Estamos prestes a regressar à Lua e temos “armas apontadas” - ou será mais próprio dizer foguetões - a Marte. Por isso (e por outros motivos), os próximos anos serão muito importantes para a exploração espacial e, ao que consta, não houve ninguém que dissesse o contrário, entre os vários intervenientes convidados a falarem sobre o assunto durante o Web Summit.

A comunidade científica poderá retirar muito das experiências que se avizinham, mas a sociedade em geral também. “Muitas pessoas perguntam porquê explorar o Espaço quando temos tantos problemas em Terra. Mas podemos aprender muito”, defende Jan Wörner.

O diretor-geral da Agência Espacial Europeia (ESA) deu exemplos: “as alterações climáticas que hoje tanto falamos na Terra foram descobertas através de exploração científica em Vénus”. Já com Marte “talvez possamos perceber o que vai acontecer ao nosso planeta”.

A Lua também tem a sua quota parte de importância como satélite natural que é, com as suas particularidades resultantes do impacto da Terra com um corpo celeste há milhões de anos, numa espécie de “arquivo” do sucedido, mas também pelo papel que vai representar como cenário de teste para destinos mais distantes.

A par da aprendizagem, o espaço tem uma outra dimensão, na opinião de Jan Wörner: o fascínio. “O fascínio é um movimento positivo no nosso cérebro. E os movimentos positivos são necessários para o futuro. Do fascínio à inspiração e depois à motivação”.

Regressar à Lua ou avançar para a Lua?

No que diz respeito às novas viagens programadas à Lua, o diretor-geral da ESA referiu na sua intervenção que não gosta da expressão “regresso”. Regressar à Lua “significa voltar atrás na história”, remetendo para as missões Apollo, “e desta vez é diferente porque várias agências espaciais em todo o mundo estão a conjugar esforços. É um trabalho de equipa, por isso vai ser ‘avançar para a Lua’”, considera.

É precisamente no “trabalho de equipa” que Kathryn Lueders, Associate Administrator of Human Exploration and Operations da NASA defende residir a maior diferença das novas missões lunares. “As missões Apolo foram maioritariamente uma resposta à Rússia (…) e hoje é como se fizéssemos todos parte da mesma equipa, é acerca de nações e indústrias fazerem isto juntas. Através dos problemas que estamos a tentar resolver estamos a criar oportunidades”, acredita.

E a par da nova exploração humana da superfície da Lua está o objetivo de estabelecer a base para destinos mais distantes. A plataforma lunar vai permitir testar infraestruturas, ambientes e sobrevivência em condições não ideais, apontou Rick Ambrose, vice-presidente executivo da Lockheed Martin Space.

“É uma altura espetacular para ‘estar’ no Espaço, com muitas oportunidades”, considera Rick Ambrose

Vinte anos de Estação Espacial Internacional (ISS) deram para aprender uma série de coisas, “tanto da perspetiva humana, como técnica e percebemos que nem sempre é fácil. Estamos preparados para ter o mesmo tipo de aprendizagem em ambiente lunar”, garante Kathryn Lueders.

Os desafios esperados no local não são poucos, desde a gestão logística à manutenção do hardware ou à garantia de continuidade de áreas criticas.  Com certeza que também será necessário resolver problemas que surjam no momento.

Neste sentido Rick Ambrose considera ser importante assegurar o desenvolvimento de uma infraestrutura digital para ajudar os astronautas e outros que estejam no Espaço, aproveitando técnicas de Inteligência Artificial (IA), machine learning e outras. “Vamos precisar de ferramentas de que os astronautas dependam para rapidamente resolverem questões que surjam. Sabemos que vai acontecer muita coisa que não chegámos a prever”.

Há outros desafios que não podem ser esquecidos. O talento é um deles

A falta de talentos também atinge “o Espaço”, sendo na opinião de Kathryn Lueders um dos maiores desafios “não técnicos” da atualidade. “Temos de continuar a ‘alimentar’ o talento para garantimos que conseguimos resolver os problemas do futuro”. E não será tanto por uma questão de dinheiro, mas mais “inspiracional”. “Temos de continuar a ter problemas entusiasmantes para serem resolvidos. Vamos precisar de atrair pessoas realmente inteligentes para nos apoiarem no nosso trabalho”.

Um outro desafio é a segurança, acrescentou Rick Ambrose, não apenas do ponto de vista dos sistemas tecnológicos, mas na vertente protocolar, nomeadamente o estabelecimento de acordos entre as várias nações para a definição de procedimentos, mecanismos e ferramentas a adotar.

“Marte e mais além não estão a dias de distância: estão a anos. Não dá para regressar rapidamente se existir algum problema”, lembra Jan Wörner

Acima de tudo, vai ser necessário criar um quadro legal para o Espaço, sublinhou Kathryn Lueders “Como engenheiros temos tendência para falar nos desafios técnicos, mas realmente também temos de criar novas leis, nova regulação, tratados, para podermos continuar a trabalhar juntos”, referiu a administradora da área de Human Exploration and Operations da NASA em jeito de remate.

Até porque a “equipa” tem tendência a crescer e até vai passar a envolver pessoas normais, quando o turismo espacial chegar, lembrou Rick Ambrose. “Os próximos 10 anos do Espaço vão ser realmente muito entusiasmantes”.

O SAPO TEK seguiu <a href="https://tek.sapo.pt/pesquisar?q=web+summit"> tudo o que se passou no Web Summit</a> e pode aceder aqui às principais notícias e intervenções com a nossa equipa.

</a>.