Sem grandes detalhes sobre os documentos propriamente ditos, que ainda não são públicos, a Estratégia Digital 2030 e os três documentos que a integram (de Inteligência Artificial, Dados e Web 3.0) estiveram no centro de um debate no 33º Congresso da APDC. Arlindo Oliveira, que coordenou a estratégia a convite do então secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo, afirmou que a Estratégia já foi entregue ao Governo, mas alerta que para ser implementada é necessário que sejam alocados recursos financeiros e humanos e também garantidas ferramentas para as organizações.

No debate participaram também os coordenadores responsáveis pelos vários documentos, Graça Canto Moniz, da estratégia de Dados, Miguel Pupo Correia, da estratégia Web 3.0 e João Gama, da estratégia de Inteligência Artificial, que sem falarem em detalhe das propostas explicaram os procedimentos e os desafios de cada uma das áreas e deixaram também avisos para a necessidade de investimento.

Arlindo Oliveira fez uma introdução ao debate onde sublinhou que os trabalhos decorreram durante cerca de 9 meses, até janeiro deste ano, e que "foi feito como deve ser", com recursos, equipa e orçamento alocado ao desenvolvimento da iniciativa. Recorde-se que o projeto arrancou no primeiro semestre de 2023, para desenho e construção das estratégia de Dados e Web 3.0, assim como a revisão da estratégia nacional de Inteligência Artificial, mas que os documentos produzidos ainda não foram divulgados.

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Dados, Web 3.0 e Inteligência Artificial: estão definidos os coordenadores da construção e revisão das estratégias nacionais
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Segundo o professor do Instituto Superior Técnico e presidente do INESC, que coordenou a estratégia, foram auscultados mais de 40 especialistas e analisados mais de 300 contributos, mas também foram ouvidas mais de 3 dezenas de empresas e avaliadas centenas de contribuições. Juntou-se a esta informação a análise dos documento de estratégias relacionadas na Europa, e em países e territórios específicos, como a Espanha, Coreia do Sul, Singapura e Nova Iorque.

Daqui resultaram três planos de ação, que foram entregues a Mário Campolargo que os entregou ao novo Governo, eleito em Março deste ano. Segundo Arlindo Oliveira, "o novo Governo já deu conta da intenção de dar continuidade", mas ainda não são conhecidos desenvolvimentos.

"Temos os documentos, estão associados os planos de ação, mas não basta estratégia a planos de ação [...] será absolutamente necessário alocar orçamento a cada uma das estratégias", defende Arlindo Oliveira.

Só isso pode evitar que aconteça "o que acontece em Portugal muitas vezes. Temos boas ideias e bons documentos mas não temos recursos". E "é isso que nos falta", admite.

Durante o debate, os coordenadores das várias áreas realçaram a forma como Portugal se tem posicionado nos Dados, na Web 3.0 e na Inteligência Artificial, e onde o potencial das empresas não foi esquecido, assim como a necessidade de acesso a dados em vários sectores, o desenvolvimento da língua portuguesa para a IA e de condições de enquadramento de uma comunidade ligada à Web 3.0 que se fixou em Portugal.

Graça Canto Moniz adianta ainda que as três estratégias que foram definidas estão interligadas e têm preocupações comuns, como o impacto que estas tecnologias podem ter nos cidadãos. "As estratégias trabalham muito as pessoas, o conhecimento que têm das tecnologias e o que podem e não podem fazer", temas que diz estarem ligados à literacia digital.

Estratégias para resolver problemas de produtividade e Recursos Humanos

Para Arlindo Oliveira as estratégias que foram alinhadas nas várias áreas têm potencial para ajudar a resolver os dois principais problemas de Portugal, que identifica como a produtividade, e a necessidade de sermos mais produtivos, e os Recursos Humanos. "A produtividade aumenta-se com inovação e estas tecnologias são fundamentais", avisa, lembrando que os dados são o motor da sociedade e que a inteligência artificial tem o potencial de tornar as organizações mais produtivas, com processos bem alinhados.

Mesmo assim admite que ainda falta consciência do potencial que existe, mesmo a nível político, alertando que continuamos a levantar barreiras que diminuem a produtividade. O professor dá como exemplo as barreiras à fraude, um problema que admite ter um impacto inferior a 1% na economia, mas que leva à criação de documentos e formulários como o RCBE que diz ser uma "péssima ideia". "São barreiras burocráticas que praticamente não têm efeito na redução da corrupção mas têm um impacto enorme na produtividade das pessoas", sublinha.

E onde podem os documentos da Estratégia Digital contribuir para a mudança? Arlindo Oliveira aponta três áreas, com a implementação e o que as empresas podem fazer com a IA e dados, e a implementação distribuída em Web 3, mas também a capacitação e a governação. Mais crucial são os recursos. É preciso vontade política, reconhece, mas essa diz que nunca falta em Portugal.

"Em Portugal há sempre vontade política, depois não há capacidade. Precisamos de dar recursos, orçamentos , ferramentas", avisa Arlindo Oliveira.

A ideia foi acompanhada por Graça Canto Moniz e João Gama, com Miguel Pupo Correia a acrescentar que na área da Web 3.o é preciso tapar os ouvidos ao ruído, que é imenso, e às fraudes e mentiras de que a Web 3 vai resolver todos os problemas do mundo, e abrir os ouvidos aos benefícios que existem.

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