Foram muitos anos de preparação e afinamento da tecnologia e engenharia que permitiram que hoje a Blue Origin fizesse a sua primeira viagem ao espaço com pessoas a bordo, e os últimos meses de maior aceleração, com a confirmação de que Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo e fundador da empresa, era um dos primeiros passageiros.

Toda a missão foi afinada ao minuto, mas hoje o nervosismo estava patente nos rostos e nas vozes de todos os que acompanharam a transmissão da viagem espacial, sobretudo quando antes da partida os engenheiros decidiram suspender a contagem decrescente para uma verificação adicional. Mas mesmo com um ligeito atraso, a New Sheppard acabou por partir como era esperado, fazer o seu voo para além da linha de Kármán, a 100 km de altitude, e regressar de forma segura a Terra, pouco mais de 10 minutos depois da partida.

Os dados oficiais da missão indicam que a cápsula que transportava os astronautas atingiu os 105 Km de altitude e que a velocidade máxima durante a missão foi de 3.559 km por hora. O tempo total foi calculado oficialmente em 10 minutos e 10 segundos.

"Estou surpreendido por ter sido tão fácil", afirmou Jeff Bezos, ainda a bordo da New Sheppard enquanto aguardava os procedimentos de recuperação dos astronautas com o irmão, e os dois companheiros de viagem, Wally Funk, de 82 anos, que se tornou a pessoa mais velha a ir ao espaço, e Oliver Daemen de 18 anos.

Muitos sorrisos, gritos de alegria, abraços e champagne marcaram o momento de regresso e a felicidade com o sucesso da missão, daquele que é um primeiro passo para a abertura do Turismo espacial.

Durante a transmissão online, Gary Lai, diretor sénior do design do Blue Origin, era um dos mais nervosos, ou contidos, mas no final reconheceu que foi um sucesso. "Isto pode parecer simples hoje mas está longe de o ser", afirmou, lembrando que foi preciso desenhar um veículo espacial seguro, mas lembrou que agora é só repetir muitas vezes, com a possibilidade de levar centenas, ou milhares, de passageiros ao espaço.

Veja o vídeo da viagem de Jeff Bezos ao espaço:

Uma preparação cuidada para uma missão dificil

“Este veículo está pronto, esta tripulação está pronta, estamos a sentir-nos muito bem com isso”, afirmou ontem Jeff Bezos, durante uma entrevista na qual confessou que está animado e não muito nervoso. Mas havia razões para ter receio, naquela que é a primeira viagem tripulada da nave construída pela empresa que o patrão e fundador da Amazon criou quando já era o homem mais rico do mundo.

A missão da Blue Origin estava marcada para hoje, dia 20, com partida às 8 horas locais, no Texas, o que corresponde às 14 horas em Portugal Continental, e vai ser o primeiro voo espacial humano no foguetão suborbital New Sheppard. A transmissão online está a ser feita no site da empresa espacial e nas suas redes sociais e começou às 6h30 no Texas, 12h30 em Portugal Continental.

A equipa já completou o treino e está pronta para a viagem que os levará para fora da atmosfera da Terra. A Blue Origin partilhou a foto oficial no Twitter.

Entretanto a New Sheppard foi colocada ainda cedo na plataforma de lançamento.

É a 16ª missão da Blue Origin e a primeira com tripulação numa cápsula que pode transportar 6 astronautas e que é autónoma, não necessitando de piloto. A empresa garante que tudo está preparado para que seja um sucesso .

Gary Lai, diretor sénior do design do Blue Origin, explica que a diferença entre este voo e os anteriores dois testes tripulados (que utiliza os mesmos procedimentos, a mesma cápsula e hardware) é que em vez dos astronautas saírem da cápsula no último minuto, a tripulação vai manter-se e apreciar a viagem no espaço. Gary Lai afirma que todas as condições de segurança foram reunidas, baseado nos anteriores 15 voos de teste, mas acima de tudo "nos inúmeros testes que foram feitos ao veículo e os seus componentes no solo e em condições ainda mais adversas". Depois de definir quais as condições normais para o voo, a equipa puxou pelos limites e testou para além do normal "até partir". E por isso, a empresa quando diz que o voo é seguro, é porque sabe os limites da sua nave espacial, afirma o designer, que está na Blue Origin desde o início do programa espacial.

Cerca de 45 minutos antes do voo, Jeff Bezos e restante tripulação foram levados para a nave espacial num jipe, uma partida aplaudida pelo staff e outras pessoas que estavam no local. Entre muitas paragens para selfies, o grupo foi subindo a pé a escadaria do suporte que dá acesso à cápsula Blue Origin, e quase meia hora antes do grande momento não se registaram "desistências". E antes de entrar na cápsula, um a um, os passageiros tocaram o sino cerimonial, num gesto simbólico.

