Elegeu como conquista número um dos últimos 10 anos o cada vez maior reconhecimento do Espaço como algo bom para a sociedade e para a economia e deixou vários exemplos. Em entrevista ao SAPO TEK sobre o melhor da década 2010-2019, Chiara Manfletti, presidente da Agência Espacial Portuguesa - Portugal Space, destacou a missão Rosetta, as missões japonesas Hayabusa, os avanços significativos na ciência dos exoplanetas ou a chegada ao lado oculto da Lua.
A lista de exemplos continuou com “nomes sonantes” como Kepler, Quéops, Curiosity, ExoMars, Voyager, Copernicus ou Galileo e terminou apontando ao futuro, com a menção ao programa Space Safety, “apenas para citar um exemplo”, porque “a lista é enorme”.
“Encontraremos coisas novas incríveis. O Espaço continuará a fascinar-nos”
No meio disto tudo, Chiara Manfletti também revelou que não concorda com todas as políticas de exploração espacial, mas acredita que as opções das agências são sempre no sentido de aumentar o alcance da humanidade e não como uma tentativa de colonizar outros mundos em alternativa à Terra "condenada". Até porque crê que o Espaço pode ajudar o planeta de várias formas.
SAPO TEK: O que acha das políticas ou estratégias que as várias agências espaciais têm seguido? Como encara a tentativa de colonizar outros mundos como alternativa a uma “Terra condenada”?
Chiara Manfletti: Em termos de estratégias e políticas, foco-me mais nos benefícios do Espaço para a sociedade e na integração total do sector do espaço na economia, acho que isso é algo que vemos mais frequentemente e é um avanço muito positivo. Obviamente, também existem determinadas políticas que são mais complicadas e que nem todos os países partilham, alguns são mais agressivos que outros... Como cidadã deste mundo, não concordo com todas.
Portugal tem uma agência espacial porque o sector do Espaço ainda não está totalmente desenvolvido. Por isso precisamos de um conjunto dedicado de pessoas que atuem como uma "unidade de desenvolvimento de negócios" para o sector espacial como um todo, para promovê-lo e impulsioná-lo como um ecossistema, tanto a nível interno como fora do país, em parceria com outras nações.
Em relação à tentativa de colonizar outros mundos como uma alternativa a uma “Terra condenada", sei que às vezes se diz isso, mas não acho que as agências o persigam como um objetivo. Acho, sim, que o fazem na tentativa de aumentarem o alcance da humanidade. É claro que são coisas que se ouvem, mas não acho que seja uma boa opção, não acho que se deve colonizar outros mundos porque fizemos um mau trabalho na Terra.
“As duas coisas têm que andar de mãos dadas: a sustentabilidade do nosso planeta e a exploração de novos destinos”
SAPO TEK: O Espaço pode realmente ajudar a salvar a Terra?
Chiara Manfletti: Absolutamente. Por um lado, podemos, sem dúvida, ter atividades que monitorizam o clima: existem 50 variáveis climáticas essenciais e 26 delas só podem ser rastreadas, inteiramente, a partir do Espaço, por isso é um contributo positivo. Mais do que apenas monitorizar, podemos ter atividades mais viradas para a previsão e prevenção. Por exemplo, a previsão de desastres naturais para que possamos salvar vidas humanas, como quando sabemos que está prestes a acontecer uma erupção vulcânica. Ou a previsão de um terramoto.
Acho mesmo que dados e informação muito bem desenvolvidos dão aos decisores e à sociedade ferramentas mais fortes para decidirem como interagir da melhor forma com o planeta Terra e entre si. E é claro que a tecnologia desenvolvida através de atividades e missões espaciais também “equipou” a humanidade para interagir melhor com o ambiente que nos rodeia. Um exemplo que gosto de usar é a câmara que foi projetada para reconhecer os diferentes tons de cinza do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e que agora é usada para a deteção precoce de incêndios florestais.
SAPO TEK: E o turismo espacial? Vai ser uma realidade?
Chiara Manfletti: Sim, definitivamente acho que vai acontecer. Não tenho certeza de quando, mas vai acontecer. Não acredito que a humanidade tenha perdido a curiosidade e o desejo de seguir em frente. Também acho que é uma coisa boa se isso acontecer. Acredito igualmente que o turismo "inteligente" é algo que dá às pessoas novas perspetivas.
“Ter a visão de como a Terra é frágil do espaço é, sem dúvida, uma experiência positiva para todos”
É bom que as pessoas viajem e vejam o mundo, quão diferente é e como as diferentes sociedades vivem, as condições de vida de diferentes pessoas... Ter a visão de como a Terra é frágil do espaço é, sem dúvida, uma experiência positiva para todos. Estou ansiosa por isso.
SAPO TEK: Temos acumulado muito lixo no Espaço e ainda não arranjámos uma solução. Como é possível tratar o problema do lixo espacial?
Chiara Manfletti: Temos de aprender a lidar com os nossos resíduos. O tema da segurança espacial é muito, muito importante. Demos os primeiros passos no Space19 +, através da missão ADRIOS. Ainda há muito para definir nesse sentido, mas somos proativos. Vamos precisar de alguma estrutura regulatória, mas também é preciso avançar com a tecnologia necessária. É isso que estamos a fazer.
SAPO TEK: Portugal subscreveu a missão ADRIOS do Space19+. Que tipo de papel vamos ter?
Chiara Manfletti: Portugal contribuiu com 7,5 milhões de euros e fizemo-lo para assumir a liderança em dois subsistemas do veículo atual: o software de bordo e o subsistema de orientação, navegação e controle. Portanto, o nosso papel é importante. Esta é a primeira parte.
Um segundo aspeto é que, estando envolvidos na missão ADRIOS, mostramos a nossa preocupação com a sustentabilidade das nossas atividades e podemos usar a missão para chegar ao universo que fala a língua portuguesa e dar um exemplo positivo de como lidar com esses aspetos. A missão em si é uma contribuição, mas há um impacto que pode ir para além disso, ao envolvermo-nos.
SAPO TEK: Quais são as suas expectativas para os próximos 10 anos? O que poderá acontecer em termos de exploração espacial?
Chiara Manfletti: Encontraremos coisas novas incríveis. O Espaço continuará a fascinar-nos. Teremos missões novas fantásticas e descobriremos coisas maravilhosas com essas missões.
A Bepi Colombo chegará ao seu destino apenas para dar um exemplo. Mas existem muitas outras missões que nos darão informações sobre isso.
"No geral, o Espaço contribuirá para ações mais preditivas e preventivas"
É algo a que vamos assistir, de certeza: assistiremos a atividades mais sustentáveis no Espaço e começaremos a abordar o clima espacial e a defesa planetária, outros aspetos da segurança espacial. Teremos ainda mais ideias sobre como o Universo funciona e como o nosso sistema solar funciona. Penso que obteremos muitas, muitas respostas, mas também surgirão novas perguntas, com as coisas que entretanto descobrirmos.
SAPO TEK: Acha que poderemos encontrar vida noutros planetas na próxima década?
Chiara Manfletti: Nos próximos 10 anos teremos mais informação sobre o que torna um planeta habitável e avançaremos na ciência dos exoplanetas. Talvez 10 anos sejam um período curto porque, por exemplo, queremos ir a algumas das luas de Júpiter, onde pensamos existir sinais de vida no oceano.
Uma década pode ser pouco, mas de certeza que teremos dado os passos necessários para chegar lá em breve. E é claro que existe a ExoMars, que avançará na busca pela vida em Marte, passada ou presente.
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