A Gartner identificou um conjunto de desafios ocultos que podem comprometer o retorno dos investimentos das empresas em inteligência artificial. Nesta lista de riscos, a consultora inclui a IA oculta, a dívida técnica, a erosão de competências, exigências de soberania de dados impostas pelos países, problemas de interoperabilidade e dependência de fornecedores. Estima que, até 2030, estes aspetos vão contribuir para marcar a diferença entre “empresas que escalam a IA de forma segura e estratégica e aquelas que ficam presas, ultrapassadas ou perturbadas internamente”.

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A apoiar as previsões estão alguns números recolhidos pela consultora nos últimos meses. Uma pesquisa realizada entre março e maio (com 302 líderes em segurança digital) revelou que 69% das organizações suspeitam ou têm evidências de que os funcionários estão a usar GenAI abertas não autorizadas.

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Em 2030, a Gartner acredita que este tipo de práticas terão contribuído para que 40% das empresas sofram incidentes de segurança ou conformidade, relacionados com a IA paralela não autorizada. Estas práticas abrem caminho à perda de propriedade intelectual, exposição de dados e aumento dos riscos de segurança, destaca-se.

Aconselha-se que as empresas definam políticas claras para o uso de ferramentas de IA, realizarem auditorias regulares para atividades de IA paralelas e incorporarem a avaliação de risco de GenAI nos seus processos de avaliação de SaaS.

A Gartner antecipa ainda que, até 2030, 50% das empresas vão enfrentar atrasos nas atualizações de IA e/ou aumento dos custos de manutenção, por causa da dívida técnica não gerida de GenAI. Será o custo a pagar por dar prioridade à rapidez, sacrificando a documentação detalhada de ativos e o rastreamento de métricas de forma eficaz que teriam ajudado a evitar correções de trajetória caras mais à frente.

A consultora acredita ainda que o tema da soberania tecnológica será cada vez mais relevante e que, até 2028, 65% dos governos a nível global vão introduzir requisitos deste tipo para melhorar a independência e protegerem-se contra interferências regulatórias extraterritoriais.

“As restrições regulatórias à partilha transfronteiriça de dados ou de modelos podem retardar as implementações de IA em toda a empresa, aumentar o custo total de propriedade (TCO) e conduzir a resultados abaixo do ideal”, alerta a Gartner.

Para se protegerem, as empresas devem incorporar a soberania de dados nas suas estratégias de IA desde o início, dando prioridade a fornecedores que atendam a esses requisitos, recomenda a consultora.

Fica ainda um aviso às organizações para o risco de “dependência excessiva da IA, que pode corroer a experiência humana crítica, a análise e o conhecimento tácito que não são facilmente transformados em código ou substituíveis”. Se a IA falhar, as empresas vão continuar a precisar de funcionar e o conhecimento humano vai ser essencial para isso, alerta-se. Nas áreas críticas, a IA deve complementar e acrescentar e não substituir.

Recomenda-se ainda que as empresas deem prioridade a “padrões abertos, APIs abertas e arquiteturas modulares” e tornem a interoperabilidade norma, para todos os desenvolvimentos de IA. A pressa de avançar rápido na tecnologia nem sempre está a deixar espaço para acautelar estes temas, que mais à frente podem ter custos elevados.

Estes desafios, explica ainda a consultora, decorrem de “riscos negligenciados e consequências indesejadas da adoção da IA generativa”, que têm de ser endereçados para não se traduzirem em falhas nos projetos em curso, nem comprometerem o seu valor no futuro.

“As tecnologias e técnicas de GenAI estão a evoluir a um ritmo sem precedentes, acompanhado apenas pelo entusiasmo que as rodeia, o que torna difícil para os CIOs navegar neste cenário dinâmico”, reconhece Arun Chandrasekaran, vice-presidente e analista da Gartner, citado num comunicado.

As organizações têm tendência a concentrar atenções nos desafios imediatos da GenAI, como o valor comercial dos projetos, a segurança ou a preparação de dados. Enquanto isso, ignoram aspetos que não são visíveis numa primeira análise, mas podem comprometer os pontos mais valorizados.

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