Os resultados da experiência, que produziu por sete vezes oxigénio numa quantidade por hora equivalente à gerada por uma árvore pequena na Terra, são descritos num artigo publicado na revista científica Science Advances.

Marte, o planeta para onde os Estados Unidos ambicionam levar astronautas na década de 2030, tem uma atmosfera fina rica em dióxido de carbono, o que o torna num planeta irrespirável ara humanos.

Um dos instrumentos a bordo do veículo robótico Perseverance (Perseverança, em português), que a agência espacial norte-americana (NASA) fez pousar em Marte a 18 de fevereiro de 2021, conseguiu produzir oxigénio respirável durante o dia e a noite e durante as várias estações marcianas.

O instrumento, do tamanho de uma lancheira e que tem a designação de Moxie (cujas iniciais da palavra remetem para a experiência), permitiu demonstrar pela primeira vez que é possível usar recursos de um planeta (no caso dióxido de carbono) para produzir no local recursos (oxigénio) que, de outro modo, têm de ser transportados da Terra.

Instrumento MOXIE | Perseverance | NASA
Instrumento MOXIE | Perseverance | NASA NASA/JPL-Caltech

Segundo os cientistas, uma versão melhorada e maior do Moxie poderia ser enviada para Marte, antes de uma missão humana, para produzir continuamente oxigénio equivalente à gerada por várias centenas de árvores.

Amostras recolhidas pelo rover Perseverance em Marte podem chegar à Terra em 2033
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Com essa capacidade, o instrumento poderia gerar oxigénio suficiente para sustentar uma instalação habitada em Marte e para produzir combustível para o regresso de astronautas à Terra, de acordo com um comunicado do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, que participa na experiência.

A versão atual do Moxie foi construída para caber no interior do robot Perseverance e para funcionar por curtos períodos de tempo, ligando e desligando em cada experiência.

O instrumento foi ligado remotamente sete vezes ao longo do ano marciano (um ano em Marte tem 687 dias, o correspondente a quase dois anos na Terra). De cada vez que era ligado, o aparelho levava algumas horas a aquecer e depois uma hora para produzir oxigénio antes de ser desligado.

Veja as imagens do robot Perseverance

Na experiência, o ar marciano foi filtrado, pressurizado e conduzido para um outro instrumento que divide eletroquimicamente o ar rico em dióxido de carbono em iões de oxigénio e monóxido de carbono.

Os iões de oxigénio foram depois isolados e recombinados para formar oxigénio molecular respirável, que o Moxie mede em quantidade e pureza antes de libertá-lo, sem efeitos nocivos, para o ar, juntamente com monóxido de carbono e outros gases.

Os cientistas pretendem testar as potencialidades do instrumento ao amanhecer e ao anoitecer, quando a temperatura em Marte muda substancialmente, e na primavera, quando a densidade atmosférica e os níveis de dióxido de carbono são elevados.