É conhecido como “o maior olho do mundo no céu”, dada a sua dimensão e as capacidades de alcance e detalhe que os seus componentes oferecem. Em construção no Chile, o European Extremely Large Telescope (E-ELT) vai ser quatro vezes maior do que os maiores telescópios atuais e ter um alcance 256 vezes superior ao do popular Hubble.
Deposita-se no futuro telescópio espacial a expectativa de desvendar novos mundos distantes e as suas origens, assim como a origem “deste mundo” mais próximo em que vivemos e dos objetos espaciais que nos rodeiam. O projeto do Observatório Europeu do Sul (ESO) tem um alcance temporal relativamente longo, com início da operação planeado para o ano de 2025.
“É um sistema altamente complexo, que requereu adaptação de muitas tecnologias existentes bem como o desenvolvimento de soluções novas para fazer face a problemas de engenharia como, por exemplo, a monitorização e controlo individual e integrado dos 798 espelhos do principal componente do telescópio – o sistema M1”, explicou Ricardo Armas, Business Development Director da Critical Software, em entrevista ao SAPO TEK.
A empresa portuguesa está encarregue dos processos de Verificação e Validação Independente de software do E-ELT. “Ou seja, somos a entidade independente responsável por testar e garantir que as diferentes componentes, após terem sido desenvolvidas e testadas pelas entidades responsáveis pela sua execução, estão efetivamente consistentes e livres de falhas críticas, garantindo assim que o correto funcionamento do telescópio não é comprometido”, aponta Ricardo Armas.
Atualmente, o projeto encontra-se na fase final de desenho e implementação do sistema e no começo da fase de construção das partes metálicas e integração das partes funcionais.
O responsável explica que os processos de verificação e validação independente que cabem à Critical Software irão durar, previsivelmente, até ao fim da fase de construção do telescópio, sublinhando que, pela sua natureza, as tarefas requerem períodos de espera pelos diferentes subsistemas a serem implementados pelos restantes parceiros.
“O ELT é um telescópio singular, quer pela sua dimensão e capacidade de explorar o universo mais distante, quer pelas tecnologias únicas de ótica adaptativa para correção de distorção de imagem ou pelos sistemas de aquisição de dados”, diz Ricardo Armas
O telescópio do ESO representa o máximo expoente tecnológico, tendo sido concebido para fornecer dados únicos sobre o universo mais distante, o que permitirá estudar o modelo cosmológico, com especial enfase na expansão do universo e no estudo da constante cosmológica e da matéria negra. Vai fazê-lo através de uma nova abordagem denominada “redshift drift”, já proposta nos anos 60, mas até agora limitada pela tecnologia.
“Permitirá estudar questões tão diversas como exoplanetas, testar teorias de física fundamental, o papel dos buracos negros na formação das galáxias, a validade da teoria da relatividade na fronteira dos buracos negros, o ciclo de vida das estrelas, a formação e a evolução das galáxias, entre muitos outros temas”, destaca o Business Development Director da Critical Software.
“A tentativa de compreensão do universo que nos rodeia acompanha a história humana desde o início das civilizações. O ELT é um marco neste percurso que, certamente, trará novas questões, respostas e desafios”
Para Ricardo Armas, há a necessidade de complementar os dados de observação adquiridos pelo E-ELT em comprimentos de onda nas gamas do visível e infravermelho do espectro eletromagnético com dados adquiridos por outros sistemas/sensores em outras gamas espectrais.
“O programa SKA (Square Kilometre Array), no qual a Critical Software também tem estado envolvida, é um desses sistemas complementares que, também ele, tem objetivos científicos ambiciosos, proporcionando desafios de natureza diferenciada, mas igualmente estimulantes”.
Um grande esforço que foi compensado
A participação da Critical Software no Extremely Large Telescope iniciou-se no dia 13 de dezembro de 2015, aproximadamente um ano após o telescópio ter recebido a luz verde para a sua construção no Chile e 15 anos após a adesão de Portugal ao European Southern Observatory (ESO).
“Foi o resultado de um grande esforço de desenvolvimento de negócio por parte da Critical Software, orientado pelas entidades portuguesas responsáveis pela participação de Portugal no ESO, e que culminou com o nosso sucesso num concurso extremamente competitivo e exigente, onde houve propostas de outras entidades muito relevantes dos diferentes Estados membros”, afirma Ricardo Armas.
Para a Critical Software, a relevância do projecto E-ELT está ligada sobretudo às possibilidades de desenvolvimento de capital humano, tecnologias e competências, “que poderão ser novamente aplicadas, não só em sistemas semelhantes como, por exemplo, o Square Kilometre Array - SKA, mas também transferidas para outras áreas de negócio, como os mercados de aeronáutica, defesa, ferroviário, energia ou dispositivos médicos”.
“Nos últimos anos, temos feito um grande investimento no desenvolvimento de negócio e de competências técnicas nos setores do Espaço e Ciência”, refere Ricardo Armas. A participação de Portugal no ELT, e a consequente oportunidade da Critical Software integrar o projeto, “permitiu não só alavancar as competências técnicas, mas também dar continuidade ao trabalho desenvolvido nestas áreas de conhecimento e negócio que estiveram na génese da empresa”, considera o Business Development Director da Critical Software.
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