A 22 minutos do grande momento para a empresa de Jeff Bezos, deu-se início aos procedimentos finais, com toda a equipa sentada nos seus lugares e preparados para a grande viagem. Aos 20 minutos fechou-se a porta, verificaram-se os selos de pressão, antes da equipa ficar sozinha para a preparação do "count down". A mensagem da empresa é que os passageiros já estão sentados nos seus lugares e com os cintos apertados. Recorde-se que esta viagem não tem pilotos, e é completamente autónoma.

Faltavam 15 minutos para a hora prevista para a partida quando os engenheiros decidiram parar o relógio, por uma razão não divulgada, mas o countdaow voltou ao normal depois de uma suspensão de cerca de 8 minuto.

A equipa de missão já deu a luz verde, o esperado "Go" que confirma que tudo está preparado. Quando o contador chegou ao zero foram ligados os motores, e alguns segundos depois o foguetão começou a sua ascensão. Dois minutos e meio depois a cápsula separou-se do lançador e o voo atingiu o seu apogeu, enquanto os passageiros puderam experimentar os seus 3 minutos de gravidade zero.

Depois foi a vez de começar o regresso à Terra, com a cápsula numa queda controlada. mas a ultrapassar as duas milhas por hora. O lançador também está de regresso, numa aproximação controlada para aterragem no mesmo local de onde levantou voo, 7 minutos e 32 segundos depois.

Sem imagens do que se passava a bordo, ouviram-se apenas os comentários e gritos entusiasmados dos passageiros, com Jeff Bezos a dizer que foi o melhor dia de sempre.

A cápsula aterrou no deserto 10 minutos e 15 segundos depois do início do voo, uma experiência que os passageiros dizem que foi incrivel.

Veja imagens da missão da Blue Origin

Bilionários espaciais

Muitos olhos estavam colocados na missão, mesmo depois de Richard Branson lhe ter tirado a primazia de ser o primeiro bilionário no espaço. Outros se seguirão certamente, e há já uma lista de interessados em viagens turísticas espaciais, mesmo que estas acabem por ser de muito curta duração.

O dono da Virgin Galactic fez um voo de 90 minutos no avião espacial, dos quais apenas cerca de 4 minutos em gravidade zero, fora da atmosfera. A missão de Jeff Bezos deverá ser muito mais curta, de apenas 11 minutos no total e também cerca de 3 minutos verdadeiramente no espaço, mas o método de lançamento e regresso é bastante diferente da aventura de Richard Branson, com uma cápsula lançada com um foguetão e regresso com a ajuda de um paraquedas, mais próximo do que fazem os astronautas e cosmonautas.

Ainda assim o debate mantém-se sobre quem chega verdadeiramente ao espaço, mesmo que por poucos minutos, já que existem duas considerações diferentes sobre qual a altitude necessária para ser considerado que um veículo sai da atmosfera. Uma das métricas é definida pela linha de Kármán, a 100 km de altitude, que a Blue Origin garante que é a que conta, mas a NASA e a Federal Aviation Administration colocam a fasquia mais abaixo, nas 50 milhas de altitude, o que corresponde a cerca de 82 km, um indicador que tem sido usado pela Virgin Galactic nas suas missões.

Uma infografia do Finantial Times mostra a diferença entre as duas missões. Clique nas imagens para ver mais detalhes

Uma viagem carregada de simbolismo

Tudo parece ter sido escolhido a dedo para uma viagem carregada de simbolismo. Para além da data que assinala o 52º aniversário dos primeiros passos dos astronautas da Apollo 11 na Lua, o nome da nave, New Sheppard, foi escolhido em homenagem a Alan Shepard, o primeiro americano no espaço em 1961.

Jeff Bezos confessou que várias pessoas o desaconselharam de fazer a viagem, mas não desistiu, mesmo depois do primeiro turista que tinha pago para comprar um bilhete, numa licitação que custou mais de 29 milhões de dólares, ter evocado um "conflito de agenda" para não partir nesta missão.

Quem parece não ter medo é a convidada de honra deste voo, Wally Funk, de 82 anos, que concretiza também um sonho antigo. Em 1960 treinou como astronauta num projeto semi-oficial Mercury 13, mas na altura a política da NASA determinava que só os homens podiam fazer viagens espaciais. Se tudo correr bem, vai ultrapassar o recorde de John Glenn, que foi o primeiro americano a orbitar a Terra em 1962, mas que voltou a uma missão espacial em 1999, a bordo do Discovery, quando já tinha 77 anos.

A identidade do outro passageiro, que pagou bilhete,  foi revelada só há pouco tempo e não é muito clara a razão pela qual Oliver Daemen, dos Países Baixos, foi selecionado para integrar a missão. O jovem de 18 anos é filho do presidente-executivo de uma empresa de private equity e já tinha comprado bilhete para voo futuro, mas acabou por se juntar a este voo inaugural depois da desistência do outro passageiro que permanece anónimo.

Este é o primeiro passo da empresa que conta levar centenas de pessoas ao espaço num futuro próximo, e há duas missões já planeadas para este ano.

Nota da Redação. Esta notícia esteve em atualização permanente. O SAPO TEK acompanhou em direto esta viagem. Última atualização 14h54

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