilo começou a funcionar… Isto aqui é mais intimista e sinto que posso falar com as pessoas”.

Enquanto passeei pela feira o interesse das pessoas pelos projetos foi notório. Mas isto foi só o começo. Hoje e amanhã até ao final da tarde as portas da Lisbon Maker Faire continuam abertas para que todos possam descobrir os melhores makers em Portugal e, quem sabe, o fazedor que cada um tem dentro de si.

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